A faculdade ainda estava vazia quando cheguei. Um campus bonito, moderno, cheio de gente que parecia saber exatamente o que estava fazendo ali. Eu, por outro lado, me sentia como uma intrusa.
Mas isso mudou assim que conheci a diretora Flávia.
Ela me recebeu com um sorriso largo e um olhar gentil - algo que eu raramente via em figuras de autoridade.
- Querida Zara! Seja muito bem-vinda! - disse, apertando minhas mãos entre as dela. - Suas aulas começam na próxima semana, mas que bom que veio conhecer o campus antes.
Assenti educadamente, ainda tentando me acostumar com tanto entusiasmo.
- Aqui está um envelope - ela continuou, pegando algo da mesa. - É uma carta de admissão para a Castellani Corp. Você começa um estágio remunerado lá.
- Eu...? - arqueei as sobrancelhas. - Mas eu nem comecei as aulas ainda.
- Justamente por isso. - Ela sorriu. - Eles têm um programa de integração para estudantes de administração. Gostam de formar os próprios profissionais.
Peguei o envelope, confusa, tentando entender como minha vida tinha virado de cabeça para baixo em menos de vinte e quatro horas.
Ontem, eu não tinha absolutamente nada.
Hoje, eu tinha um apartamento, comida, uma conta bancária, uma faculdade paga... e agora, um emprego.
- Diretora Flávia... - comecei, hesitante. - A senhora tem certeza que não houve engano?
- Nenhum. - Ela sorriu de novo, como se soubesse mais do que dizia. - Aproveite a oportunidade, querida.
E foi isso.
Saí da faculdade com o envelope apertado contra o peito, chamei um táxi e dei o endereço que estava escrito lá dentro: Castellani Corporation.
O prédio era imenso, espelhado, o tipo de construção que grita poder e dinheiro a quilômetros de distância.
Quando desci do carro, senti o peso do salto e do nervosismo.
Respirei fundo.
"Postura, Zara. Postura. Não mostra que é sua primeira vez em um lugar desses."
Entrei.
O hall era tão grande que minha voz ecoaria se eu dissesse um simples "oi".
Lustres de cristal, piso de mármore, recepcionistas uniformizadas... e eu, tentando parecer natural, como se não estivesse impressionada.
Uma moça com um sorriso simpático me chamou atenção no balcão.
- Bom dia! - disse ela, animada. - Me chamo Liz. Em que posso te ajudar?
- Oi... - forcei um sorriso. - Sou Zara Nox. Vim saber sobre meu estágio. A diretora da faculdade me enviou.
Ela olhou para o computador e, logo em seguida, para mim.
- Ah, sim. Estávamos te esperando. - Ela sorriu. - O senhor Castellani quer falar com você pessoalmente.
Eu pisquei, surpresa.
- Comigo?
- Não se assuste. - Ela riu baixo. - Ele fala com todos os novos estagiários. Mas, pelo que entendi, você vai trabalhar diretamente com ele.
Diretamente com o CEO?
Meu estômago deu um nó.
- Todos os outros estagiários eram homens, mas... - ela inclinou-se um pouco para sussurrar - ele mesmo pediu que essa vaga fosse aberta para uma mulher. Dizem que somos mais organizadas.
Engoli seco.
- Sim... claro.
- O elevador é por ali. Último andar. Há uma recepção lá, com duas salas: a da presidência e a da vice. Boa sorte, Zara.
Sorri em agradecimento e segui para o elevador.
O coração batia rápido demais.
A cada andar que o número aumentava, parecia que eu subia para um outro tipo de vida.
Quando as portas se abriram, fui recebida por uma jovem elegante, provavelmente a secretária da vice-presidência.
- Boa tarde - disse ela. - Senhorita Nox, certo?
Assenti.
- O senhor Castellani está te esperando. Pode entrar.
As palavras ecoaram dentro de mim.
"Está te esperando."
Como se ele já soubesse exatamente quem eu era.
Empurrei a porta devagar.
E lá estava ele.
De costas, olhando pela janela panorâmica que dava uma visão perfeita da cidade.
Alto.
Postura impecável.
O terno escuro perfeitamente ajustado ao corpo.
Ele se virou quando a porta fechou atrás de mim, e, por um segundo, o ar pareceu desaparecer da sala.
Lorenzo Castellani.
O tipo de homem que você vê em revistas e acha que é photoshop.
O olhar dele era frio, calculado, e ainda assim... havia algo nele que me fez estremecer.
Aquele tipo de presença que não precisa de palavras para dominar o ambiente.
- Senhorita Nox. - A voz dele era grave, firme, e soava como uma ordem disfarçada de cumprimento. - Seja bem-vinda à Castellani Corp.
Tentei não gaguejar.
- Obrigada, senhor. É... uma honra.
- Pode se sentar. - Ele indicou a cadeira à frente da mesa de mogno.
Sentei, mantendo as mãos firmes no colo para esconder o tremor.
Ele se sentou também, os olhos fixos em mim.
E foi nesse instante que percebi algo estranho.
Ele parecia... me estudar.
Cada movimento, cada respiração.
- Veio da faculdade de administração, certo? - perguntou, abrindo uma pasta à frente.
- Sim, senhor. - Respondi o mais educadamente possível. - A diretora Flávia me enviou.
- Entendo. - Ele assentiu, sem desviar os olhos. - Gosto de conhecer pessoalmente quem trabalha perto de mim.
A intensidade do olhar dele me fez engolir em seco.
Tentei desviar, mas era impossível.
A cada segundo, eu me sentia mais presa ali.
Entre o nervosismo e uma curiosa atração que não fazia sentido algum.
- Parece nervosa. - Ele comentou, um leve sorriso nos lábios. - Costuma ser assim com todos os novos funcionários?
- Não, senhor... - menti. - Só não esperava ser recebida por... você.
Ele arqueou uma sobrancelha, divertido.
- "Você"? Não é assim que minhas funcionárias costumam me chamar.
O calor subiu até o meu rosto.
- Me desculpe... senhor Castellani.
Ele riu baixo, um som rouco, quase perigoso.
E por um instante, o ar entre nós pareceu mudar.
Ele apoiou os cotovelos sobre a mesa, entrelaçando os dedos.
- Diga-me, Zara, por que escolheu administração?
Olhei para ele, tentando manter a compostura.
- Porque quero entender o que faz o mundo girar, senhor.
- E o que faz o mundo girar, na sua opinião?
- Poder. - Respondi sem pensar.
Um sorriso quase imperceptível curvou seus lábios.
- Boa resposta.
O silêncio se instalou.
Mas não era um silêncio desconfortável.
Era denso. Quente.
Ele me olhava como se me conhecesse - e, ao mesmo tempo, como se tentasse decifrar algo que só ele sabia.
- Gosto da sua confiança. - Ele disse, por fim. - Vai precisar dela aqui.
Tentei sorrir, mas o coração estava acelerado demais.
Ele se levantou. O movimento fez o perfume dele preencher a sala - um aroma amadeirado, masculino, caro.
De repente, ele estava perto demais.
Encostou-se à mesa, a poucos passos de mim.
- O setor de administração começa às nove. Estará lá amanhã. - A voz dele saiu baixa, firme. - Sua função inicial será me auxiliar pessoalmente.
- Eu... pessoalmente? - repeti, surpresa.
- Exatamente. - O olhar dele desceu até meus lábios por um segundo - rápido demais para ser notado, mas eu notei. - Tenho a sensação de que você aprende rápido.
O ar sumiu dos meus pulmões.
Ele sorriu, quase imperceptível, como se soubesse o efeito que causava.
- Algo errado, senhorita Nox?
- N-não, senhor.
Ele voltou para trás da mesa e pegou um crachá.
- Bem-vinda oficialmente à Castellani Corp. - estendeu o crachá em minha direção. - E... Zara?
- Sim?
- Evite chamar atenção demais. Aqui dentro, tudo o que brilha demais costuma ser perigoso.
Havia uma seriedade na voz dele que me fez estremecer.
Peguei o crachá e forcei um sorriso.
- Eu não costumo brilhar, senhor.
- Veremos. - murmurou, voltando ao trabalho.
Saí da sala tentando respirar.
O coração ainda batia forte, e minhas pernas pareciam de gelatina.
Apertei o crachá nas mãos.
"Meu Deus... o que foi isso?"
Ele era... tudo o que um homem não devia ser: perigoso, confiante, inacessível.
E, mesmo assim, algo em mim implorava para revê-lo.
Mas eu não podia.
Eu tinha um emprego a zelar.
E ele era meu chefe.
Quando entrei novamente no elevador, uma parte de mim já sabia: aquele homem não seria apenas o início da minha carreira.
Ele seria o início da minha ruína.
{...}