Logo descobri que ele tinha uma filha de quatro anos com ela. A família deles já estava formada; eu era apenas um tapa-buraco. Em uma câmera de segurança escondida, eu o observei na cobertura dos meus falecidos pais - um lugar sagrado que ele me proibiu de visitar - balançando a filha deles no joelho.
Então, ele prendeu o colar de diamantes que havia comprado para o meu aniversário no pescoço da amante.
O golpe final veio quando a ouvi sussurrar: "Só mais um pouco... a febre vai fazer o resto do trabalho."
Ele não estava apenas me deixando. Ele estava ativamente tentando me matar.
O amor que eu sentia por ele não apenas morreu; transformou-se em uma pedra fria e dura no meu peito. O homem cuja devoção eu nunca questionei agora me causava uma repulsa que arrepiava a pele.
Na manhã seguinte, pedi alta do hospital contra a recomendação médica. Deixei minha aliança e os papéis do divórcio assinados na mesa de entrada, bloqueei o número dele e saí de nossa casa sem olhar para trás.
Capítulo 1
Ponto de Vista: Catarina
O homem que jurou me amar na saúde e na doença acaba de prometer minha única chance de sobrevivência para outra mulher.
Eu estava deitada, imóvel, os lençóis engomados da cama do hospital eram uma barreira frágil contra um frio que não tinha nada a ver com a temperatura do quarto. Ele havia se instalado no fundo dos meus ossos. Não era mais a doença rara no fígado que estava me matando. Eram as palavras que vinham da porta entreaberta.
A voz de Juliano, a voz do meu marido, era um murmúrio baixo e urgente. "Ela pode esperar. Os médicos disseram que ela tem três meses, talvez mais. A mãe da Ava não tem todo esse tempo. Não posso ver a Ava perder a mãe."
Minha respiração ficou presa na garganta, um som seco e arrastado. O fígado do mercado negro - aquele conseguido através de uma dívida de vida com minha família, a Máfia Volkova - não era para mim.
Era para a mãe da amante dele.
Uma amante. A palavra soava estranha, absurda. Por três anos, enquanto meu corpo travava uma guerra contra si mesmo, Juliano tinha sido meu porto seguro. Ele segurou meu cabelo enquanto eu vomitava, me deu caldo na boca quando eu não conseguia segurar nada e sussurrou promessas do nosso futuro no meu ouvido enquanto eu adormecia. A devoção dele era a única coisa que eu nunca questionei.
"E a Sofia?", uma voz de mulher, suave e enjoativa. Ava. "Ela precisa da avó."
"Eu sei, querida", Juliano acalmou. "Estou resolvendo."
Sofia. Eles tinham uma filha. Uma filha de quatro anos. Os números se encaixaram com uma precisão doentia. Minha doença começou há três anos. O caso deles era mais antigo. A família deles já estava formada. Eu era o tapa-buraco.
Um momento depois, ouvi o som fraco e metálico da voz de uma criança pelo telefone. "Papai, quando você vem pra casa?"
"Logo, princesa. O papai tem um assunto urgente."
A porta se abriu. Juliano entrou, seu rosto uma máscara perfeita de preocupação. Ele era o retrato de um Capo em ascensão na Máfia - poderoso, bonito e totalmente devotado - para todos os outros.
Ele atravessou o quarto e se inclinou para beijar minha testa. "Como você está se sentindo?"
O toque dele, que antes parecia um lar, agora parecia uma marca de ferro quente. Forcei um sorriso fraco. "Cansada."
"Preciso sair um pouco", disse ele, acariciando meu cabelo. "Assunto urgente."
Ele deixou o celular na mesa de cabeceira. Um descuido. Um erro fatal.
No momento em que a porta se fechou, eu o peguei. A senha era o meu aniversário. Uma piada cruel e sentimental. Ignorei as mensagens e fui direto para o registro de chamadas. Um contato codificado, "Sr. Silva", era sua ligação mais recente.
Meus dedos tremiam enquanto eu abria o GPS do celular. O carro dele não estava no escritório nem em nenhum dos nossos lugares de costume.
Estava estacionado na cobertura dos meus pais.
O coração do império Volkova. O solo sagrado onde meu pai, o antigo Chefão, reinou. Um lugar que Juliano me proibiu de visitar desde a morte deles, alegando que as memórias eram dolorosas demais para o meu estado frágil.
Mas a paranoia do meu pai tinha sido um presente. O aplicativo de segurança dele, aquele que ele instalou no meu celular anos atrás, ainda estava ativo. Toquei no ícone da câmera da cobertura.
A tela piscou e, com ela, meu mundo se estilhaçou.
Lá estava Juliano, no meio da sala de estar dos meus pais, balançando uma garotinha com seus cabelos escuros no joelho. Lá estava Ava, entregando-lhe uma tigela de sopa. Uma cena doméstica doentiamente perfeita se desenrolava no altar da memória da minha família.
Então, eu vi. Ele enfiou a mão no bolso e tirou uma pequena caixa. Dela, ele tirou o delicado colar de diamantes, uma peça de edição limitada que eu sabia que ele havia comprado para o meu aniversário que se aproximava.
Ele o prendeu no pescoço de Ava.
Um som escapou da minha garganta, uma coisa crua e quebrada. Qualquer amor que me restava por ele não apenas murchou e morreu. Ele se calcificou, transformando-se em uma pedra fria e dura no meu peito.
Meus dedos encontraram meu próprio celular. Disquei o único número que importava.
Minha tia Isabela atendeu no primeiro toque.
"Cat? O que aconteceu?"
Minha voz era um fantasma de si mesma, mas as palavras eram de aço puro. "Estou indo para Campos do Jordão. A cirurgia vai acontecer lá. Juliano não deve se envolver." Fiz uma pausa, meus olhos fixos na tela, observando-o beijar a mulher que usava meu colar. "Mande seus homens me buscarem. Agora."