Elisa POV:
Encontrei uma sala vazia nos fundos, o grave da música do clube vibrando surdamente através das paredes. Eu não me permitiria desmoronar. Não aqui.
Meu único objetivo era sair desta cidade, respirar um ar que não estivesse contaminado por sua memória.
Eu me recompus, com as mãos espalmadas sobre uma mesa de madeira fria. Eu só precisava chegar em casa.
Enquanto caminhava pelo corredor silencioso em direção à saída, passei por uma sala adjacente, a porta ligeiramente entreaberta. Ouvi sua voz - João Pedro. Ele estava falando com Marcelo, seu braço direito.
"Ela precisava aprender uma lição", João Pedro dizia, seu tom presunçoso. "Ela precisa se lembrar de quem está no controle."
Meu sangue gelou. Eu congelei, me achatando contra a parede fria, ouvindo.
"Então, qual é o plano com a garota nova?" Marcelo perguntou.
"Catarina?" João Pedro zombou. "Vou mantê-la por perto o tempo suficiente para deixar a Elisa com ciúmes. Dê algumas semanas. Ela vai voltar rastejando, implorando para eu aceitá-la de volta. Ela sempre volta."
O mundo girou em seu eixo. Meu amor, minha dor, meu coração partido - tudo era apenas um jogo para ele. Uma ferramenta para me manipular, para me manter no meu lugar.
Os últimos vestígios de calor em minha alma se transformaram em cinzas e foram levados pelo vento.
Saí do clube sem fazer barulho. Caminhei sem rumo pelas ruas escuras de São Paulo, as luzes da cidade se desfocando através das lágrimas não derramadas.
O "para sempre" que ele me prometera era uma mentira tóxica, uma gaiola na qual eu vivi voluntariamente. Minha devoção não tinha sido amor; tornara-se uma obsessão perigosa, e eu permiti que ele explorasse cada parte dela.
Quando finalmente cheguei à propriedade da minha família, os portões de ferro forjado estavam fechados. E parado na frente deles, sob a única lâmpada fraca, estava João Pedro.
Ele não estava sozinho. Ele estava interceptando um entregador e, em sua mão, segurava um grande envelope pardo. Meu envelope.
O entregador parecia nervoso. "Senhor, minhas instruções são para entregar isso diretamente à Srta. Gallo."
O sorriso de João Pedro era predatório. "Vou garantir que ela receba."
Meu pacote de aceitação. Meus documentos de viagem para o Rio. Minha fuga.
Avancei, meus saltos clicando bruscamente no asfalto, sem nunca diminuir o passo. Caminhei até ele, arranquei os documentos de sua mão e me virei para o entregador atordoado.
"Obrigada", eu disse, minha voz clara e firme enquanto eu mesma assinava a confirmação de entrega. "Eu já peguei."