Com o peito pesado e o coração acelerado, misturando-se ao caleidoscópio de sentimentos conflitantes, Alexandra passou aqueles segundos silentes fitando o belo rosto de Gideon Belmont colecionando todos os detalhes que passara a amar naquele verão conturbado e cheio de aventuras na companhia do misterioso rapaz que parecia ter vivido tão mais que ela.
Os olhos castanhos, os cabelos lisos e castanho-claro sendo agitados pelo vento, umedecendo-se na chuva... A boca carnuda que havia beijado por tantas noites em seu pequeno apartamento próximo ao campus... Repassava, com a expressão incômoda do rapaz, os oito meses mais perfeitos de sua vida serem completamente destruídos por aquele olhar e pelo silêncio de seus lábios.
- Você deveria se controlar - disse ele, com voz firme, grave. Fria e distante. Como se fossem meros conhecidos.
Aquilo a quebrou no meio e pode ouvir o próprio coração se partir tamanha era a indiferença em seu tom e semblante. Como ele pode fazer isso? Depois de tudo? As perguntas passavam zunindo por seu foco, perdendo-se em curvas aleatórias entre os bons momentos e aqueles segundos de dor.
- Eu acabei de dizer que amo você, e é isso que vai me responder? - indagou ela, dando um passo atrás.
- O que você quer que eu diga? - Ele devolveu tirando as mãos dos bolsos e abrindo os braços. - Quer que eu diga que te amo também? Que vamos ter uma ótima vida juntos e que vou permitir de bom grado que você destrua seu futuro para ficar comigo? Ora, por favor, Alexandra.
Quanto mais ele falava, pior era a sensação. A cada palavra uma memória era estilhaçada.
- Quanto tempo mais vamos mentir para nós mesmos? - continuou Gideon. - Isso nunca daria certo...
Àquele ponto, Alexandra já não escondia as lágrimas vertidas sem seu consentimento, contra todo o seu autocontrole. Todas aquelas manhãs passadas com ele, os cafés tomados juntos, as mãos dele massageando seus ombros cansados depois de horas de trabalho da faculdade; os beijos quentes em seu pescoço tenso que a arrepiava inteira; a voz deliciosamente grave de Gideon soando diretamente em seus ouvidos, sussurrando que "era hora de descansar" antes de conduzi-la para o calor da cama; como dizia o quanto ela era inteligente e talentosa, coisa que raramente ouvia da boca de um homem com quem pudesse transar, com quem quisesse fazê-lo.
Ele a havia ganhado tão fácil com seu carisma, seu carinho e admiração, e naquele momento estava estragando tudo! Mais lágrimas grossas marcaram seu rosto, não importava o quanto ela tentasse manter seu semblante inalterável, seus dentes rangiam e seu queixo tremia.
- Pelo amor de Deus, pare de chorar, por favor - pediu Gideon, impaciente. - Só torna tudo isso pior para nós dois.
- O que quer que eu faça então? Sorria e acene? Esqueça tudo o que aconteceu nos últimos meses? - A voz suave dela se transformou num rompante de fúria, mas isso não o abalou nem um pouco. A cada segundo doía mais, e Alexandra só podia imaginar se estava sofrendo tanto quanto ela. - As coisas que você me disse... As coisas que me fez acreditar...
- Coisas que qualquer bom amigo diria.
- Ah, pelo amor de Deus! - Quase o interrompeu, enraivecida e ferida. - Bons amigos trepam até o sol nascer? Bons amigos olham uns para os outros do jeito que nós dois nos olhamos quando...?
Ele soltou uma risadinha cínica.
- Você realmente precisa de mais amigos.
A sensação era de ser atingida no estômago por aquelas palavras ditas tão casualmente, sem o calor que o definia desde o primeiro dia.
Quando os dois se separaram sem um adeus audível, apenas o frio permaneceu, e os estilhaços do coração dela caindo do peito para a calçada como a chuva.
ATUALMENTE
Consciente do perigo de fazê-lo e do que isso implicaria, Gideon se aproximou por trás, abaixou um pouco a cabeça, e falou um pouco próximo a seu ouvido:
- Você não usava Louis Vuitton quando nos conhecemos.