A secretária , segurando alguns documentos, se aproximou e falou em voz baixa, como se tivesse medo de ser ouvida:
- Senhor Marcos, sobre o projeto América... a Sra. Helena adicionou uma nova pessoa à equipe.
Marcos levantou o olhar, observando os números vermelhos do painel do elevador subirem lentamente.
Depois de um breve silêncio, soltou um leve riso, frio e contido:
- Ela tomando decisões sozinha?....
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Durante a reunião, Marcos e Helena acabaram se encontrando.
Embora ainda fossem marido e mulher, o clima entre eles era tenso - quase gelado.
Os executivos da empresa perceberam o contraste.
Antes, Helena era a esposa calma e discreta, muitas vezes ofuscada pela presença de Marcos.
Mas agora, sentada à mesa de reuniões, ela parecia outra pessoa - segura, elegante e determinada.
Vendo os dois discutirem questões de negócios com a mesma firmeza, os gerentes do Grupo Duarte , ficaram impressionados.
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Quando a reunião terminou, o sol já começava a se pôr.
Helena voltou para sua sala, recostou-se no sofá de couro e massageou as têmporas, tentando aliviar a tensão.
A assistente Neia entrou com um copo de água e o colocou sobre a mesa.
- Sr. Helena, - disse ela suavemente - o advogado particular do senhor Marcos ligou.
Ele quer marcar um encontro com a senhora no café do primeiro andar.
Helena abriu os olhos lentamente.
Por um momento, ficou em silêncio...
Depois, com um leve suspiro, respondeu:
- Tudo bem. Diga a ele que eu estarei lá em dez minutos.
Helena pegou o elevador privativo, e desceu no primeiro andar.
Gustavo Ávila usava um terno inglês de três peças, perfeitamente ajustado ao seu corpo alto e elegante.
Seu rosto, de traços firmes e olhar sério, transmitia aquela mistura de disciplina e charme que parecia natural nele.
Ao ouvir os passos de Helena se aproximando, ele levantou o olhar.
Nos olhos escuros e tranquilos dele, surgiu um leve brilho de surpresa.
Ele nunca tinha visto Helena daquele jeito.
Em sua lembrança, Helena era sempre a mulher impecável - vestidos caros, postura elegante, sempre ao lado de Marcos em eventos de negócios, com um sorriso educado e discreto.
Mas todos no círculo social sabiam: Marcos não a amava. Marcos já tinha outro alguém.
Hoje, porém, Helena estava diferente.
Ela havia trocado o vestido formal por uma blusa de tricô leve, confortável, que realçava sua silhueta com simplicidade. O cabelo, liso e escuro, caía solto sobre os ombros, com algumas mechas rebeldes que davam a ela um ar suave, quase vulnerável.
Por um instante,Gustavo se distraiu observando-a.
Helena sentou-se diante dele, o olhar firme e sereno.
"Marcos pediu que fosse você quem me procurasse?" - perguntou ela, com a voz calma, mas carregada de significado.
Gustavo manteve o olhar calmo e a postura impecável de sempre.
Ele abriu a pasta, tirou um documento e o empurrou suavemente para Helena.
"De acordo com o contrato pré-nupcial," disse com serenidade, "se a senhora insistir no divórcio, talvez as condições não sejam muito favoráveis."
Helena pegou o documento, folheando lentamente as páginas.
Quando chegou à última, ficou imóvel por alguns segundos.
Quatro anos antes, foi ali mesmo que Marcos havia segurado sua mão pela primeira vez - o começo de uma história que agora terminava em silêncio.
Ela respirou fundo, e com a voz tranquila, respondeu:
"Mesmo que as condições não sejam boas, eu quero seguir em frente. Dr Avelar , e por favor... Não me chame de Sra.Duarte. Me chame de Helena."
Gustavo, acostumado a lidar com separações de gente poderosa, já tinha o coração endurecido como ferro.
Ele levou a xícara aos lábios, tomou um gole de café e perguntou num tom leve, quase distraído:
"Posso perguntar uma coisa? Por que decidiu se divorciar agora? Você não amava o Marcos?"
Helena desviou o olhar, um sorriso amargo cruzando seu rosto.
"Amor?" ela murmurou. "Sim... eu amei.
Talvez demais. Mas às vezes amar não é o suficiente para continuar."
O advogado ficou em silêncio por um instante, observando-a.
Havia uma tristeza contida nos olhos de Helena, mas também uma força nova - algo que deixava claro que ela não voltaria atrás.
O mundo inteiro sabia que Helena amava Marcos - todos, menos ele.
Ou talvez ele soubesse, mas simplesmente não se importasse mais.
Naquele instante, havia em Helena uma beleza frágil e delicada, uma vulnerabilidade que a tornava ainda mais irresistível.
Aos olhos exigentes de Gustavo Ávila, ela estava mais deslumbrante do que nunca - não no brilho de uma mulher vaidosa, mas na serenidade de quem finalmente decide se libertar.
Enquanto ele refletia, a porta do café se abriu de repente.
Uma silhueta alta, de passos firmes e postura impecável, entrou no ambiente - o ar ao redor pareceu se alterar por completo.
Não era qualquer homem.
Era Marcos.
Assim que entrou, seus olhos se fixaram em Gustavo, e depois em Helena.
A expressão dele era séria, tensa, carregada de pensamentos que não dizia em voz alta.
Por um breve momento, algo dentro de Marcos se agitou.
Ver a esposa ali, sentada diante de outro homem - mesmo que fosse o advogado - o incomodou de uma forma que ele não soube explicar.
Um desconforto inesperado o atravessou, como se algo dentro dele começasse a se partir, ainda que ele tentasse fingir indiferença.
Marcos inclinou levemente a cabeça, em um gesto contido.
Gustavo Ávila sorriu de forma discreta e educada, levantando-se.
"Vou deixá-los a sós", disse, afastando-se e saindo do café, deixando aquele espaço para o casal que um dia dividira o mesmo teto - mas agora, apenas o silêncio.
Assim que Gustavo saiu, Marcos voltou o olhar para Helena.
Seus olhos percorreram a figura dela e, com um leve franzir de sobrancelhas, comentou:
"Por que está vestida assim? Troque de roupa. Depois vamos juntos jantar com meus pais."
Helena sabia muito bem que "jantar com a familia " para Marcos era encenar uma demonstração de casamento perfeito perante a familia Duarte.
Ela poderia dizer não ,porem tinha interesse em jogar o mesmo jogo de Marcos interessada na divisão dos bens após o divorcio,
Com esse pensamento voltou ao escritório e trocou de roupa.