Entre o silêncio e a lua
img img Entre o silêncio e a lua img Capítulo 5 A Marca da Lua
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Capítulo 6 Sob o Sangue da Lua img
Capítulo 7 Ecos da Maldição img
Capítulo 8 Sob o Caçador da Lua img
Capítulo 9 Entre sangue e promessas img
Capítulo 10 Correntes e Desejo img
Capítulo 11 A Maldição dos Blackwood img
Capítulo 12 A casa dos Ecos img
Capítulo 13 Corações em guerra img
Capítulo 14 Sob luar img
Capítulo 15 A CANÇÃO DA NOITE img
Capítulo 16 ECOS DO CAÇADOR img
Capítulo 17 O Primeiro Ataque img
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Capítulo 5 A Marca da Lua

Lívia

Acordei antes do amanhecer, o corpo inteiro ainda tremendo pelo que tinha visto na floresta.

O rosto de Noah não saía da minha mente - nem seus olhos dourados, nem o tom de voz carregado de dor e segredos.

"Sou o que você devia temer."

Mas como temer alguém que, ao me olhar, parece querer me salvar?

As horas seguintes se arrastaram.

Na escola, Noah não apareceu.

Nem uma mensagem, nem um olhar furtivo no corredor.

Só silêncio.

E um vazio estranho, como se o mundo tivesse perdido o ritmo.

Enquanto o professor falava, minhas mãos traçavam o desenho de uma lua partida no canto do caderno.

E, sem perceber, desenhei também um par de olhos - os dele.

- Bonito, mas meio sombrio - comentou Sofia, minha melhor amiga, espiando o desenho.

- É só... algo que sonhei - menti.

Mas o sonho era real.

E o medo também.

Quando o sinal tocou, decidi ir embora direto pra casa.

Mas no caminho, algo me fez parar.

Na esquina próxima ao bosque, havia marcas no chão - pegadas profundas, como se algo enorme tivesse passado por ali.

E no tronco de uma árvore, uma marca prateada que brilhava sob o sol.

Tentei tocar, mas queimou minha pele.

Dei um passo atrás, assustada.

E foi aí que senti - aquele arrepio familiar.

O olhar dele.

Mesmo sem vê-lo, eu sabia que Noah estava por perto.

- Eu sei que está aí - murmurei, sem coragem de virar. - Você não precisa se esconder.

Nada.

Só o vento balançando as folhas.

Mas quando finalmente me virei, ele estava lá.

A poucos metros, de capuz, o rosto meio coberto, a respiração tensa.

- Por que veio aqui de novo? - perguntou, a voz grave, quase um sussurro.

- Porque você sumiu. - Minha voz falhou. - E porque eu preciso entender.

Ele deu um passo à frente, e cada centímetro que nos separava pareceu evaporar.

O ar ficou mais quente, denso.

O mundo inteiro encolheu até caber entre nós dois.

- Você devia ter me esquecido, Lívia. - Ele desviou o olhar, mas o tom traía a dor. - Quanto mais se aproxima, mais perigoso fica.

- Perigoso pra quem? - perguntei, firme. - Pra mim... ou pra você?

Ele ergueu o olhar.

Por um segundo, vi o lobo - o brilho âmbar, selvagem, pulsando por trás da calma.

- Pra nós dois.

Antes que eu pudesse responder, o som de galhos quebrando nos fez virar.

Algo se movia rápido entre as árvores.

Um cheiro forte, metálico, tomou o ar.

Noah ficou tenso, os músculos rígidos, o olhar atento.

- Volta pra casa. Agora.

- O que está acontecendo?

Ele não respondeu.

Em vez disso, segurou minha mão - firme, quente, protetora - e me puxou para trás de uma árvore.

O coração dele batia rápido.

Rápido demais.

- Eles estão perto - murmurou. - E se te virem comigo, vão te marcar também.

- Quem são "eles"? - sussurrei.

Mas ele não respondeu.

Apenas me encarou como se fosse a última vez.

E antes que eu pudesse entender, encostou a testa na minha e respirou fundo.

- Se algo acontecer comigo... siga a lua. Ela vai te levar até mim.

Quando ele se afastou, o mundo pareceu perder o som.

E então - um rugido.

Forte. Inumano.

As árvores estremeceram.

Noah virou-se, os olhos mudando outra vez.

A transformação começou ali mesmo, diante de mim - os músculos tensos, a pele cintilando, a dor estampada no rosto.

Mas o que mais doeu foi o olhar.

Aquele último olhar antes que o lobo tomasse o controle.

Ele correu para dentro da floresta, e eu fiquei parada, o coração disparado, o vento trazendo um uivo longo e triste.

Um uivo que parecia chamar meu nome.

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Noah

A lua ainda não havia subido completamente, mas o sangue já gritava.

Eles estavam aqui - os que me caçavam, os que nunca aceitaram que eu deixasse a matilha.

E agora, eles sabiam que eu a tinha escolhido.

A Marca da Lua começa assim: um toque, um olhar, um laço invisível que o destino amarra com fios de prata.

E quando ela tocou minha pele pela primeira vez, o selo se formou.

Agora, se tentarem machucá-la, sentirão minha fúria.

E eu não sei se vou conseguir contê-la.

O primeiro deles saltou do escuro.

Lobos maiores que homens, olhos vermelhos, presas reluzindo sob a luz difusa.

Ataquei antes que pensassem.

O som dos ossos quebrando misturou-se ao estalar da chuva nas folhas.

A luta foi curta, mas brutal.

E quando o último caiu, a floresta ficou em silêncio.

A dor nas costas latejava, o gosto metálico do sangue ainda na boca.

Mas o que mais doía era a lembrança dela - os olhos assustados, a voz chamando meu nome.

"Se algo acontecer comigo, siga a lua."

Eu sabia o que vinha a seguir.

A Marca estava selada.

E a cada noite, a lua cheia traria ela pra mais perto - até o dia em que o laço se completasse.

Ou até que um de nós fosse destruído.

                         

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