Capítulo 5 Cinco

PONTO DE VISTA DE OLIVIA:

Já se passaram duas semanas e meus ferimentos estavam quase completamente curados.

Surpreendentemente, os trigêmeos não me trataram mal desde aquele dia. Eles nem sequer falaram comigo.

Alex às vezes perguntava como eu me sentia ou se minhas mãos estavam se curando bem, perguntas desse tipo.

Fiquei agradecida por eles não falarem comigo e também por eu não precisar interagir com eles.

O Gamma estava retornando hoje de sua viagem para uma matilha que não me lembro do nome.

Por isso agora eu estava me preparando para enfrentar muitos xingamentos, alguns tapas e pontapés.

Decidi não dar atenção ao Gamma porque amanhã era o meu aniversário de dezoito anos e estava empolgada para conhecer a minha loba.

Será que ela é forte?

E o seu pelo, como será?

Que cor serão seus olhos?

Milhares de dúvidas como essas surgiam na minha mente.

Mal posso esperar para finalmente conhecê-la!

Lembro-me de ter visto os lobos dos trigêmeos apenas uma vez.

Eles eram enormes e lindos.

O lobo de Alex se chama Brent, o de Lucas é Aaron e o nome do lobo de Benjamin é Asher.

Eles tiveram a sua primeira transformação aos dezessete anos. Um ano antes que os outros lobos. E então, eles assumiram o controle da matilha.

Era difícil para eles administrar a maior e mais forte matilha sozinhos, mas eles conseguiam cumprir o seu dever adequadamente.

Eles eram excelentes Alfas. Tomavam conta da matilha com responsabilidade e respeito, e mais importante: eles amam a matilha.

"Eles são gentis com todo mundo, menos comigo." Eu sorri amargamente enquanto caminhava para a cozinha.

Eu vi alguns Ômegas trabalhando enquanto outros me olhavam com nojo.

Esses magrelos estão querendo se mostrar para mim. Fala sério!

Apenas revirei os olhos e comecei a trabalhar.

Como de costume, os membros da matilha começaram a chegar.

Então eu vi o Gamma chegando. Aquela merda desprezível.

Ele me lançou um olhar de nojo e sentou-se no lugar ao lado dos trigêmeos.

De alguma forma, o dia acabou correndo muito bem. Ninguém tinha me desrespeitado, exceto o Gamma.

Depois de concluir todas as minhas tarefas eu estava indo para o meu quarto.

Alex tinha me forçado a trocar de quarto. Não que esse quarto fosse ruim, pelo contrário, era muito melhor que o meu anterior, mas eu não queria ficar com esse quarto. Não queria que me desse um quarto melhor apenas por pena.

Mas Alex me ordenou como Alfa e eu não pude recusar.

Então eu me mudei para este quarto.

Eu não me sentia tão cansada porque Erik tinha reduzido a minha carga de trabalho. Fiquei até um pouco feliz, porque isso significava que agora eu podia ler os livros que tanto amava.

Me acomodei na cama e peguei um livro sobre companheiros. Era um presente da tia Lilly, ela tinha me dado na semana passada.

Então, comecei a ler o livro.

"Seu companheiro ou companheiros são feitos para amá-lo. Você é incompleto sem eles/ele/ela e eles/ele/ela são incompletos sem você.

Ninguém pode quebrar o Vínculo, o elo formado entre os companheiros. Ferir o seu companheiro ou companheiros é o mesmo que ferir a Deusa da Lua."

Um sorriso surgiu em meu rosto.

Meu companheiro vai me amar e não poderá me machucar nunca, ele foi feito para me amar.

Eu serei amada!

Qual será a aparência do meu companheiro?

Será que ele é desta matilha ou de outra?

"Argh! Preciso parar de pensar nisso!" Bufando, eu deixei o livro de lado.

Me cobri e me aconcheguei na cama, e rapidamente adormeci.

No dia seguinte.

Me levantei e a primeira coisa que fiz foi colocar o medalhão do meu pai.

É a última lembrança que possuo dele.

"Pai, hoje é o dia da minha primeira transformação." Segurei o medalhão com força e disse:

"Queria que você ainda estivesse aqui comigo." Suspirei.

"Quem sabe em uma próxima vida..." Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto.

De repente, ouvi alguém batendo em minha porta.

"Olá, quem é?" Perguntei.

"Olá, sou eu!" Erik respondeu.

"Ah, entre." Pedi enquanto enxugava o rosto.

"Bom dia Olivia!" Erik me cumprimentou.

"Olá, bom dia." Eu o olhei desconfiada.

Ele parecia hesitante, querendo me dizer algo.

"O que houve, Erik?" Perguntei.

"Estou indo visitar a Matilha do Sangue Noturno, vou estar fora por uma semana ou mais. Precisamos formar uma aliança, há um perigo iminente de um ataque Carmesim a nossa matilha. Como eles são da matilha mais forte depois de nós, precisamos da ajuda deles." Erik respondeu.

"Os integrantes da nossa matilha não são o suficiente para nos defender?" Perguntei, ligeiramente confusa.

Afinal, somos a matilha mais forte do mundo. Já enfrentamos tantos outros ataques e nunca precisamos pedir ajuda de ninguém. Então, por que faríamos desta vez?

"É muito perigoso, Olivia. O número de Carmesim é maior do que as duas matilhas juntas. Eles são muito perigosos. Já dominaram outras matilhas fortes, precisamos nos unir." Erik respondeu, me deixando tensa.

Mesmo que os integrantes da matilha não gostem de mim, eu ainda amava e me preocupava com a minha matilha. Meu pai sempre me dizia:

"Antes da sua vida, vem a matilha."

Eu acenei para Erik, concordando.

Ainda bem que hoje a noite é a minha transformação. Certamente poderei entrar na luta.

Mas... se o Erik está viajando hoje, isso significa que não nos veremos por mais algumas semanas.

"Eu queria estar ao seu lado até a sua transformação, mas você sabe que não posso recusar." Erik disse ao perceber a expressão preocupada em meu rosto.

"Não se preocupe comigo, Erik. A matilha vem em primeiro lugar." Eu sorri para ele e ele me devolveu o sorriso.

"Agora venha aqui e me dê um abraço de despedida." Ele estendeu os braços para mim.

Eu corri para o seu abraço.

"Te amo, pequena Olivia." Ele deu um beijo em minha cabeça.

"Também te amo, seu burrinho." Falei sorrindo e Erik deu um leve tapa na minha nuca.

Eu fiz um beicinho e uma careta para ele, fazendo-o rir.

"Fique bem e segura, ok?" Erik disse e eu concordei.

"Ficarei e você também." Respondi e o abracei novamente.

Salto no tempo

Às 23:50. Já era quase meia noite.

Tirei o medalhão do meu pai e o guardei com cuidado em uma caixa.

'Pai, deseje-me sorte." Eu disse olhando carinhosamente para a caixa e me virei para sair.

Soltei o meu cabelo, o seu comprimento chegava até o meu quadril e então segui em direção à floresta.

Eu caminhava para dentro da floresta cheia de neve. O tempo estava gelado e eu tremia ligeiramente com frio.

A lua brilhava com vigor no céu.

Eu olhei para ela, admirando-a.

Passei por arbustos e árvores e finalmente cheguei na clareira no centro da floresta.

Olhei para o relógio, faltava apenas um minuto.

Me despi e tirei o relógio.

Coloquei o relógio próximo das minhas roupas e conferi a hora novamente. 00:00

A floresta estava em um silêncio total. Só se ouvia o som do vento entre as árvores.

Respirei fundo e uma dor repentina surgiu em todo meu corpo.

Meus ossos começaram a se rachar.

Eu gritei de dor.

Eu sabia que a primeira transformação seria dolorosa, mas não estava preparada para isso.

Eu caí de joelhos, sem forças.

Senti outra dor aguda, desta vez na minha coluna.

Gritei novamente.

Percebi que minha pele começou a queimar, sentia como se estivesse dentro de uma fogueira.

Lágrimas de dor tomaram conta de meus olhos.

Olhei para meus braços e vi longos pelos brancos começando a surgir. Parecia muito sedoso.

Minha loba tem o pelo branco como a neve.

Mesmo com toda a dor, eu sorri pensando na minha loba.

Outra dor me atingiu, nas costelas e abdômen.

Senti meus ossos se quebrando por mais alguns minutos.

Eu podia sentir os meus caninos crescendo.

Minha gengiva doía por conta das minhas presas.

Então, fui atingida por um último ataque de dor extrema. Eu gritei, mas ao invés de ouvir a minha voz, era um uivo.

Eu havia me transformado!

Eu olhei ao redor e vi meu reflexo em um pedaço de espelho quebrado.

Nossa!

Ela era linda. Minha loba tinha pelos brancos, que pareciam mais macios e brilhantes do que a seda mais cara. Seus olhos eram vermelhos como sangue e havia uma faísca sob eles, algo que brilhava tão profundo e perigoso como o fogo.

Ela era forte, elegante, bonita e o mais importante: parecia ser uma líder natural.

"E ela está presa a um pedaço de lixo como eu." Confessei tristemente e uma voz explodiu na parte de trás da minha cabeça.

"Você não é lixo." Minha loba retrucou.

Ohhh! Ela parecia ser bem esquentada.

"Me desculpe." Murmurei.

"Meu nome é Eleanor." Ela disse com um sorriso.

"Meu nome é Olivia." Respondi sorrindo.

"Que tal darmos uma corrida?" Perguntei empolgada.

"Claro!" Ela disse e disparou a correr.

Eleanor era forte e era incrivelmente rápida. Nunca imaginei que minha loba seria tão forte.

Ela era extremamente veloz, movia-se com agilidade.

Ela conversava bastante comigo. Eleanor parecia ser muito confiante.

Não parecia que essa era a sua primeira vez nesse mundo. Ela era extremamente inteligente e o mais importante, tinha uma postura de rainha.

"Não está empolgada para conhecer o seu companheiro?" Eu perguntei a Eleanor e ela corou.

Eleanor era meiga, engraçada, forte, inteligente, poderosa e bonita. Era uma combinação perfeita.

"Tenho tanta sorte de ter uma loba como você." Pensei.

"E eu tenho sorte de ter alguém como você." Eleanor respondeu, lendo meus pensamentos.

"Não sou tão boa quanto você, Eleanor." Assenti tristemente.

"Não faça tão pouco de si mesma. Você é perfeita. É forte. E é linda. Jamais diga coisas ruins sobre você, Olivia." Eleanor me encorajou.

Pelo menos agora terei sempre alguém do meu lado, não estarei mais sozinha.

"Obrigada, Eleanor." Agradeci e ela sorriu para mim.

Corremos por mais alguns minutos e então decidimos voltar para a casa da matilha.

Me transformar de volta para a minha forma humana foi muito doloroso. Assim que terminei a transformação, vesti minhas roupas e comecei a caminhar de volta para casa.

Não sabia o porquê, mas me sentia extremamente forte.

Pelo que eu sabia, os lobos sentiam uma fraqueza após a sua primeira transformação, mas eu não estava me sentindo fraca.

Fiquei imersa em meus pensamentos quando meu nariz detectou três aromas distintos se aproximando.