Lembrança: Elara se viu na cozinha quente de seu apartamento na cidade, enquanto Sofia, com seus olhos gentis e sábios, passava as mãos sobre a madeira áspera da bengala. "Nossa cabana é diferente, minha querida. Ela fica na floresta de Blackwood, um lugar de força bruta. Se um dia você for para lá, precisa ter coragem. Você vai sentir o destino em sua pele." Sofia sempre sorria, mas havia uma tristeza distante em seus olhos. "Lá, os animais não são apenas animais, Elara. E os olhos de lobo de lá carregam a verdade mais antiga do mundo."
Elara abriu os olhos no escuro da cabana. Aquelas histórias sempre pareceram fantasiosas na cidade grande. Mas agora, depois de encarar o azul gélido de Arion, o Alpha com um cheiro viciante, a memória não era mais uma fábula. Era um aviso.
Elara se levantou do sofá, sentindo-se desorientada. O medo e a confusão estavam tomando conta de sua mente, e ela precisava desesperadamente de algo palpável para se ancorar. Ela tateou no escuro até encontrar a cozinha e a torneira, enchendo um copo com água fria e bebendo-o rapidamente. A frieza temporária ajudou a dissipar um pouco da névoa.
- Pense, Elara. Racionalize. Foi um sonho. Um delírio.
Mas o cheiro de pimenta e cedro dele ainda estava ali, e isso era inegável.
A Tentação Proibida
Ela voltou para o sofá. O relógio mental de Elara girava. Ela estava exausta, mas a imagem de Arion – a força implacável de seu corpo, a maneira como ele a olhava, como um predador faminto, e o beijo de ar proibido entre eles – invadiu sua mente com uma intensidade esmagadora.
Um calor traiçoeiro se espalhou pelo seu ventre. Ele era o seu Mate. O pensamento era repulsivo e, ao mesmo tempo, deliciosamente corruptor. Ela se mexeu no sofá, sentindo-se presa pela própria atração.
A mão dela subiu, hesitante, até a borda da sua calça, sentindo a urgência da sua nova e assustadora biologia. Seu corpo, acostumado à apatia da vida urbana, estava respondendo com uma intensidade brutal ao Alpha que ela acabara de conhecer. Ela quase cedeu ao toque, à rendição da sua própria carne ao instinto.
Com um gemido de repulsa e desejo, ela se forçou a afastar a mão.
"Estou ficando louca," ela pensou, a testa franzida de confusão. "Ele é um monstro possessivo, e eu estou aqui, sozinha, no escuro, excitada pela memória de um homem que me ameaçou. Isso não sou eu."
O Amanhecer e o Alpha Retorna
Ela não dormiu. Quando o primeiro raio de sol tênue penetrou pela janela empoeirada, Elara já não era mais a cética da metrópole. Ela olhou para a floresta densa e silenciosa, e as palavras da Vó Sofia – "o destino em sua pele" – trouxeram uma certeza fria. Os lobos eram reais. O misticismo era real. E o Alpha era o seu Mate.
Antes que pudesse processar o terror da sua nova realidade, a porta da frente se abriu com um estrondo silencioso.
Arion estava ali. Ele tinha voltado para a cabana, impecável, sem o cheiro de suor da noite, mas com um poder ainda mais concentrado. Ele a viu no sofá – desgrenhada, exausta, e com um brilho de desejo reprimido nos olhos. O cheiro dela, misturado com o calor da noite e a essência da excitação que ela tentara sufocar, era um mapa olfativo que lhe deu uma imagem quase exata da luta interna dela.
O Alpha sorriu de lado, um sorriso frio e cruelmente satisfeito que mostrava que ele sabia exatamente o que ela havia passado.
"Vejo que você teve uma noite de reflexão," ele disse, sua voz baixa e zombeteira. Ele se inclinou sobre a mesa da cozinha, os olhos azuis gélidos fixos nos dela. "O instinto é primitivo e, para um Alpha, quase irresistível, não é, Mate? É uma pena que tenha tentado lutar contra ele. Eu, no entanto, gostei do cheiro da sua rendição incompleta."
O rosto de Elara queimou em um tom escarlate de vergonha. Ela se sentiu completamente despida de sua privacidade.
"Eu... Eu não sei do que você está falando," ela gaguejou, desviando o olhar, mas o cheiro de pimenta dele era um ímã. "Eu estava com medo. É só isso. Você cheira a... a bicho!"
O sorriso de Arion se alargou, revelando uma satisfação genuína que era quase tão perigosa quanto sua raiva. Ele deu um passo lento para longe da mesa, aproximando-se do sofá onde ela estava sentada. Ele parou bem acima dela, dominando seu espaço.
"Você pode tentar mentir para si mesma, Elara," ele sussurrou, a voz grave e sedutora, "mas para o meu lobo, o seu medo cheira a flores, e a sua negação... Ah, a sua negação tem o cheiro mais doce que já senti."
Ele baixou a cabeça, e Elara sentiu a respiração quente dele roçar sua orelha, e ela se encolheu, quase cedendo. Seus instintos clamavam por ele.
Arion se endireitou, afastando-se de repente. A diversão desapareceu de seu rosto tão rápido quanto surgiu, substituída pela máscara de Alpha. A leveza do momento se dissipou como fumaça.
"Mas chega de jogos," ele disse, a voz voltando ao tom de autoridade fria. Ele levantou três dedos, a imagem do predador no controle total.
"Eu te disse ontem que você não é bem-vinda, Mate. Mas você é a minha responsabilidade. Você não é forte, não é esperta e é um farol de problemas." Ele levantou três dedos, a imagem do predador no controle total. "Você precisa de regras."
Arion se aproximou ainda mais, e Elara não conseguiu mover um centímetro sequer. O calor dele irradiava, e o perigo nunca pareceu tão irresistível.
"Regra Um: Você não sai desta cabana sem a minha permissão, exceto para o essencial. Regra Dois: Você não fala com mais ninguém da Alcateia. Se alguém se aproximar, você me liga. Imediatamente. Regra Três: Você não vai me desafiar. Jamais. Se me desobedecer, eu serei forçado a... ser o Alpha que a Alcateia precisa."
Ele hesitou. Seu olhar caiu para a boca de Elara, mas ele se afastou bruscamente, como se estivesse se queimando.
"Eu voltarei ao anoitecer para ter certeza de que você entendeu. E se Morgana tentar algo, você vai me contar," ele ordenou, o nome da loba rival soando como um aviso final e sombrio.
E, assim como na noite anterior, ele se foi, deixando Elara com o coração acelerado e uma certeza aterrorizante: ela não era livre e estava sob o domínio de um Alpha que a odiava e a desejava na mesma medida