A babá do meu filho
img img A babá do meu filho img Capítulo 1 A babá
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Capítulo 6 Cativeiro img
Capítulo 7 Eu te odeio img
Capítulo 8 Ela não é confiável img
Capítulo 9 O desaparecimento img
Capítulo 10 Você me abandonou img
Capítulo 11 Desafeto img
Capítulo 12 Não toquem nela! img
Capítulo 13 O resgate img
Capítulo 14 O meu lugar img
Capítulo 15 Verdade amarga img
Capítulo 16 Deixa eu te tocar img
Capítulo 17 Homem cruel img
Capítulo 18 A próxima vítima img
Capítulo 19 Ardiloso img
Capítulo 20 Ele não está aqui img
Capítulo 21 O código img
Capítulo 22 Uma ótima mãe img
Capítulo 23 Quero ouvir você gemer img
Capítulo 24 Prometa que vai voltar img
Capítulo 25 Vamos conversar img
Capítulo 26 O submundo img
Capítulo 27 Uma concussão img
Capítulo 28 Redenção img
Capítulo 29 O casamento img
Capítulo 30 Epílogo img
Capítulo 31 O Bastardo img
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A babá do meu filho

Yana _ Shadow
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Capítulo 1 A babá

Lourmarin era uma vila encantadora por fora para muitos turistas que por ali passavam, mas cruel para a jovem grega que não tinha para onde fugir com o filho.

As casas de pedra antiga ficavam com janelas sempre entreabertas, deixando escapar uma calma que só incomodava quem carregava o coração em ruínas. O silêncio constante era interrompido apenas pelo som de sinos ao longe.

Apesar da beleza ancestral de Lourmarin, nada conseguia abrandar o ar sombrio que pairava sobre a propriedade de Apolo Velentzas.

A luxuosa construção de dois andares ficava a cinco minutos a pé do centro e envolta por ciprestes altos que cercavam aquele amplo terreno arborizado, com gramado verde bem aparado e um belo jardim. Dentro dela, o som seco do relógio de parede ecoava pelo salão principal.

Apolo estava imóvel diante da janela ampla. Os ombros largos cobertos por uma camisa de linho cinza estavam levemente curvados, e a muleta repousava ao lado da poltrona, como um animal de estimação indesejado. Desde que começou a fisioterapia, ele andava com ela, mas o que realmente o sustentava era a raiva.

Atrás dele, Perséfone estava sentada com os ombros encolhidos no sofá de couro escuro. As pernas cruzadas com rigidez e os dedos trêmulos repousando sobre os joelhos. Seus olhos continuavam fixos na lareira apagada.

- Tentou fugir com meu filho de novo? - A voz de Apolo tinha um timbre rouco, mastigado pela raiva mal digerida.

Ela estremeceu. O som da pergunta não a surpreendeu, mas a forma com que ele a teceu, sim. Manteve o olhar estático e respondeu com um sussurro:

- Não.

Horas antes, ela tinha ido buscar o filho na escola. Perséfone tinha o intuito de pedir ajuda a uma das professoras, mas foi contida pelo segurança que a pegou pelo braço antes que ela pudesse ter acesso ao corpo docente. Quando foi levada de volta para o Peugeot, sentou sem relutância. Logo, outro segurança apareceu e entregou Ícaro para a mãe. Ela ajeitou o filho no colo. Deu uma rápida olhada pela janela e então viu o chefe de segurança falando com alguém no celular. Era óbvio que Jean estava contando tudo para Apolo.

- Da próxima vez, você nunca mais vai ver Ícaro. - Apolo advertiu bruscamente, despertando-a de seus pensamentos.

Apolo girou levemente o tronco. O contato da muleta com o chão produziu um ruído metálico e áspero enquanto ele mancava até ela.

- Entendeu? - Esbravejou.

Os ombros de Perséfone enrijeceram, o queixo inclinou-se quase imperceptivelmente e ela se encolheu como quem se protege de um golpe.

- Sim.

Fechando os olhos por um instante, Perséfone engoliu em seco. A imagem da última tentativa ainda pulsava em sua memória - o aperto firme do guarda-costas no braço que a puxava de volta para dentro do carro.

- O jantar está servido, senhor! - Uma das funcionárias murmurou com a voz embargada.

- Não estou com fome... - Apolo vociferou asperamente.

Ele virou o rosto para a janela, onde tons dourados cruzavam o céu no fim da tarde. Caminhou em direção à porta com passos medidos, sem olhar para trás. No limiar, Apolo olhou sobre o ombro direito por alguns segundos, mas não disse nada. Retomou o caminho da saída, deixando-a dispersa em seus pensamentos.

- Perséfone, já preparei a refeição do Ícaro. - A governanta comunicou gentilmente. - Quer que sirva na sala de refeições?

- Não. Obrigada! Vamos comer na cozinha.

Mais tarde, Ícaro adormeceu depois que Perséfone leu a história do Pequeno Polegar. Cuidadosamente, ela puxou o cobertor estampado com imagens do Homem-Aranha e cobriu o menino.

Antes de dormir, ela vasculhou a mochila do filho, procurando o bilhete que tinha deixado no caderno de Ícaro. No fundo, ela tinha esperança de que a professora visse o seu pedido de ajuda. Perséfone revirou as folhas, pegou os livros e olhou as páginas, vasculhou toda a mochila e nada.

Os batimentos cardíacos aceleraram e as palmas de suas mãos já estavam suando. Se Apolo soubesse daquele bilhete, ele a colocaria para fora daquela casa.

A manhã seguinte chegou com um som invasivo demais.

O som de risos femininos continuou ecoando pelo corredor principal. Perséfone saltou da cama e parou ao lado da porta do quarto de Ícaro. Sentiu o estômago revirar antes mesmo de ter coragem de espiar. O seu coração errou uma batida quando os toques fortes na porta ecoaram do outro lado do corredor.

- Quem é, mamãe? - Ícaro sentou na cama, coçando os olhinhos após perguntar.

- Deve ser o seu pai!

Cuidadosamente, Perséfone abriu a porta e avistou o homem com ar entediado e provocador.

Apolo exibia a visitante como se fosse uma nova aquisição. Ao lado dele, a mulher de pele de porcelana, cabelos platinados, sorriu. A saia envelope que perfazia a sua curva esguia ia até o joelho. O blazer feminino se ajustava ao seu abdômen reto. Antes que Perséfone pudesse sequer pensar em falar alguma coisa, Apolo antecipou-se:

- Essa é a Perséfone. Ela é a babá do meu filho.

O impacto daquela frase foi tão violento que, por um momento, tudo ao redor pareceu perder a cor. O coração bateu com fúria, as mãos suaram, e mesmo assim, Perséfone não o contradisse.

- Enchanté, je m'appelle Léa! - A francesa se apresentou.

- Perséfone não fala francês. - Apolo disse com desdém.

- Ah... - a mulher murmurou com um sorrisinho falso. - Então você cuida do pequeno? Que adorável... Meu nome é Léa Roux.

Perséfone assentiu, sem cair na armadilha cruel de Apolo.

- Professora Roux! - A voz sonolenta de Ícaro falou assim que o menino surgiu na porta.

Os cílios de Perséfone tremeluziram ao olhar do filho de pijama azul para Apolo.

- A partir de hoje, a madame Roux virá dar aulas para você em casa, campeão. - O humor do homem, que habitualmente era frio e rancoroso, suavizou quando contou ao filho. - Vá se arrumar! - Afagou os cabelos do garotinho. - Vou tomar café com a madame Roux antes da aula. Não se atrase! - Desta vez, Apolo engrossou a voz ao se dirigir a Perséfone.

Léa continuou esboçando aquele sorriso bem alinhado.

- Venha comigo, madame Roux.

Quando ambos se foram, Perséfone entrou no quarto. Fechou a porta e agachou-se na altura da criança.

- Está triste, mamãe? - Curioso ao ver o olhar caído de Perséfone, Ícaro perguntou.

- Não, meu anjo! - Ela forçou o riso após negar. - Vai lá escovar os dentes... já vou pegar a sua roupa.

Embora se esforçasse para manter a aparência diante do filho, por dentro, estava aos cacos.

"Será que essa professora encontrou o bilhete e mostrou para o Apolo?" Pensou, enquanto organizava o material escolar do menino.

Lágrimas verteram do canto de seus olhos quando olhou a luz acesa que vinha do banheiro, onde o filho fazia a assepsia matinal. Não sabia se veria Ícaro outra vez depois do café da manhã com Apolo e Léa.

            
            

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