Eu não senti nada. Nenhuma raiva, nenhum ciúme. Apenas um vazio vasto e cansado. Era como assistir a uma peça onde eu sabia as falas, mas tinha esquecido as emoções por trás delas.
Bia deu um passo à frente, seu rosto uma máscara de decepção.
"Amélia, isso não é justo. Esta também é a casa da Kaila. Ela não tem para onde ir. Você não pode simplesmente expulsá-la no aniversário dela."
Olhei para Bia, a mulher que um dia chamei de irmã. A mulher cujo desastroso primeiro projeto de design eu fiquei acordada por setenta e duas horas seguidas para ajudar a consertar, salvando-a de ser demitida. A mulher que chorou no meu ombro por semanas após seu primeiro grande término. Ela me agradeceu na época, suas palavras efusivas.
"Eu não sei o que faria sem você, Amélia. Você é a pessoa mais leal que eu conheço."
Agora, essa lealdade era uma via de mão única, e eu estava do lado errado dela. Todo o seu apoio era direcionado a Kaila, a vítima charmosa e chorosa.
"Isso não é da sua conta, Bia", eu disse, minha voz fria.
"Claro que é!", Alex interveio, sua voz se elevando. "Estes são nossos amigos! Você não pode simplesmente fazer uma cena e esperar que todos ignorem. Você ainda está guardando rancor por um erro estúpido."
Ele gesticulou vagamente entre ele e Kaila.
"Ela é uma garota! Ela cometeu um erro. Você vai jogar isso na cara dela para sempre? Você deveria ser a adulta aqui!"
Suas palavras eram uma torrente, projetadas para me afogar em culpa. Mas eu já estava entorpecida. Observei sua boca se mover, ouvi as acusações raivosas e senti... nada.
Ele estava certo sobre uma coisa. Eu era a adulta. Eu era a adulta desde os vinte e dois anos, forçada a criar a filha do meu pai. Mas eu não seria mais a adulta em seu drama fabricado.
Kaila espiou por trás do braço de Alex, seus olhos vermelhos e inchados. Ela estendeu uma mão hesitante em minha direção.
"Amélia... por favor, não fique brava. Eu faço qualquer coisa. Por favor, não me faça ir embora." Sua voz era um sussurro patético. "Eu não tenho para onde ir."
Meu corpo reagiu antes que minha mente pudesse. Eu recuei, puxando meu braço como se seu toque fosse tóxico.
Foi um movimento pequeno e instintivo.
Mas Kaila era uma artista magistral. Ela tropeçou para trás com um grito dramático, desabando na grama como se eu a tivesse atingido.
A multidão ofegou.
Alex reagiu instantaneamente. Ele me empurrou para o lado - um empurrão real e forte desta vez - e se ajoelhou ao lado de Kaila.
"Kaila! Você está bem? Ela te machucou?"
Ele a olhava com uma preocupação crua e frenética que eu não via em seu rosto há anos. Nem mesmo quando eu era a única deitada no chão com a cabeça sangrando. A visão daquilo foi um golpe físico, uma dor fantasma de uma ferida que a terapia de eletrochoque não havia apagado completamente.
"Meu tornozelo", Kaila gemeu, agarrando a perna. "Acho que torci. Alex, você pode... você pode me levar para dentro?"
Foi um movimento descarado e calculado. Um teste de sua lealdade.
Ele não hesitou. Ele a pegou nos braços, seus movimentos cuidadosos e ternos. Ao se levantar, ele olhou por cima do ombro dela para mim, seus olhos cheios de um nojo que era absolutamente esmagador.
"Estou tão decepcionado com você, Amélia", ele disse, sua voz baixa e venenosa.
Então ele se virou e a levou para dentro de casa, deixando-me sozinha em um mar de rostos hostis.
Alisei minha manga, meus dedos traçando as linhas fracas e prateadas no meu pulso de uma época que eu não queria lembrar, uma época de dor diferente. Era um hábito nervoso, algo para me firmar.
Os convidados da festa me encaravam, seus olhos uma mistura de condenação e desprezo. Bia balançou a cabeça, um olhar de profunda pena em seu rosto, antes de se virar para seu novo marido.
"Vamos apenas comemorar em outro lugar. Isso é simplesmente... demais."
Eles começaram a se dispersar, conversando em tons baixos e julgadores, evitando meu olhar deliberadamente.
"Não acredito nela."
"Pobre Kaila."
"Ela sempre foi tão invejosa."
Invejosa. A palavra foi um soco no estômago. Olhei para a casa, a vida que eu havia construído, as pessoas que eu chamava de amigos, e senti uma onda de algo quente e afiado, algo que cortou a névoa entorpecente.
"Fora", eu disse, minha voz mais alta agora, mais clara. "Todos vocês. Fora da minha casa."
Alguém riu. Uma mulher que eu mal conhecia, a acompanhante de um dos colegas de Alex.
"Não seja tão vadia, Amélia. Não pega bem. Não é à toa que o Alex prefere sua irmã."
A crueldade daquilo me tirou o fôlego.
Enquanto os últimos saíam, deixando um rastro de guardanapos descartados e copos meio vazios, Bia foi a última a ir. Ela parou no portão, virando-se para me olhar.
"Ele hesitou, sabe", ela disse, sua voz suave, como se compartilhasse um segredo. "Quando ele a carregou para dentro. Ele olhou para você."
Eu apenas a encarei, sem compreender.
Ela suspirou.
"Este não é ele, Amélia. Ele te ama. Você só precisa ser a adulta da situação."
Então ela se foi, fechando o portão atrás de si com um clique suave, selando-me dentro da minha casa vazia e violada.