Queimar o Império Dele Pela Minha Irmã
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Capítulo 4

Ponto de Vista de Júlia Campos:

"Ela está machucada, Leo!", Bárbara lamentou, enterrando o rosto no ombro dele enquanto ele se ajoelhava ao seu lado. "Meu tornozelo... acho que está quebrado."

Leo me lançou um olhar de pura fúria. "Você está satisfeita agora, Júlia? Era isso que você queria?", ele rosnou, sua voz escorrendo acusação.

"Eu não a toquei!", gritei, minha voz fina e fraca. "Ela caiu de propósito!"

"Foi um acidente", disse Leo, seu tom desdenhoso enquanto examinava gentilmente o tornozelo perfeitamente bem de Bárbara. "Ela perdeu o equilíbrio. Você passou por muita coisa. Apenas se acalme." Ele estava desculpando o comportamento dela, me infantilizando, me tratando como uma criança histérica que não conseguia controlar suas emoções.

Uma onda quente e ácida de náusea agitou meu estômago. Minha cabeça parecia leve, o mundo inclinando-se em seu eixo.

"Um acidente?", repeti, minha voz tremendo com uma raiva tão profunda que me assustou. "Como desviar uma UTI aérea foi um 'acidente'? Como a morte da minha irmã foi um 'acidente'?"

Bárbara se encolheu, soltando outro soluço suave. "Por favor, não fale sobre isso", ela sussurrou. "Isso me faz sentir tão culpada."

"Bom", cuspi. "Você deveria."

Virei-me para longe deles, incapaz de olhar para seu quadro nojento de inocência fingida e lealdade equivocada por mais um momento. Meus olhos caíram sobre o conteúdo espalhado da minha bolsa, que havia derramado quando recuei. Entre o batom e as chaves, havia um pequeno livro de capa de couro, gasto. O primeiro caderno de esboços de Clara. Estava cheio de seus desenhos de infância de criaturas fantásticas e sóis sorridentes. Eu o carregava comigo desde o funeral, um pedaço tangível dela do qual eu não suportava me separar.

Abaixei-me para pegá-lo, meus dedos roçando o couro macio e familiar.

Um salto alto de grife, branco e impecável, bateu no caderno de esboços, a menos de cinco centímetros da minha mão.

Eu olhei para cima. Bárbara estava de pé sobre mim, um sorriso cruel e triunfante em seu rosto. Ela moeu o salto no livro, o som da lombada quebrando e das páginas rasgando ecoando no jardim silencioso.

"Ops", ela disse, sua voz um cantarolar enjoativamente doce. "Que desastrada eu sou."

Algo dentro de mim se partiu. O luto, a traição, os anos de raiva reprimida explodiram em um único e ofuscante flash de fúria incandescente. Eu me lancei sobre ela, minhas mãos estendidas, minhas unhas em forma de garras. "Sua vadia!"

Antes que eu pudesse alcançá-la, um aperto de ferro fechou em meu pulso. Leo me puxou para trás com tanta força que tropecei.

"Já chega, Júlia!", ele rugiu.

Ele não viu o que ela tinha feito. Ele só viu meu ataque. Ele me empurrou para longe dela, um empurrão forte e violento. Perdi o equilíbrio e caí para trás, minha cabeça batendo na borda do vaso de terracota atrás do qual eu estava escondida.

A dor explodiu na parte de trás do meu crânio. O mundo girou, pontos pretos dançando em minha visão. Fiquei deitada na grama, atordoada e sem fôlego, o gosto metálico de sangue enchendo minha boca.

"Olha o que você me fez fazer", disse Leo, sua voz carregada de frustração, como se meu ferimento fosse um inconveniente com o qual ele estava sendo forçado a lidar. Ele estava olhando para mim, mas sua preocupação era com Bárbara, que agora se agarrava ao seu braço, parecendo aterrorizada.

"É da Clara", sussurrei, minha voz embargada de lágrimas e dor. Apontei um dedo trêmulo para o caderno de esboços arruinado, profanado no gramado. "Aquele era o primeiro caderno de esboços da Clara."

Leo olhou para o livro, sua expressão incompreensiva. "É só um livro, Júlia. Eu te compro um novo. Cem novos."

Ele não se lembrava. Ele estava lá quando Clara, aos sete anos, o apresentou orgulhosamente a mim. Ele a viu preencher suas páginas. Ele elogiou seus desenhos. Mas agora, era apenas uma coisa. Um objeto cujo valor ele podia medir em reais. Todas as nossas memórias compartilhadas, todos os momentos que construíram a base de nossa vida juntos, haviam sido apagados de sua mente, substituídos por essa mulher insípida e cruel.

A luta se esvaiu de mim, substituída por um cansaço profundo e esmagador. Não adiantava discutir. Não adiantava explicar. Ele não entenderia. Ele não podia.

Lentamente, dolorosamente, me levantei. Não lhes daria a satisfação de me ver quebrada no chão. Virei-me para ir embora, meu único pensamento era ficar o mais longe possível deles.

"Onde você pensa que vai?", a voz de Leo cortou o ar. Ele agarrou meu braço, seu aperto machucando. "Você está ferida. Vou te levar para o hospital."

"Me solta", eu disse, minha voz perigosamente baixa.

"Entre no carro, Júlia", ele ordenou.

Ele meio que me arrastou, meio que me carregou para o carro dele, me forçando a entrar no banco de trás como uma prisioneira. Bárbara deslizou para o banco do passageiro, lançando-me um olhar triunfante no espelho retrovisor enquanto afivelava o cinto de segurança. O carro estava impregnado com o cheiro doce e enjoativo de seu perfume, um cheiro que eu sabia que estaria para sempre ligado aos piores momentos da minha vida.

Enquanto o carro saía da garagem, encostei minha cabeça latejante no vidro frio da janela e fechei os olhos.

Minha mente vagou para os meses após o retorno de Bárbara ao país. Seus encontros "acidentais" nos meus cafés favoritos. Ela se matriculando na minha academia exclusiva. Ela comprando o apartamento exatamente em frente ao nosso. Foi uma campanha sistemática e deliberada para invadir cada canto da minha vida.

Lembrei-me de encontrar meu violoncelo premiado, aquele que toquei no Theatro Municipal, com as cordas cortadas. Não havia provas, mas eu sabia que era ela. Lembrei-me de contar a Leo, minha voz tremendo de medo e indignação. Ele prometeu resolver, mantê-la longe de mim.

E ele o fez. Ele a manteve longe de mim, puxando-a para sua própria cama. Ele não resolveu o problema. Ele o absorveu. Ele se tornou o problema.

A dor na minha cabeça era uma pulsação surda e constante, uma manifestação física da agonia em minha alma. Senti uma lágrima escapar do canto do meu olho e traçar um caminho frio pela minha têmpora.

A última coisa que me lembro foi o guincho de pneus e o som repugnante de metal se chocando.

Então, tudo ficou preto.

            
            

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