Elisa POV:
Apertei o pacote contra o peito. "De agora em diante", disse ao entregador, meu olhar fixo no de João Pedro, "toda a minha correspondência deve ser entregue apenas a mim. Meus contatos de emergência estão sendo atualizados."
O sorriso confiante de João Pedro vacilou, um lampejo de confusão nublando suas feições.
"Meus documentos chegaram?" ele perguntou. "O contrato de aluguel do nosso apartamento perto da universidade? Em São Paulo?"
"Não", eu disse, mantendo minha voz perfeitamente calma.
Antes que ele pudesse me pressionar mais, seu telefone vibrou. Ele olhou para a tela, e toda a sua postura mudou. A suspeita em seus olhos desapareceu, substituída por aquela preocupação irritantemente terna. Era Catarina.
"Estou indo aí", ele disse ao telefone, sua voz baixa e suave.
Outra emergência fabricada, outra donzela em perigo.
Ele encerrou a chamada e olhou para mim, sua mente já do outro lado da cidade com ela. Ele já havia se esquecido do pacote, da nossa conversa.
Ele se virou e caminhou para o carro sem outra palavra, cantando pneu para fora da entrada para salvá-la mais uma vez.
Entrei em minha casa e, pela primeira vez em meses, uma profunda sensação de paz me invadiu.
Ele havia feito sua escolha, repetidamente. Agora, eu finalmente tinha feito a minha.
Dias depois, comecei a fazer as malas. Dobrei suéteres e empilhei livros, cada item um pequeno passo em direção à minha nova vida.
Sua retaliação foi rápida e pública. Ele inundou as redes sociais com fotos dele e de Catarina. Uma performance curada para a geração mais jovem do Comando. João Pedro e Catarina em uma festa de gala. João Pedro e Catarina em seu barco. João Pedro e Catarina se beijando sob as luzes da cidade.
Os comentários eram uma nova torrente de humilhação.
"Ele definitivamente melhorou."
"Acho que a princesinha não conseguiu segurar seu príncipe."
"Ela é muito mais gata que a Lia."
Eu li cada comentário, não com a dor aguda, mas com uma dormência distante e pesada. Era como assistir a um filme sobre a vida de outra pessoa.
Esta foi a confirmação final. Meu amor por ele não estava apenas morto.
Estava enterrado, e o solo havia sido salgado, garantindo que nada jamais cresceria ali novamente.