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Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

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Ponto de Vista: Adriana
A mensagem de confirmação do escritório de Eduardo foi um facho de luz em um quarto totalmente escuro. Pela primeira vez no que pareceu uma eternidade, eu consegui respirar. Foi uma respiração superficial, mas era minha.
Eu não dormi. Fiquei deitada na cama, ouvindo o silêncio do apartamento. Um silêncio que de alguma forma era mais condenatório do que gritos teriam sido. Bruno nunca voltou para o quarto. Ele provavelmente estava no sofá, montando guarda do lado de fora do quarto de hóspedes onde seu "futuro" estava dormindo.
Imaginei-o lá fora, criando uma nova narrativa. Ele me diria de manhã que era seu dever proteger sua colaboradora-chave. Que o estado emocional dela era primordial para o sucesso do trabalho deles. Ele tinha uma desculpa para tudo, uma racionalização para cada crueldade.
Eu estava tão cansada de suas desculpas. Estava cansada de lutar uma batalha que eu já havia perdido.
A luta não era mais sobre ele. Não era sobre nosso casamento morto.
Era sobre minha mãe. Era sobre sobrevivência.
Eu tinha minha saída. Só precisava passar pelas próximas trinta e seis horas.
Finalmente caí em um sono tenso e sem sonhos, bem quando o céu negro começou a clarear para seu cinza doentio habitual. Acordei com o cheiro de café. Café de verdade, um luxo racionado.
Quando entrei na cozinha, a cena era de uma domesticidade surreal. Bruno estava no fogão, fazendo ovos. E Katia estava encostada no balcão, bebendo de uma caneca.
Minha caneca.
Era uma caneca de cerâmica feita sob medida, um presente de aniversário bobo de anos atrás. Tinha uma linha de código impressa nela - o primeiro loop elegante que eu já havia escrito, algo de que me orgulhava desde a universidade. Bruno a mandou fazer para mim. "Para minha gênia", dizia o cartão.
Katia me viu e ofereceu um sorriso brilhante e falso. "Ah, bom dia, Adriana! Espero que não se importe. Não consegui encontrar nenhuma outra caneca limpa."
A mentira era tão descarada que era quase impressionante. Os armários estavam cheios de canecas.
"Eu estava apavorada ontem à noite", ela continuou, sua voz cheia de uma vulnerabilidade ensaiada. "Bruno foi tão heroico, me deixando ficar."
Olhei para além dela, para Bruno. Ele não encontrou meus olhos. Apenas raspou os ovos para um prato. "Tem café", ele murmurou, gesticulando com a espátula.
Katia ergueu a caneca. Minha caneca. "É tão única! Bruno, o que o código significa?"
"Não é nada", disse ele, sua voz curta. Ele olhou para mim, um brilho de algo - irritação? culpa? - em seus olhos. Ele se virou de volta para Katia. "Apenas um projeto antigo da universidade. Pode ficar com ela se quiser."
Meu estômago revirou. Não foi um golpe físico, mas pareceu um. Aquela caneca era uma relíquia de um tempo em que ele me via, quando celebrava minha mente. Agora, ele a estava dando como um bibelô barato.
"Vou sair", anunciei, minha voz impassível.
A cabeça de Bruno se ergueu. "O quê? Você não pode. Não é seguro. Os alertas finais de lockdown estão sendo emitidos."
"Vou buscar minha mãe", eu disse, caminhando em direção ao armário do corredor para pegar minha jaqueta.
"Adriana, seja razoável!" disse ele, me seguindo. "Estaremos partindo amanhã de manhã. Não faz sentido."
"Faz todo o sentido", eu disse, calçando meus sapatos.
Katia apareceu ao seu lado, colocando uma mão delicada em seu braço. "O Bruno está certo, Adriana. É perigoso. Não gostaríamos que nada acontecesse com você." A falsa preocupação em sua voz fez minha pele arrepiar.
"Vou trazê-la para cá", eu disse, minha mão na maçaneta. "Vamos esperar nosso transporte juntas."
"Isso é ridículo!" Bruno explodiu, agarrando meu braço. "Ela não pode vir conosco! Quantas vezes eu tenho que dizer isso?"
No movimento súbito, seu cotovelo bateu na mão de Katia. Ela gritou quando a caneca de cerâmica, minha caneca, escorregou de suas mãos e se espatifou no chão de mármore.
Café quente e cacos do meu passado se espalharam pela pedra branca imaculada.
Bruno congelou, olhando para a bagunça. Por uma fração de segundo, vi um lampejo de arrependimento genuíno em seus olhos enquanto ele olhava para os pedaços de código quebrados. Um fantasma do homem que ele costumava ser.
Então desapareceu, substituído por frustração.
"Agora olha o que você fez", ele retrucou, como se a culpa fosse minha.
Arranquei meu braço de seu aperto, minha última conexão com ele se quebrando com o som da caneca se estilhaçando.
"Não me toque", rosnei, minha voz baixa e perigosa.
Não lhes dei outro olhar. Abri a porta e saí para o corredor, deixando-os parados ali, em meio aos destroços que eles mesmos criaram.