O Jogo Cruel Dele, A Fuga Perfeita Dela
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Capítulo 2

Ponto de Vista: Juliana Andrade

Na manhã seguinte, Alex me acordou com um beijo e uma pequena caixa lindamente embrulhada. "Um pequeno presente de aniversário", ele murmurou contra meu cabelo, sua voz ainda grossa de sono. "Eu mesmo fiz."

Meu estômago se contraiu. Eu sabia que este não era o presente dele. Este era o de Carla. Lembrei-me de uma mensagem do grupo de chat deles, uma foto desta mesma caixa com a legenda: *Segundo round. Vamos ver se ela tem estômago para este.*

Meus dedos pareciam gelo quando peguei a caixa. Era um pequeno bolo artesanal, um delicado tiramisù polvilhado com cacau em pó. Parecia perfeito. Inocente.

Mas eu sabia a verdade. Lembrei-me de outra mensagem, uma que me deixou fisicamente doente.

Marco: *Isso no mascarpone é o que eu estou pensando?*

Carla: *Apenas um presentinho do meu cão de exposição premiado. Um toque pessoal. Ela nem vai saber. Alex vai dizer que é um novo tipo chique de trufa.*

Uma onda de náusea me atingiu, tão forte que tive que agarrar os lençóis. Eu podia sentir a vibração fantasma de suas risadas, ver seus rostos zombeteiros na tela do notebook dele. Eles provavelmente estavam assistindo agora, em alguma câmera escondida, esperando que eu desse uma mordida.

"O que há de errado?", Alex perguntou, sua testa se franzindo naquela performance de preocupação que eu estava começando a conhecer tão bem. "Você parece pálida. Não gostou?"

"Eu... não estou com muita fome esta manhã, Alex", eu disse, minha voz mal um sussurro. Empurrei a caixa para longe.

Seu sorriso ficou um pouco mais tenso, um pouco menos caloroso. "Só uma mordida, Ju. Eu me esforcei tanto. Para você."

Ele pegou uma pequena colher de prata, enfiou-a no bolo e a levou aos meus lábios. Ele havia deliberadamente pegado do centro, da parte do bolo que eu sabia que estava contaminada.

"Vamos lá", ele insistiu, sua voz uma arma gentil. "Por mim."

Olhei em seus olhos, procurando por qualquer lampejo de culpa, qualquer rachadura na fachada. Não havia nada. Apenas uma sinceridade serena e amorosa. Ele era um mestre. Um sociopata em um terno feito sob medida.

A luta se esvaiu de mim. Era mais fácil interpretar meu papel, ser a esposa dócil e confiante que eles esperavam. Era a única maneira de meu próprio plano funcionar.

Eu abri a boca.

A textura cremosa foi imediatamente violada por algo arenoso, algo nojento que cobriu minha língua. O gosto era indescritível. Forcei-me a engolir, a bile subindo pela minha garganta. Sorri para ele, um sorriso morto e oco.

"Está... delicioso", consegui dizer, engasgando.

Seu rosto se abriu em um sorriso triunfante e amoroso. "Eu sabia que você ia gostar." Ele deu um tapinha na minha cabeça como se eu fosse um cachorro. "Preciso correr para o escritório um pouco, mas farei um café da manhã decente para nós quando voltar. Apenas descanse."

Ele beijou minha testa e saiu do quarto, assobiando baixinho.

No momento em que a porta da frente se fechou, corri para o banheiro e vomitei, meu corpo convulsionando enquanto eu colocava para fora o bolo e tudo mais em meu estômago. Ajoelhei-me no chão de mármore frio, tremendo, um frio profundo se infiltrando em meus ossos. Isso não era apenas uma brincadeira. Era uma violação. Ele não apenas não me amava; ele me desprezava tanto que me assistiria comer sujeira para sua diversão e de sua amante. Ele não tinha consideração pela minha saúde, minha dignidade, minha humanidade.

Mais tarde naquele dia, as cólicas estomacais começaram. Eram violentas e implacáveis. À noite, eu estava encolhida em uma bola no chão, suando e delirando de dor. Alex me encontrou lá e me levou às pressas para o pronto-socorro do Albert Einstein, seu rosto uma máscara de preocupação frenética.

"Gastrite aguda", disse o médico depois que fizeram uma lavagem estomacal. "Você comeu algo incomum?"

Alex, segurando minha mão, respondeu por mim. "Não, nada. Não entendo como isso pôde ter acontecido." Ele parecia tão convincente, tão absolutamente arrasado.

Eu entrava e saía de uma névoa de morfina. Em um momento de semilucidez, ouvi o celular dele vibrar repetidamente na mesa de cabeceira. Ele pensou que eu estava dormindo. Observei por entre as pálpebras semicerradas enquanto ele o pegava.

Seu rosto estava iluminado pela tela. Ele estava sorrindo.

Eu não conseguia ouvir o que ele estava digitando, mas não precisava. Eu sabia. Eu tinha visto as mensagens antes de ser levada para cá.

Carla: *Ela está bem? Você não a envenenou de verdade, né?*

Alex: *Relaxa. Só uma virose estomacal. Os médicos estão confusos. Você precisava me ver, estou interpretando o papel de marido dedicado à perfeição. Mereço um Oscar por isso.*

Marco: *KKKKK. Diga a ela que estamos todos pensando nela!*

Uma cascata de emojis de risada encheu sua tela. Ele digitou de volta: *Ela está dormindo agora. Coitadinha. Completamente sem noção.*

Meu coração, que eu pensei que não poderia se quebrar mais, fraturou-se em um milhão de pequenos pedaços. Fechei os olhos com força, uma única lágrima quente traçando um caminho pela sujeira e suor na minha têmpora.

Senti um toque leve no meu ombro. Abri os olhos. Alex estava inclinado sobre mim, seu rosto gravado com preocupação. Ele havia guardado o celular.

"Ei", ele sussurrou, acariciando meu cabelo. "Você acordou. Você me assustou, Ju."

Eu apenas o encarei, minha expressão vazia.

Ele sorriu suavemente. "Descanse um pouco. Estarei bem aqui."

Ele se acomodou na desconfortável cadeira de visitante, puxando o casaco ao redor de si, fingindo uma vigília cansada. Eu o observei até minhas pálpebras ficarem pesadas novamente.

Quando acordei horas depois, a primeira luz do amanhecer estava se infiltrando pela janela. Alex tinha ido embora. Um bilhete estava na mesa de cabeceira.

*Tive que ir ao escritório para uma reunião de emergência. Voltarei assim que puder. Te amo. - A*

Eu sabia onde ele estava. Ele estava com Carla, rindo. Recontando a história. Comemorando sua última vitória.

Deitei na cama branca e estéril, o cheiro de antisséptico enchendo minhas narinas, e pela primeira vez desde que este pesadelo começou, não senti raiva ou tristeza. Não senti absolutamente nada. Apenas um silêncio vasto e vazio. Era o silêncio de uma casa depois que a tempestade passou, deixando apenas destroços para trás. O amor se foi. A esperança se foi. Tudo o que restava era o plano.

Virei a cabeça para a janela, observando a cidade acordar, e uma risada seca e amarga escapou dos meus lábios. Uma única lágrima rolou pela minha bochecha, quente e final.

            
            

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