A caixa de papelão pesava nos braços de Elara, mas não tanto quanto a dor vazia em seu peito. Seis meses haviam se passado desde que sua Avó Sofia se fora, e a cabana em Redwood Creek era a única herança que restara de sua família. Não era apenas uma propriedade velha; era o único lugar onde Elara sentia que a memória de Sofia permanecia real.
Sua avó sempre falava de Redwood Creek com uma reverência estranha, mencionando "a força da floresta" e "a vigilância das estrelas". Elara, uma jovem prática e cética, ignorava as histórias místicas de Sofia na metrópole. Agora, fugindo da monotonia e da dor da vida urbana, ela se viu seguindo as pegadas da avó.
Ela precisava de um recomeço. Ela precisava entender por que Sofia havia escolhido morrer sozinha neste lugar isolado.
A Chegada e o Sentimento de Estar Sendo Observada
O ar de Redwood Creek era pesado e cheirava a pinho molhado e algo mais, algo selvagem e indescritível que Elara não conseguia ignorar – era o mesmo cheiro de musgo e terra que impregnava as cartas antigas da avó.
Ela abraçou a caixa, sentindo o frio da noite de outono penetrar suas roupas enquanto tropeçava na varanda da nova e velha cabana. Sua mudança, uma tentativa de honrar a memória de Sofia e fugir da dor, já parecia um erro impulsivo.
Um movimento na escuridão da floresta, a poucos metros, fez seu coração saltar. Não era um animal pequeno. Era grande, forte, e os olhos, que ela mal conseguiu distinguir, pareciam observá-la com uma inteligência fria, quase... possessiva.
- Só pode ser o cansaço, ela tentou se convencer, acalmando a respiração. Sofia, o que você escondeu aqui?
O Encontro com o Alpha
Ela girou a chave enferrujada e empurrou a porta da frente, aliviada pela fraca luz interna. Foi quando o cheiro a atingiu.
Não era o cheiro da floresta ou do mofo da cabana. Era algo mais profundo, mais inebriante, como uma mistura de terra recém-revirada, cedro queimado e, estranhamente, pimenta. Era o cheiro mais potente e viciante que ela já havia sentido. Ele era a própria escuridão, e vinha de dentro da casa.
Ela largou a caixa com um baque surdo, e no mesmo instante, o som de um copo caindo na cozinha fez ecoar o silêncio.
"Quem está aí?" A voz de Elara saiu fraca, quase inaudível.
Do batente escuro da cozinha, emergiu a silhueta imponente de um homem.
Ele era o caos e a ordem em forma humana: a camisa escura apertada nos músculos e os jeans surrados. Seus cabelos eram da cor da noite e os olhos, de um intenso azul gélido, pareciam carregar a severidade de mil anos. Ele tinha a postura de um rei, e a mera presença dele parecia roubar o oxigênio do lugar.
Por um segundo, eles apenas se encararam. O mundo exterior desapareceu. Elara sentiu um calor agonizante se espalhar pelo seu ventre, uma urgência primordial de se aproximar e, ao mesmo tempo, de fugir. O instinto gritava para ela se submeter. O ar entre eles crepitou, denso, pesado, intoxicante.
O homem cerrou a mandíbula, seus olhos fixos nos dela em uma mistura de repulsa, desejo predatório, e algo mais... algo que parecia memória.
"Você tem os olhos dela," ele rosnou, sua voz grave e autoritária, cheia de uma raiva que parecia ter vindo de anos de mágoa. "O cheiro da floresta, a mesma fraqueza..."
Elara estremeceu. "Eu não sei do que você está falando. Esta cabana é minha. Eu sou Elara."
O nome não o acalmou; o atingiu. Ele deu um passo em sua direção.
"Eu sei quem você é, humana," Arion corrigiu, a voz baixa e perigosa. "A neta de Sofia. Eu senti o cheiro de seu sangue vindo da cidade. Sua avó me atazanava a vida com as profecias dela. E agora, ela me manda a única coisa que eu não posso ter."
Ele parou a centímetros de distância, tão perto que ela podia sentir o calor emanando de seu corpo. Ele se inclinou, e a escuridão de seus olhos azuis gélidos parecia engoli-la. A atração era tão forte que Elara teve que apertar as mãos para não tocá-lo.
"Eu sou Arion, o Alpha. Seu maior problema. E, infelizmente para nós dois, o seu Mate," ele respondeu com uma intensidade fria e possessiva, antes de se virar e sumir pela porta dos fundos como se nunca tivesse estado ali.
Mas Arion não era o único a ter notado a nova presença.
Longe dali, no coração da floresta, uma loba alta de pelagem negra parou seu patrulhamento. Morgana levantou o focinho para o vento, sentindo a mesma fragrância recém-chegada – o cheiro doce de humano misturado, de forma revoltante, ao odor inconfundível do seu Alpha.
A loba bufou, os olhos vermelhos brilhando com desprezo e ódio. A Deusa da Lua devia estar brincando. Após anos de lealdade, força e espera, Arion estava sendo ligado a uma simples humana fraca, que cheirava a medo.