Então, o momento passou. Ela estava no hall de entrada, o piso frio de pedra sob seus pés um contraste com o calor que agora a inundava. A casa cheirava a madeira encerada, flores murchas e passado.
- A vó não me avisou - ela disse, virando-se para enfrentá-lo, tentando recuperar alguma compostura.
Gael fechou a porta lentamente, o ruído da tranca ecoando na sala silenciosa. Ele se virou e se apoiou na porta, as mãos enfiadas nos bolsos do jeans, o gesto puxando o tecido ainda mais sobre a área evidente entre suas pernas. Kethlen não pôde evitar um rápido olhar, registrando o volume definido ali. Um novo fluxo de calor correu por suas veias.
- Acho que ela gosta de armar suas pequenas armadilhas - ele disse, o sorriso ainda brincando em seus lábios. - Sabia que a gente ia se esbarrar assim, sem aviso.
- E isso é uma armadilha? - a pergunta saiu antes que ela pudesse detê-la, carregada de um duplo sentido que pairou pesado no ar.
Os olhos de Gael escureceram, a diversão dando lugar a uma concentração intensa e predatória.
- Depende do que você está caçando, prima.
A palavra "prima" soou estranha em sua boca, um rótulo inadequado para a corrente carnal que agora fluía claramente entre eles. Ele a chamou de "Keth" antes, no portão, um apelido de infância que agora soava como uma carícia íntima.
- Preciso levar minhas coisas para dentro - ela disse, desviando o olhar, rompendo o feitiço. Precisava de espaço, de ar.
- Claro. Qual quarto?
- O de sempre. O da torre.
Ele acenou com a cabeça, mas não se moveu para ajudá-la. Kethlen sentiu o peso do olhar dele nela enquanto se virava e caminhava em direção à escada. A mala estava no porta-malas, mas buscar significava passar por ele de novo. Decidiu ir primeiro ao quarto. Subiu os degraus de madeira, consciente de cada movimento de seus quadris, da maneira como a saia se ajustava às suas nádegas a cada passo. Era uma sensação estranhamente poderosa e vulnerável ao mesmo tempo. Sabia, com uma certeza instintiva, que ele estava a observando. Não era a observação casual de um parente. Era o olhar lento, deliberado, de um homem avaliando uma mulher, traçando as curvas do seu corpo com os olhos, imaginando o que havia por baixo das roupas de linho e seda.
Ela chegou ao topo da escada e se virou para o corredor escuro. A respiração estava acelerada. O simples ato de subir escadas sob o olhar dele tinha sido uma provação. Suas coxas estavam fracas, e um ponto úmido e quente de desejo começava a pulsar em seu centro, um latejar insistente e impróprio que a envergonhava e excitava na mesma medida.
O quarto da torre era como ela lembrava – grande, circular, com janelas altas que ofereciam uma vista deslumbrante do vale. O ar estava parado e cheirava a poeira e lençórios guardados. Deixou a bolsa em cima da cama de dossel, as mãos tremendo ligeiramente. Precisava se recompor. Gael estava aqui. Na mesma casa. E a atração que ela sempre sufocou, enterrada sob o rótulo de "primos", havia explodido à superfície com a força de um vulcão adormecido.
Desceu as escadas, determinada a agir com normalidade. Ele não estava mais no hall. Seguiu o som de ruídos vindos da cozinha. Gael estava diante da geladeira, bebendo água diretamente de uma garrafa, o pescoço inclinado, os músculos do seu garganta trabalhando com cada gole. A cena era despretensiosamente íntima e visceralmente erótica. Ele a viu e baixou a garrafa, uma gota de água escorrendo pelo seu queixo.
- Achei que você fosse buscar a mala - ele comentou, passando o dorso da mão pela boca.
- Depois - ela disse, entrando na cozinha. A atmosfera estava carregada. Cada movimento, cada olhar, cada palavra parecia ter uma camada subjacente de intenção sexual. - Está com fome? Podemos pedir algo.
- A vó deixou a despensa cheia. Posso fazer um macarrão, se quiser.
Kethlen arregalou os olhos. - Você cozinha?
- Um homem tem que se virar - ele encolheu os ombros, abrindo a despensa. Ele se esticou para alcançar um pacote de espaguete na prateleira de cima, e a camiseta subiu, revelando uma faixa de pele bronzeada e tensa nas costas, e a borda da cueca preta por sobre a cintura das calças. Kethlen sentiu a boca secar. Era um corpo trabalhado, não o de um garoto. Era o corpo de um homem que sabia o que fazer com ele.
- Macarrão está bom - ela sussurrou, afastando-se e apoiando-se na pia, precisando de algo sólido para se segurar.
Enquanto ele mexia os ingredientes numa panela, com uma eficiência que era surpreendentemente atraente, Kethlen o observava. Observava a maneira como os músculos de seus braços se flexionavam, a maneira como suas costas largas se moviam sob a camiseta, a concentração em seu rosto perfilado. Cada detalhe era uma descoberta, um combustível para o fogo que agora ardia em suas entranhas. Ele era proibido. Era seu primo. Mas naquele momento, naquela cozinha silenciosa e cheia de fantasmas, a única coisa que importava era a atração animal e incontestável que puxava um pelo outro.
- Então, como está a vida na grande cidade? - ele perguntou, quebrando o silêncio pesado. - Projetando arranha-céus?
- Algo assim - ela respondeu, cruzando os braços sob os seios, um gesto defensivo. - E você? Ainda na oficina?
- Sim. Mas é minha agora. Comprei a parte do sócio no ano passado.
- Parabéns - ela disse, e a admiração em sua voz era genuína.