O Arquiteto que Ressurgiu
img img O Arquiteto que Ressurgiu img Capítulo 2
2
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

Ponto de Vista de Eloísa Azevedo:

O quarto do hospital cheirava a antisséptico e café velho, um contraste gritante com a doçura enjoativa das mentiras de Arthur. Acordei com uma dor surda na cabeça e uma mais aguda no peito. O médico tinha sido gentil, me garantindo que a queda não foi grave, apenas alguns hematomas e uma leve concussão. Mas as feridas emocionais eram muito mais profundas.

Meu primeiro pensamento coerente não foi sobre Arthur, ou Bianca, ou o projeto do museu. Foi sobre escapar. Permanentemente.

Peguei meu celular, meus dedos tremendo levemente enquanto rolava pelos contatos. Pulei o nome de Arthur, pulei meus ex-colegas. Parei em um nome que não ligava há anos: a tia de Clara, Eleonora Vianna. Eleonora era uma amiga distante da família, uma força tranquila da natureza que morava em Chicago. Ela era a única pessoa em quem eu confiava o suficiente para pedir ajuda sem julgamento.

"Eleonora", sussurrei no telefone, minha voz rouca. "É a Eloísa."

Sua voz, quando veio, era quente e firme. "Eloísa, querida. O que há de errado? Você nunca liga tão tarde."

Respirei fundo, as palavras saindo em uma torrente. "Eu preciso ir embora. De tudo. Preciso desaparecer."

Houve uma pausa, um momento de compreensão, não de choque. "Estou te enviando uma passagem", ela disse, sua voz firme. "Para hoje à noite. Leve pouca coisa. Não olhe para trás."

Eu não discuti. Não expliquei. Ela não perguntou. Essa era Eleonora.

As horas seguintes foram um borrão. Fui para casa, a cobertura de Arthur, que agora parecia estranha e sufocante. Arrumei uma única mala de mão. Sem roupas de grife, sem joias caras. Apenas o essencial. O único item pessoal que me permiti foi um pequeno e gasto caderno de esboços, cheio dos meus primeiros desenhos. Minha alma.

Entrei cambaleando no meu escritório de arquitetura na manhã seguinte, o cansaço pesando nos meus ossos. Eu tinha que terminar a transferência do projeto do museu. Tinha que arrancar meu próprio coração e entregá-lo a Bianca.

"Eloísa, você está aqui!" A voz de Bianca, animada e brilhante, irritou meus nervos. Ela já estava na minha mesa, organizando arquivos, como se fosse a dona do lugar. Ela estava usando meu lenço de seda favorito, aquele que Arthur me deu no nosso aniversário. Meu estômago se contraiu.

"Bianca", eu disse, minha voz fria, desprovida de qualquer calor. "Preciso que você se afaste da minha mesa. Eu mesma cuidarei da transferência."

Ela fez beicinho, sua fachada de inocência cuidadosamente construída de volta no lugar. "Ah, Eloísa, eu só estava tentando ajudar! Arthur disse que você poderia estar... sobrecarregada. Eu queria aliviar seu fardo."

Eu a encarei, uma fúria fria crescendo dentro de mim. "Eu não preciso da sua ajuda, Bianca. E não preciso da preocupação de Arthur." Meu olhar se voltou para o lenço. "Tire meu lenço."

Seus olhos se arregalaram, fingindo surpresa. "Ah! Isso? Arthur me deu esta manhã. Ele disse que ficaria melhor em mim."

Uma nova onda de náusea me atingiu. Ele estava deliberadamente torcendo a faca. Ele não estava apenas tomando meu projeto; ele estava me apagando, me substituindo, pedaço por pedaço.

Naquele momento, a porta externa do escritório se abriu. Arthur. Seus olhos, embora ainda distantes, continham um brilho de algo, talvez preocupação com a tensão na sala. Ele foi direto para Bianca, colocando a mão nas costas dela.

"Está tudo bem aqui?", ele perguntou, sua voz calma, mas com uma rigidez subjacente que alertava contra qualquer desafio. Ele nem olhou para mim.

"Eloísa está sendo um pouco difícil, Arthur", disse Bianca, sua voz suave, quase um gemido. "Eu só estava tentando ajudar com a transferência do projeto, mas ela parece chateada."

Arthur finalmente se virou para mim, seu olhar percorrendo meu rosto machucado, depois demorando na mala aos meus pés. Um músculo em sua mandíbula se contraiu. "Eloísa", ele disse, sua voz baixando uma oitava, "esta não é a maneira de lidar com as coisas. Bianca faz parte da equipe agora. Minha equipe."

O ar parecia denso, pesado com acusações não ditas e ressentimento. Meus colegas, geralmente agitados, agora estavam congelados em suas mesas, fingindo trabalhar, mas seus olhos dardejavam entre nós. Eu estava sendo humilhada publicamente. De novo.

Uma risada amarga me escapou. "Sua equipe, Arthur? É isso que ela é? Um novo troféu? Um novo projeto para moldar?"

Seu rosto endureceu. "Cuidado com o tom, Eloísa. Bianca é uma jovem arquiteta talentosa que merece uma chance. Uma chance que você parece determinada a negar a ela."

"Eu não nego nada a ela", retruquei, minha voz surpreendentemente firme. "Exceto talvez minha aprovação de seus métodos." Meus olhos se voltaram para o lenço novamente. "E meus pertences pessoais."

O lábio inferior de Bianca começou a tremer. Seus olhos se encheram de lágrimas. Ela era uma mestra na atuação. "Eu realmente não queria chateá-la, Arthur. Eu só..."

De repente, Bianca balançou, tropeçando para trás. Seu pé prendeu na perna de uma cadeira, e ela caiu com um grito suave. Não uma queda alta e dramática, mas um colapso sutil e vulnerável que a fez parecer completamente indefesa.

Arthur estava ao lado dela em um instante, segurando sua cabeça. "Bianca! Você se machucou?" Sua voz estava cheia de preocupação genuína, um tom que eu não ouvia dirigido a mim há semanas. Ele olhou para mim, seus olhos ardendo em acusação. "Eloísa, o que você fez?"

"Eu não fiz nada!" Minha voz era aguda, incrédula. "Ela tropeçou sozinha!"

Bianca fungou, a mão agarrando o tornozelo. "Está tudo bem, Arthur. Eu sou apenas desajeitada. Eloísa não quis... me assustar." A acusação implícita pairava no ar, pesada e condenatória.

Arthur se levantou, ajudando Bianca a se erguer gentilmente. Ele me fuzilou com o olhar. "Chega, Eloísa. Você vai embora. Agora. E quando voltar, espero que tenha se resolvido. Bianca assumirá o projeto do museu, com efeito imediato. Considere este seu último aviso."

Ele passou o braço de Bianca por seu ombro, apoiando-a enquanto caminhavam em direção ao elevador. Suas cabeças estavam próximas, sua mão acariciando suavemente o cabelo dela. A intimidade do gesto foi um golpe físico. Era da mesma forma que ele costumava me segurar quando eu estava chateada, quando eu estava vulnerável.

Minha mente girou, uma montagem doentia de memórias passando diante dos meus olhos. O toque gentil de Arthur quando eu estava doente, suas promessas sussurradas de para sempre, sua proteção feroz. Onde estava aquele homem agora? Ele realmente existiu, ou foi apenas uma miragem à qual eu me agarrei desesperadamente?

Peguei minha mala, meus dedos cravando na alça. A dor no meu peito era surda agora, substituída por um vazio frio e resoluto. Não havia mais nada para mim aqui. Sem amor, sem respeito, sem futuro.

Saí do escritório, passando pelos rostos atônitos dos meus colegas, pelo silêncio boquiaberto do elevador. Eu não olhei para trás. Não havia motivo. Minha casa, minha carreira, meu casamento – tudo se foi.

Mas ao sair para a luz do sol, uma pequena centelha de algo novo se acendeu dentro de mim. Não esperança, ainda não. Mas uma determinação feroz e inflexível. Os pedaços de Eloísa Azevedo podiam estar quebrados, mas não permaneceriam assim.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022