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Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

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Ponto de Vista: Adriana
A manhã da partida chegou com uma luz cinzenta e doentia que prometia outro dia escaldante. O ar no apartamento selado estava viciado com hostilidade não dita.
Às 8 da manhã, destranquei a porta do quarto. Minha mãe e eu estávamos prontas, nossas únicas e pequenas malas arrumadas e esperando. Saí para a sala de estar. Bruno e Katia já estavam vestidos, de pé perto da porta com suas próprias bagagens. Bruno parecia não ter dormido.
"O embarque do transporte é na entrada oeste", disse ele, sem me olhar. "Está agendado para as 09:00 em ponto. Você e sua mãe devem ir para a entrada leste. O transporte de vocês está agendado para as 11:00." Ele estava lendo do tablet que tentou me dar, o plano que eu havia rejeitado.
"Vamos esperar com você", eu disse calmamente, pegando minha mala. Ajudei minha mãe com a dela.
A cabeça de Bruno se ergueu, seus olhos faiscando de fúria. "O que você acabou de dizer? Adriana, pare com isso. Pare de criar esse drama. Vá para o seu ponto de embarque designado."
"Não vou para a entrada leste", eu disse, minha voz uniforme.
"Pelo amor de Deus, o que há de errado com você?" ele explodiu, sua voz ecoando no apartamento silencioso. "Estou tentando salvar o futuro da teoria econômica, e você está encenando algum tipo de rebelião patética e ciumenta! Eu fiz tudo por você! Eu te apoiei quando você desistiu da sua carreira!"
A pura audácia dessa declaração me atingiu como um golpe físico. Me apoiou? Ele celebrou. Ele ficou aliviado quando minha estrela começou a se apagar e a dele começou a brilhar.
"Você não apoiou nada", eu disse, minha voz perigosamente baixa. "Você me apagou."
Comecei a passar por ele em direção à porta. Ele agarrou meu braço, seus dedos cravando em meu bíceps. "Você não vai vir conosco. Você vai seguir o plano que eu tracei para você. É o melhor que você vai conseguir."
"Tire suas mãos de mim, Bruno", eu disse, meu olhar caindo para a mão dele em meu braço.
"Não! Você vai me escutar!" ele gritou, seu rosto a centímetros do meu. "Você vai matar a si mesma e a sua mãe com essa palhaçada!"
Com uma força que eu não sabia que possuía, eu o empurrei com força no peito. Ele cambaleou para trás, seu rosto uma máscara de choque.
"Cansei de te escutar", cuspi. "Acabou. Lembra? Você me fez assinar os papéis."
Naquele exato momento, um som baixo e rítmico começou a se intensificar do lado de fora, ficando cada vez mais alto. Não era o ronco do ônibus blindado que esperávamos. Era o som de pás de rotor.
Bruno e Katia olharam para a janela em confusão. Eu apenas caminhei até a porta e a abri, conduzindo minha mãe para o corredor.
Lá embaixo, no pátio privativo, um helicóptero preto e elegante estava descendo. Seu design era de nível militar, ostentando o sol dourado da Iniciativa Hélio. Não era um ônibus. Era transporte executivo.
Quando saímos do prédio, um homem de uniforme de piloto saltou, o vento do rotor chicoteando suas roupas. Ele consultou um tablet.
"Sra. Alencar?" ele gritou por cima do barulho.
"Sim!" eu respondi.
"O Sr. Monteiro nos enviou para buscar a senhora e sua convidada. Estamos com o cronograma apertado." Ele se moveu para ajudar minha mãe, tratando-a com um respeito gentil que fez minha garganta apertar.
Bruno e Katia nos seguiram, seus rostos um retrato de total incredulidade.
"O que é isso?" Bruno gaguejou, olhando para o helicóptero. "Deve haver um engano."
Naquele momento, o ônibus blindado parou na calçada. Um atendente saltou. "Transporte para o Dr. Matos!"
Bruno, ainda cambaleando, apontou um dedo trêmulo para Katia. "Ela é... ela é minha colaboradora. Suba."
Katia, um sorriso triunfante retornando ao seu rosto, caminhou em direção ao ônibus, pronta para reivindicar seu prêmio.
"Espere um momento", disse o atendente, erguendo a mão para detê-la. Ele verificou seu próprio tablet. "Minha lista é para o Dr. Bruno Matos e um membro da família, Adriana Matos." Ele olhou do tablet para mim, depois de volta para Bruno. "Esta mulher não está na lista."
O rosto de Katia desabou. "Mas... nós temos uma sociedade. Uma LTDA. Está tudo registrado."
"Não tenho nenhuma LTDA aqui, senhor", disse o atendente a Bruno. "O nome na vaga de família é Adriana Matos. Se ela não embarcar com o senhor, seu +1 será perdido."
Bruno estava pálido, sua mente claramente correndo enquanto tentava processar o fracasso burocrático de seu grande plano. Ele deu um passo em minha direção, sua mão estendida. "Adri, espere..."
"Senhor, peço que se afaste", disse uma voz firme. O piloto do helicóptero se posicionou entre mim e Bruno. "O transporte da Sra. Alencar é privado. Por favor, não interfira."
O piloto então falou em seu comunicador de pulso. "ECO-1 está seguro. Em aproximação para Hélio Prime. Passageira Alencar a bordo, conforme diretriz do Sr. Monteiro."
A cabeça de Bruno sacudiu como se tivesse sido atingido. Seus olhos, arregalados com um horror crescente e um ciúme furioso, se fixaram nos meus. "Eduardo Monteiro?" ele sussurrou, o nome uma maldição em seus lábios.