Queimar o Império Dele Pela Minha Irmã
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Capítulo 2

Ponto de Vista de Júlia Campos:

Não foi algo de uma vez só. A percepção se instalou em meus ossos como um frio permanente. Leo priorizar Bárbara havia se tornado seu novo normal.

Lembrei-me do leilão de caridade há dois meses. Ele gastou cinco milhões de reais em um colar de diamantes para ela, uma joia que ela ostentou nas redes sociais no dia seguinte. Enquanto isso, o tratamento experimental que os médicos de Clara haviam recomendado, um tratamento não totalmente coberto pelo plano de saúde, era um custo que Leo havia descartado como "um investimento arriscado demais".

Lembrei-me do negócio de terras no Vale dos Vinhedos. Ele desistiu de um lucro multimilionário porque Bárbara mencionou casualmente que achava que as colinas seriam um lugar perfeito para um vinhedo um dia, e ela não queria que fosse estragado por um empreendimento comercial. Ele sacrificou o lucro de sua própria empresa pelo capricho dela.

Todos os pequenos cortes e desprezos que eu havia ignorado, justificado, agora se alinhavam como soldados, apontando suas baionetas diretamente para o meu coração.

Fiz um pequeno e privado velório para Clara. Apenas eu e alguns de seus amigos da faculdade de artes. Espalhamos suas cinzas no roseiral do jardim botânico local, seu lugar favorito. O ar estava doce com o cheiro de flores desabrochando, um contraste enjoativo com o gosto amargo do luto em minha boca. Meu celular vibrou no meu bolso. Uma mensagem de um número que eu não reconheci.

Era Leo.

"Júlia, eu sinto muito. Acabei de saber. Minha assistente não me contou. Estou voltando agora. Precisamos conversar."

Acabou de saber? Minha irmã estava morta há uma semana. A notícia havia sido uma pequena e trágica nota de rodapé no jornal local. Ele não soube porque não estava procurando. Ele não se importou o suficiente para verificar. O pedido de desculpas era um gesto oco e sem sentido, tão vazio quanto as promessas que ele um dia fez.

Ele ligou momentos depois. Deixei tocar, mas ele foi persistente. Finalmente, atendi, minha voz desprovida de qualquer emoção.

"O que você quer, Leo?"

"Júlia, meu bem, eu sinto muito, muito mesmo pela Clara", ele começou, sua voz carregada com uma atuação de luto. "Não consigo imaginar o que você está passando."

"Não consegue?", perguntei, uma risada fria e aguda escapando dos meus lábios. "Foi você quem desviou o helicóptero, Leo. Você fez sua escolha."

"Não foi assim", ele disse, sua voz instantaneamente defensiva. "O cachorro da Bárbara, ele... ele estava muito doente. Era uma emergência."

"Ele comeu chocolate, Leo. Minha irmã estava morrendo." Minha voz era plana, cada palavra um pedaço de gelo afiado. "Me diga, em que mundo a dor de estômago de um cachorro é uma emergência maior do que um coração humano falhando?"

Ele gaguejou. "Eu... eu não pensei... a Bárbara estava histérica, ela..."

E lá estava de novo. Aquela voz suave e enjoativa ao fundo, sussurrando o nome dele. "Leo, meu amor, com quem você está falando? Está tudo bem?"

O som dela era como gasolina nas brasas da minha fúria.

"Eu tenho que ir", eu disse, minha voz tremendo de raiva.

"Júlia, espere-"

Eu desliguei. Não ouviria mais um segundo de suas mentiras, não com a voz dela envenenando o ar entre nós.

Minha mão foi para a gaveta da minha escrivaninha. Puxei um envelope pardo grosso. Dentro estavam os papéis do divórcio que meu advogado havia preparado meses atrás, durante um momento fugaz de clareza depois que suspeitei pela primeira vez de seu caso. Eu nunca tive coragem de assiná-los. Eu ainda o amava então. Eu ainda tinha esperança.

Esperança era um luxo de tolos.

Lembrei-me de estar sentada em seu escritório elegante, com as luzes da cidade piscando lá embaixo, quando ele me apresentou nossa "certidão de casamento" anos atrás. Ele disse que era uma cerimônia privada, só para nós, para manter as coisas simples e fora dos olhos do público enquanto seus negócios estavam em uma fase delicada. Eu, estúpida e confiante, acreditei nele. Assinei onde ele me disse para assinar, meu coração transbordando de amor.

Agora, minha mão estava firme enquanto eu destampava uma caneta. A assinatura era nítida, raivosa. Um fim definitivo.

Escaneei o documento assinado e o enviei por e-mail para meu advogado com uma mensagem simples: "Dê entrada. Imediatamente."

Alguns dias depois, dirigi até a casa. O castelo que ele construiu para mim. Não era mais meu lar. Era apenas um prédio cheio de fantasmas e promessas quebradas. Só voltei por um motivo: as pinturas de Clara. Ela havia guardado seus primeiros trabalhos no sótão, e eu não suportava a ideia de que fossem perdidos ou jogados fora.

Estacionei na rua de baixo, meu coração batendo um ritmo nervoso contra minhas costelas. Enquanto me aproximava a pé, vi o carro dele, um carro esporte baixo e obscenamente caro, estacionado na entrada. Meu estômago se revirou.

Entrei pelo portão dos fundos, usando a chave que ainda tinha. Eu só queria pegar as coisas de Clara e sair sem um confronto. Andei furtivamente pela lateral da casa, meus passos silenciosos no gramado bem cuidado.

Através das grandes portas de vidro da sala de estar, eu os vi.

Leo tinha Bárbara pressionada contra a parede, suas mãos emaranhadas no cabelo dela, sua boca devorando a dela. Não era um beijo gentil. Era faminto, possessivo, brutal. Do mesmo jeito que ele costumava me beijar.

Uma onda de bile subiu pela minha garganta. Me agachei atrás de um grande vaso de terracota, meu corpo tremendo. A visão deles, na minha casa, no espaço onde eu havia chorado a morte da minha irmã, era uma violação que ia mais fundo do que a infidelidade.

Fechei os olhos com força, tentando bloquear a imagem.

Quando os abri novamente, eles estavam andando para fora, em direção ao roseiral que Clara me ajudou a plantar. Leo estava com o braço em volta de Bárbara, sua postura protetora, possessiva.

"É uma propriedade linda", disse Bárbara, sua voz se espalhando pelo ar parado. "Mas a casa é um pouco datada, não acha?"

Leo riu, um som baixo e profundo. "Eu estava pensando a mesma coisa. Vamos demolir. Construir algo novo, só para você."

Só para você. As mesmas palavras que ele um dia disse para mim.

Bárbara riu e envolveu os braços em volta do pescoço dele, beijando-o profundamente. "Ah, Leo. Você me mima."

Ele ia demolir nossa casa. A casa que Clara amava, onde sua risada ainda ecoava nos corredores se eu ouvisse com atenção. Ele ia apagar todo e qualquer vestígio de mim, de nós, dela.

Minha respiração falhou. Meu único pensamento era nas pinturas no sótão. A alma de Clara, capturada em tela. Eu tinha que pegá-las antes que ele destruísse tudo.

Na pressa de me levantar de trás do vaso, meu joelho raspou na terracota áspera. O som, um ruído suave e arrastado, foi quase inaudível.

Mas foi o suficiente.

Uma tábua do assoalho rangeu sob meu pé. As cabeças de ambos se viraram na minha direção.

            
            

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