-Certo, vou dar o meu melhor.
-De verdade, Deanna, não sei como agradecer o que você está fazendo. Sei que não ficou com uma boa impressão do Daniel na outra noite e que vai ter que adiar os estudos por nossa causa. Mas você não faz ideia do que isso significa para mim.
-E colocou as mãos sobre a barriga.
-Estou mais do que feliz por poder ajudar vocês, não seja boba. Esse pequeno grãozinho que está crescendo dentro de você terá os melhores pais do mundo e vai ser feliz. Isso é tudo o que importa.
-E terá uma tia maravilhosa.
-Que vai mimar até cansar.
-Vamos gastar o dinheiro do Daniel, precisamos achar a roupa perfeita.
-Certo, deixa eu me trocar primeiro.
Na vida, Deanna nunca tinha entrado em lojas daquelas. O vestido mais barato equivalia a três meses do salário dela. Havia mesmo gente que gastava tanto em uma única peça? Sentia-se resistente a comprar aquelas coisas, mas não era só roupa nova: também sapatos, bolsas e uma visita ao salão, segundo Laura.
Então era assim que eles estavam acostumados a viver: Laura só passava o cartão de crédito e elas saíam de uma loja para entrar em outra. E não só isso, passavam muito tempo provando modelos e escolhendo cores. A cabeça de Deanna já estava começando a doer. Era um mundo totalmente estranho para ela.
A vida dela sempre foi simples. A mãe e a avó a criaram praticamente dentro do pequeno restaurante que administravam, entre panelas e temperos. Teve uma infância normal, brincando com os amigos no parque depois da escola. Uma adolescência comum, entre amigas e idas ao cinema. Trabalhou no restaurante desde os 16 anos e teve seu primeiro amor aos 17.
De repente, estava mergulhada em um mundo totalmente novo e não tinha certeza se podia aproveitá-lo. Nada daquilo que emocionava Laura despertava nela o mínimo interesse. A única paixão dela sempre foi cantar, e tudo o que queria era fazê-lo em um teatro de renome até não poder mais. Também não buscava fama nem fortuna; quando cantava, sentia uma energia que não sabia descrever, era feliz, era livre.
-Acho que essa cor combina muito bem com o tom do seu cabelo.
-Não faço ideia do que você está falando, Laura, mas você é a especialista. -Laura riu.
-Então deixa tudo por minha conta. Nem o Harry vai te reconhecer.
Os professores ficaram surpresos quando ela se apresentou na audição para a prova de ingresso. Ninguém entendia como de um corpo tão magro podia surgir uma voz com tamanha potência, alcançando as notas mais altas sem perder a intensidade. Definitivamente estava destinada a um futuro brilhante.
No palco, Deanna mudava completamente: já não era a mesma sempre otimista e sorridente. Transformava-se em uma presença que captava todos os olhares; sua postura mudava e seu rosto expressava uma paixão que atingia qualquer um que a observasse. Colocava toda a alma em cada interpretação.
-Parece que estou vestida como minha tia-avó... e ela já morreu.
-Está exagerando, ficou magnífico... mas talvez não seja o seu estilo.
-Vamos demorar muito mais?
-Não podemos voltar até que encontre o traje perfeito para impressionar a todos... Embora eu ache que o Daniel já ficou impressionado.
-Seu cunhado é o homem mais impassível que eu conheço.
-Ele é uma ótima pessoa, só um pouco...
-Sem graça?
-Formal, eu diria.
Na verdade, Deanna não tinha esperado que Daniel fosse tão atraente pessoalmente. Imaginava que seria um homem diferente, mas ele não aparentava seus 40 anos, também não parecia mais jovem. Era como se estivesse no momento exato da vida. Tinha apenas alguns fios grisalhos nas têmporas e se expressava mais com os olhos do que com as palavras. Sua aparência era formal, como dizia Laura, mas ao mesmo tempo dava a impressão de ser totalmente acessível.
Se não fosse pelo jeito rude de falar e pelas tentativas de impor sua vontade, até se entenderia por que o consideravam um bom partido. Deanna percebeu algo mais, mas não ousava mencionar a Laura; talvez fosse só impressão, mas Daniel parecia carregar uma tristeza muito grande dentro dele. Conhecia sua história por Harry, provavelmente era por isso.
-Ah, sim! Esse é o certo para você.
-Tem certeza?
-Claro! Como você se sente nele?
-Como uma Prima Donna.
-Então é esse.
-Graças aos céus! Já podemos ir? Estou com fome.
-Claro, vamos comer alguma coisa e depois procuramos o resto.
Deanna jurou para si mesma que ia matar o Harry quando o visse.
Enquanto elas faziam compras, Harry tinha ido visitar o irmão no escritório. Precisava conseguir que Daniel diminuísse um pouco a intensidade no trato com Deanna. Sabia que ela não desistiria, mas também não queria que virasse alvo do temperamento complicado do irmão.
Só que naquele momento Susan estava com ele, tentando descobrir se o que a mãe havia comentado era verdade. No fim, Harry decidiu confessar tudo.
-Tenho dois irmãos que fugiram de um hospício... Eles são loucos.
-Ah, Harry, você sabe que não temos outra opção, e tudo por causa daquela regra da família. Sua amiga foi a única que aceitou nos ajudar.
-Ela deve gostar muito de você para ter topado isso sem pedir nada em troca.
-Ela é simplesmente incrível. Por isso te peço, Daniel, por favor, tenta ser menos rígido, está bem?
-Essa mulher é combativa e sempre tem uma resposta. Por que não pede para ela ser mais dócil?
-Irmão, estamos colocando-a em uma situação difícil e ela não tinha obrigação nenhuma de aceitar. Só quer nos ajudar.
-Ele tem razão, Harry. Trata ela bem, Daniel.
-Vocês me fazem parecer um monstro sem coração.
-Claro que não... só que às vezes você é um pouco distante e muito, mas muito arrogante mesmo quando quer.
-De jeito nenhum.
-De jeito sim, Dan -disse Susan.
Com o apoio de Susan, toda aquela farsa tinha mais chance de parecer convincente. Embora ela ainda não entendesse como Daniel tinha aceitado tão facilmente, estava certa de que o irmão mais velho jamais se prestaria a algo assim. Mas se havia um sobrinho a caminho, tudo fazia sentido. De qualquer forma, devia haver outro fator envolvido. Ela descobriria quando enfim conhecesse Deanna.