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Capítulo 4 C.03

🛵

Amélia Duarte

A segunda-feira chegou mais rápido do que eu esperava.

Era como se o tempo tivesse decidido não me dar pausa, empurrando-me de volta à vida - mesmo que eu ainda me sentisse remendada por dentro.

O som do despertador me arrancou de um sono leve. A claridade tímida da manhã atravessava a cortina fina do quarto de hóspedes onde eu estava hospedada na casa de Clara. Por um momento, fiquei ali, deitada, observando o teto e tentando entender como a vida podia mudar tanto em apenas alguns dias.

No sábado, eu ainda dormia ao lado de Caio.

Hoje, acordava num quarto que não era meu, com um coração que ainda aprendia a bater sozinha.

Respirei fundo e me levantei.

O chão frio sob os pés me lembrou que a realidade não espera a gente sarar pra continuar.

Na cozinha, o cheiro de café recém-passado me acolheu.

Rebeca estava terminando de arrumar a mesa, com o cabelo preso de qualquer jeito e um sorriso leve - o tipo de sorriso que ela sempre usava pra disfarçar preocupação.

- Bom dia, dorminhoca. - disse, colocando uma caneca à minha frente. - Café com açúcar, do jeitinho que você gosta.

- Obrigada, Beca. - sentei-me e envolvi a caneca entre as mãos. - Dormi um pouco melhor hoje.

- Claro que dormiu. - ela respondeu, se encostando na pia. - Ontem você chorou tudo o que tinha direito. Até eu chorei junto.

Soltei uma risada fraca.

- Eu devo estar acabada, né?

- Tá, mas é um "acabada" bonita. - ela piscou. - Você sabe que a mulher que decide se reerguer tem um brilho diferente, mesmo que ainda esteja em pedaços.

Eu sorri, e aquele elogio ficou ecoando dentro de mim.

Era bonito pensar que alguém ainda conseguia ver brilho em mim quando eu só via rachaduras.

Clara entrou logo depois, já pronta pro trabalho, com o cabelo preso num coque firme e a bolsa pendurada no ombro.

- Bom dia, meninas. - disse, apressada. - Amé, vai dar tudo certo, viu? E se aquele traste ligar de novo, bloqueia.

- Pode deixar. - respondi, sorrindo. - Já não atendo há dois dias.

Ela se aproximou e me deu um beijo na testa.

- É assim que tem que ser. Deus tá te preparando pra algo novo, eu sinto.

---

Depois do café, Rebeca foi arrumar as malas.

Henrique, o marido dela, viria buscá-la ainda naquela manhã. Ele tinha sido um anjo por deixá-la comigo esses dias.

Quando o carro dele chegou, saímos juntas até o portão.

Henrique desceu, me deu um abraço apertado e disse, com a gentileza de sempre:

- Você é forte, Amélia. E vai sair dessa melhor do que entrou, tenho certeza.

- Obrigada, Henrique. De verdade. - respondi, emocionada. - Obrigada por cuidar da Beca e ainda me emprestar ela por uns dias.

Ele riu. - Cuida bem dessa mulher, viu? - disse, olhando pra Rebeca. - E, por favor, não arruma confusão no trabalho novo da sua amiga.

- Eu? Confusão? - ela fingiu indignação. - Jamais!

Rimos os três, e ela me abraçou uma última vez antes de entrar no carro.

- Liga pra mim assim que sair da entrevista amanhã, tá? - disse ela, olhando nos meus olhos. - E lembra do que eu te falei: quando a tempestade parece querer te afogar, é porque Deus tá prestes a abrir o sol mais bonito da sua vida.

Assenti, segurando o choro.

- Eu vou lembrar.

Ela sorriu e entrou no carro.

Quando o veículo se afastou, senti um misto de saudade e gratidão.

Eu ainda não sabia como seria o amanhã, mas naquele momento, pela primeira vez em muito tempo, senti que não estava mais completamente perdida.

---

O resto do dia passou devagar.

Fui trabalhar na loja - meu último dia naquele emprego que tinha me acolhido por quatro anos.

O barulho familiar da porta se abrindo, o cheiro doce do perfume das prateleiras, as vozes das clientes conversando... tudo parecia normal, mas dentro de mim havia um silêncio enorme.

A dona da loja, dona Sílvia, me chamou na salinha dos fundos assim que cheguei.

- Amélia, meu anjo, é verdade o que me disseram? Que você vai sair?

Assenti.

- É sim, Sílvia. Recebi uma proposta pra trabalhar como auxiliar de RH da Mancini Corp.

Ela arregalou os olhos.

- A Mancini? Aquela empresa enorme lá perto do centro?

- Essa mesma.

Um sorriso de orgulho se formou nos lábios dela.

- Eu sabia! Sempre disse que você tinha potencial pra ir além dessas paredes. Mas confesso que vai me fazer uma falta danada, viu?

- Eu também vou sentir, Sílvia. - respondi com sinceridade. - Foi aqui que aprendi o que é responsabilidade, que cresci, que descobri quem eu sou.

Ela segurou minha mão.

- Você vai voar, minha filha. E quando voar, nunca mais aceite gaiolas, entendeu?

As lágrimas me subiram aos olhos.

- Entendi, Sílvia.

---

O dia passou rápido.

Entre clientes, risadas e lembranças, fui me despedindo de cada cantinho.

A prateleira de bolsas onde eu sempre organizava as promoções.

O balcão onde escrevi bilhetes de motivação quando estava triste.

A vitrine, onde sonhei em ser vista de verdade - e não apenas como uma sombra do que restava de mim.

Quando o relógio marcou seis da tarde, desliguei as luzes da loja pela última vez.

O som seco da chave girando na fechadura ecoou como um ponto final.

Do lado de fora, o céu estava pintado em tons de laranja e violeta.

Peguei o celular e vi uma ligação perdida - de um número desconhecido.

Liguei de volta, curiosa.

- Alô? - atendi, ainda caminhando.

- Amélia Duarte? - a voz masculina do outro lado era firme, educada, mas tinha um tom calmo que me fez respirar mais leve.

- Sim, sou eu.

- Aqui é o Lucas Ferraz, da Mancini Corp. Recebi seu contato pelo seu primo, Vinícius. Sou o gerente do setor de Recursos Humanos. Gostaria de saber se você pode vir amanhã às nove da manhã pra conversarmos pessoalmente.

Meu coração acelerou.

- Claro, posso sim! Muito obrigada pela oportunidade.

- Eu que agradeço pelo interesse. - ele respondeu, gentil. - Acredito que sua experiência pode somar muito ao nosso time.

- Estarei lá, com certeza.

- Ótimo. Até amanhã, então.

Quando desliguei, fiquei parada no meio da calçada por alguns segundos.

O vento noturno bagunçava meus cabelos, e o frio suave da brisa parecia um abraço discreto de Deus me dizendo: "Eu te avisei que vinha coisa boa."

Olhei pro céu e sorri.

Talvez Rebeca estivesse certa.

Talvez toda tempestade viesse mesmo pra lavar o caminho antes das bênçãos chegarem.

---

De volta à casa de Clara, contei tudo pra ela.

Ela abriu um sorriso radiante.

- Eu sabia! Eu sabia que Deus tava reservando algo melhor pra você.

- Eu tô nervosa, mas feliz. - admiti, sentando no sofá. - Acho que finalmente vou poder respirar, sabe?

- Vai sim, minha prima. - disse ela, pegando minha mão. - E quando esse emprego der certo, a gente vai comemorar com bolo e tudo.

- Com bolo de chocolate? - perguntei, tentando brincar.

- O mais calórico possível. - ela riu. - Porque recomeço também merece açúcar.

---

Antes de dormir, fiquei olhando pro teto, abraçada ao travesseiro.

Pela primeira vez em muito tempo, o peito não doía tanto.

Ainda havia saudade, claro. Ainda havia medo.

Mas havia também um brilho novo - aquele tipo de esperança que nasce quando a gente finalmente entende que não precisa de ninguém pra ser inteira.

Peguei o celular e mandei uma mensagem pra Rebeca:

> "Amanhã é o grande dia.

Deus está abrindo as portas que eu nem sabia que existiam.

E eu vou entrar por elas de cabeça erguida.

Obrigada por ser minha luz."

Ela respondeu quase de imediato:

> "Eu te disse. A tempestade passou.

Agora, vai e mostra pro mundo quem é Amélia Duarte."

Sorri, com lágrimas nos olhos.

Fechei os olhos e, pela primeira vez, dormi em paz.

O amanhã prometia.

E, dessa vez, seria todo meu.

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