Capítulo 4 A Demolição Planejada

No Aeroporto Internacional de Chanvale, três anos depois.

Havia uma grande tela transmitindo uma reportagem no saguão de chegadas.

"Agora, para as notícias de negócios. Foi descoberto que o Grupo Collins recentemente adquiriu aquele terreno ao longo da Estrada Azul com a intenção de construir um grande centro de entretenimento lá. Como vocês bem sabem, a Estrada Azul abriga muitas pessoas ricas. Será difícil simplesmente demolir todos os edifícios. Hoje, conosco, está o CEO do Grupo Collins, Mateus Collins. É uma grande honra ouvir como ele pretende resolver esse enorme problema."

Melanie havia acabado de sair do avião e estava arrastando sua mala quando a enorme tela chamou sua atenção.

O homem que apareceu em seguida na tela vestia um terno cinza com gravata e camisa branca combinando. Sua mandíbula era firme e bem barbeada. As sobrancelhas eram grossas e a pele, lisa. Ele parecia tão indiferente, mas ao mesmo tempo tão charmoso quanto um ator.

Os dedos do homem estavam entrelaçados sobre os joelhos enquanto ele se sentava no sofá com as pernas cruzadas. Ele parecia tão relaxado diante das câmeras. Com um leve sorriso nos lábios finos, ele disse: "Todo mundo tem seu preço. Até os ricos querem aumentar sua fortuna, então sei que aqueles que moram na Estrada Azul não seriam diferentes. Quem não consegue resolver seus problemas simplesmente não tem dinheiro suficiente. Quanto a mim, eu tenho mais do que o suficiente."

A apresentadora parecia ao mesmo tempo chocada e impressionada. Ela sorriu educadamente e disse: "Senhor Collins, nosso público gostaria de saber quanto tempo levará para concluir a demolição."

Olhando diretamente para a câmera, Mateus foi bastante direto em sua resposta. "Em menos de uma semana, resolveremos as questões com as partes afetadas e concluiremos a demolição."

Um vídeo da Estrada Azul apareceu após a resposta de Mateus. Não era nada como era algum tempo atrás. Agora, estava uma bagunça enorme. Vários moradores já haviam se mudado. Muitas das casas altas agora eram um monte de entulho. Escavadeiras estavam em todos os cantos, esperando que a próxima casa caísse sob suas garras.

Os olhos de Melanie, que estavam por trás dos óculos escuros, tremeram incrivelmente.

Ela olhou diretamente para a vila de sua família. A casa onde ela cresceu logo seria demolida!

A câmera mostrou uma repórter que estava em frente à vila com uma mulher de meia-idade. Ela perguntou: "Você é a proprietária desta vila. As notícias que recebemos indicam que você aceitou a compensação oferecida pelo Grupo Collins. Não é verdade?"

A mulher não era outra senão a madrasta de Melanie, Ximena.

Com um sorriso radiante, Ximena encarou a câmera e respondeu: "Ah, sim! O Grupo Collins nos ofereceu uma compensação que não pudemos recusar. Minha família e eu já empacotamos tudo. Vamos embora hoje. O Grupo Collins está livre para fazer o que quiserem com a casa."

Nesse momento, o rosto de Melanie-que segurava um lenço de seda preta que continha a urna com as cinzas de seu pai-ficou sombrio. Seus nós dos dedos também ficaram pálidos.

O gelo em seus olhos quase se quebrou através dos óculos escuros. Ela havia sido fraca demais para lutar por aquela vila três anos atrás. Mas agora que estava de volta, ninguém poderia impedi-la de recuperar o que era legitimamente seu!

Ela não queria a vila porque estava em um bairro de classe alta. Era porque era onde seu pai deveria descansar.

Cerrando os punhos, Melanie saiu furiosa do aeroporto com a urna e a mala.

Era junho, então o tempo em Chanvale estava claro e ensolarado, diferente da noite em que ela partiu daqui.

Sua mão apertou a urna enquanto olhava para o sol escaldante e o céu azul, refletindo.

"Estou de volta para ficar, pai. Vou te levar para casa agora," pensou consigo mesma.

De repente, uma buzina tirou Melanie de seus pensamentos. A motorista de um Volkswagen Polo colocou a cabeça para fora e acenou para ela animadamente. "Melanie! Aqui!"

Um sorriso rapidamente substituiu a tristeza no rosto de Melanie. Ela pegou sua mala e correu. Assim que entrou no carro, afivelou o cinto e tirou os óculos escuros, Isabel começou a reclamar.

"Você é tão sem coração! Ainda me considera sua amiga? Estou tão sozinha desde que você voou para Paris sem se despedir de mim. Eu poderia ter morrido!"

Ao mencionar sua partida abrupta, a mente de Melanie voltou ao que aconteceu três anos atrás. Seus olhos distantes brilharam com culpa e solidão. Ela apertou o ombro de Isabel e disse: "Estou de volta agora, não estou? Eu não queria te machucar, mas estava muito triste e desarrumada."

A irritação de Isabel voou pela janela. Ela olhou para sua amiga com simpatia. "A vida no exterior deve ter sido muito difícil para você. Ainda não consigo acreditar que você passou de uma filha mimada para alguém que foi forçada a viver na rua por aquela madrasta bruxa e sua filha estúpida. Você perdeu muito peso."

Melanie balançou a cabeça e sorriu. "Estou bem. Meu pai deixou um milhão de dólares na minha conta com medo de que algo ruim pudesse acontecer e eu precisasse de um fundo de emergência. Só descobri isso depois. O dinheiro não era muito, mas foi o suficiente para eu começar uma nova vida em Paris e também estudar artes. Trabalhei meio período lá e vendi algumas das minhas pinturas para empresas só para sobreviver. A vida no exterior não foi tão difícil."

Isabel manteve os olhos na estrada enquanto algo lhe ocorria. "A propósito, já que você acabou de voltar, não tem lugar para ficar, certo? Atualmente, moro sozinha em um apartamento de dois quartos. Você pode se mudar comigo e dividimos o aluguel. O que acha?"

Isabel mencionou intencionalmente dividir o aluguel para que Melanie concordasse sem se sentir envergonhada. Ela sabia que sua amiga não gostava de receber presentes.

"Está bem. Mas por que estou ouvindo isso só agora? Quando você se mudou da casa dos seus pais? Conte-me a verdade. Vocês brigaram?"

Olhando para a longa fila de carros à sua frente, Isabel fez um beicinho e disse: "Ah, nem me fale. Você pode acreditar que minha mãe tentou me arranjar encontros às cegas com caras? Eu não aguentava mais a insistência constante, então me mudei. Para me irritar, ela cortou minha mesada. Não vou implorar a ela. Ela vai esperar para sempre. A propósito, você ainda não tem emprego, certo?"

"Infelizmente, não." Melanie franziu a testa. "Não tenho certeza se posso me adaptar à indústria de arte aqui em Chanvale."

Isabel ergueu uma sobrancelha, complacente. "Ei, quer que eu te arranje um bom emprego?"

"Seria ótimo se combinasse com minha formação."

"Claro! Mas você tem que me acompanhar a um jantar esta noite."

Isabel entregou-lhe um convite. Quando Melanie viu um nome na lista de convidados, seus olhos se fixaram nele. Dizia claramente, Mateus Collins!

Oh, Deus! O homem direto que adquiriu o terreno da Estrada Azul estaria no jantar esta noite?

Franzindo a testa, Melanie apontou para o nome e perguntou: "Isabel, você conhece o Mateus Collins?"

"O quê!" Isabel exclamou e olhou para ela surpresa. "Não me diga que você gosta do Mateus também! Um conselho amigável, esqueça isso. Mateus não é o tipo de homem que você quer na sua vida. Se você ficar a dez metros dele, a presença dele é tão fria que pode congelar você. Muitas mulheres tentaram ir atrás dele. E todas acabaram ou traumatizadas, ou cansadas, ou até mesmo as duas coisas. Se você precisar de um namorado, posso te apresentar meu irmão! Meu irmão é um amor. Ele não tem nada a ver com o Mateus."

Isabel estremeceu ao pensar no rosto frio de Mateus. Ele era parente dela, mas ainda assim a fazia sentir arrepios toda vez.

Mas seria interessante ver como Mateus seria se estivesse apaixonado por Melanie. Será que ele se tornaria todo meloso? Ou continuaria a ser um rei de gelo?

A carranca entre as sobrancelhas de Melanie se aprofundou. Quando viu Mateus na TV agora há pouco, sua primeira impressão dele foi que ele não era um homem com quem se deveria brincar.

Parecia que sua suposição estava correta.

No entanto, aquela vila era a única coisa que ela tinha agora. Nada poderia dissuadi-la de recuperá-la. Mateus poderia ser cruel, mas ele não poderia morder, poderia?