E de repente seu irmão mais novo apareceu, colocando-o contra a parede com uma proposta impensável. Quando soube o motivo, explodiu de raiva.
-Como você pode ser tão irresponsável?!
Mas Daniel não podia deixar o irmão e Laura à própria sorte. Muito menos abandonar a criança que estava a caminho. Por trás da armadura de gelo que tinha criado ainda existia um homem de coração quente.
-Quem é ela? -perguntou.
E voltou a perder a calma quando Harry falou de Deanna.
-Mas se ela estuda na Universidade com você, isso quer dizer que... tem a sua idade?
-Sim, tem 25, como eu e a Laura.
-Harry, você enlouqueceu? Eu tenho 15 anos a mais que ela.
-É a única que pode aceitar isso, Daniel. Não conheço mais ninguém que toparia.
Não só teria que se casar com uma mulher que não conhecia, como também ela era 15 anos mais jovem. Uma universitária que nunca tinha visto na vida. Aquilo só podia dar errado.
-A mamãe vai ter um infarto, você sabe disso.
-Você dá conta dela. Sempre conseguiu impor sua vontade quando queria alguma coisa, mesmo com a oposição dos nossos pais.
-Isso é diferente, Harry. Acha mesmo que eles aceitariam que eu me casasse de repente com uma mulher bem mais nova, que ninguém conhece e que estuda com você?
-Pelo menos podem dizer que eu apresentei vocês.
Daniel não teria grandes problemas para impor sua vontade, mas a história precisava ser convincente. Era uma mulher muito jovem para ele, e não era o seu estilo. Seu irmão realmente o estava colocando em um aperto; havia coisas demais para justificar.
Oficialmente, só tinha se envolvido com duas mulheres nesses anos todos, e apenas por insistência da mãe, que queria que os netos tivessem uma figura materna. Uma delas não se incomodava com o fato de ele ter três filhos, mas Daniel não gostava dela. A outra também não lhe agradava, mas facilitou as coisas porque não tinha intenção nenhuma de ser mãe. O resto foram casos ocasionais, sem importância.
-Tenho que conhecê-la ao menos. Já falou com ela?
-Ainda não, vou falar esta tarde. Tenho certeza de que vai nos ajudar. Obrigado, irmão, obrigado.
-É melhor que você se torne um pai exemplar e comece a criar juízo.
-Claro que sim. A Laura e o nosso bebê só merecem o melhor.
-Fico feliz em ouvir isso.
Para ele e sua falecida esposa, as coisas tinham sido bem diferentes. Apesar de terem se casado jovens, como Harry e Laura, Daniel já tinha terminado os estudos e começado a trabalhar na empresa da família.
Desde pequeno sempre fora muito responsável e aplicado. Enquanto outros meninos praticavam esportes ou brincavam, ele aprendia idiomas. Enquanto os colegas viajavam pelo mundo, ele fazia aulas de matemática e estatística. Tinha uma disciplina incomum para alguém tão jovem.
Sempre se comportava como um cavalheiro, era austero e reservado, seguia à risca as regras da família. Graças a isso, seus pais raramente lhe proibiam alguma coisa, e ele pôde se casar cedo com a namorada da adolescência.
Foram uma família feliz. Sua esposa equilibrava o caráter um tanto frio e rígido de Daniel. Harmonizavam perfeitamente, eram um casal adorável. Depois vieram os filhos, trazendo ainda mais alegria. Por isso, quando Emily morreu, todo o seu mundo desmoronou.
Não lhe restou alternativa senão dedicar-se inteiramente aos três filhos e ao trabalho. Não podia se permitir cair. Agora era o único pilar em pé.
Sua irmã o ajudou no primeiro ano com as crianças. Mas, como sempre na vida, Daniel mostrou ser capaz de ser um bom pai solteiro. Talvez um pouco rígido e inflexível em alguns aspectos, mas muito amoroso.
-Assim que eu falar com a Deanna, te aviso.
-Por que você tem tanta certeza de que ela vai aceitar?
-Porque é a Deanna.
-E o que isso quer dizer?
-Que ela é assim: não hesita em te apoiar ou estar presente quando precisa. É uma grande amiga.
-Entendi...
-Só... você acha que poderia ser um pouco menos você mesmo?
-Do que você está falando?
-Você sabe... menos frio e sério. Ela é uma mulher incrível, Daniel, mas vai assustá-la com o seu jeito.
-Isso é ridículo, Harry.
Na verdade, ele era um cavalheiro, mas tinha a tendência de ser um pouco... grosseiro às vezes, sem perceber. Simplesmente era o seu jeito. Até lhe deram um apelido que ninguém ousava repetir na sua frente: "Cara de Gelo Crusher". E tinha fama nos negócios de ser implacável e rígido. Estava sempre sério, raramente sorria e costumava dizer o que pensava, sem se importar se desagradava ou não.
Aquilo precisava dar certo de qualquer jeito. O tempo estava acabando. Harry marcou um encontro dos quatro em seu apartamento para acertar os detalhes e inventar uma história plausível. Agora que a amiga também estava a bordo, se cruzassem os dedos e tivessem fé, ainda teriam uma chance.
-Ela sabe das crianças?
-Sim, já mencionei algumas vezes... acho. De qualquer forma, não vai ter problemas com isso.
-Vamos precisar estabelecer regras em relação às crianças também.
Nenhum deles tinha ideia do quanto sua pequena "peça teatral" traria de consequências, ou de como mudaria a vida da "Poderosa Dean" e do "Cara de Gelo". Mas as engrenagens já estavam em movimento; o mais complicado seria fazer com que os pais aceitassem a nova nora sem grandes questionamentos.
Deanna se arrumou o melhor que pôde naquela noite. Vestiu um vestido preto e sapatos baixos, mas elegantes. Não tinha muitas roupas que causassem boa impressão, mas pelo menos precisava tentar agradar Daniel. Estava um pouco nervosa, mas reuniu todo o seu otimismo e foi para o apartamento de Harry.
Por sua vez, Daniel também escolheu algo não muito elegante, um pouco conservador, mas que não denunciasse demais a idade. Inconscientemente, tentava se ajustar à nova "parceira". Sentia-se um tanto pressionado pelo fato de ela ser tão jovem; talvez o visse como um velho e não quisesse continuar.
O que Harry tinha querido dizer com "ser menos ele mesmo"? Ele não via nada de errado no seu jeito. Era um homem bem-sucedido, com filhos bem-educados e muito respeitado em seu círculo social. Sua imagem era impecável, séria e admirada por muitos. Tinha boa posição e era um excelente partido para qualquer mulher. Harry estava muito enganado... não estava?
Antes de sair, passou pelo quarto do pequeno Jonathan, que já dormia. Recolheu alguns brinquedos que estavam no chão e ficou olhando para ele por alguns minutos. Pensava que o filho de Harry cresceria com os dois pais juntos, enquanto Jonathan já tinha esquecido o rosto da mãe e mal conseguia se comunicar com ele. Não sabia mais o que fazer pelo filho.