O Arquiteto que Ressurgiu
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Capítulo 4

Ponto de Vista de Eloísa Azevedo:

A cobertura estava viva com o som de risadas quando finalmente cheguei em casa, horas depois da minha humilhação pública. Não a minha risada, mas a risadinha aguda de Bianca misturada com a gargalhada profunda e ressonante de Arthur. Parecia que eu estava entrando na casa de um estranho, em uma festa para a qual não fui convidada, em uma casa que costumava ser minha.

Atravessei o hall de entrada, os sons desconhecidos irritando meus nervos em carne viva. Meus olhos se fixaram em um toque de vermelho vibrante jogado sobre o braço do sofá. Meu roupão de seda feito sob medida, um presente de Arthur no nosso primeiro aniversário. Aquele que eu só usava em ocasiões especiais.

Bianca saiu da cozinha, uma taça de champanhe na mão, o cabelo levemente desgrenhado, as bochechas coradas. Ela estava usando meu roupão. A seda vermelha brilhava na luz suave, agarrando-se à sua figura esguia. Foi um ato deliberado e calculado. Uma marcação de território.

"Bianca", eu disse, minha voz perigosamente baixa, meu controle por um fio. "Tire meu roupão. Agora."

Seus olhos se arregalaram, fingindo surpresa. "Ah! Eloísa. Você voltou." Ela olhou para o roupão, depois para mim, um brilho de desafio em seu olhar. "Arthur disse que você não voltaria por um tempo. Ele disse que eu poderia ficar à vontade." Ela deu de ombros, um pequeno sorriso quase imperceptível brincando em seus lábios. "E isso era tão confortável! Não achei que você se importaria."

"Eu me importo", retruquei, aproximando-me, minha voz ganhando força. "Esse roupão é meu. Não é para empréstimo. Tire-o."

Seu sorriso vacilou. "Não precisa ser tão agressiva, Eloísa. É só um roupão."

"Não é só um roupão", disparei. "É meu. E você está desrespeitando minha casa, meu espaço e a mim."

Antes que ela pudesse responder, Arthur entrou, uma garrafa de champanhe na mão. Ele parou abruptamente, sentindo a tensão. Seus olhos, embora ainda distantes, se estreitaram ligeiramente enquanto ele observava a cena: Bianca com meu roupão, eu furiosa.

"O que está acontecendo aqui?" Sua voz era ríspida, um aviso.

"Eloísa está chateada por causa de um roupão, Arthur", disse Bianca, sua voz baixando para um tom suave e magoado. Ela puxou a seda mais apertada ao redor dela, como se eu a estivesse ameaçando. "Eu só o vesti porque estava com frio."

Arthur se virou para mim, sua expressão se suavizando ligeiramente para Bianca, depois endurecendo quando olhou para mim. "Eloísa, é só um roupão. Não faça uma cena. Bianca é nossa convidada."

"Ela está usando meu roupão, Arthur", eu disse, minha voz tremendo com uma mistura de raiva e incredulidade. "Aquele que você me deu."

Ele olhou para o roupão, depois para Bianca, um brilho de irritação em seus olhos. "E daí? É só seda. Não é uma herança de valor inestimável. Bianca fica linda nele." Ele descartou meus sentimentos com um aceno de mão. "Honestamente, Eloísa, você está sendo totalmente irracional. Vá vestir outra coisa, Bianca."

Meu coração afundou, uma pedra pesada no meu peito. Ele banalizou meus sentimentos, meus pertences, minha própria existência. Ele costumava saber o quanto eu valorizava seus presentes. Ele costumava saber o quanto ele os valorizava. Agora, era apenas "seda".

Minha mente voltou ao dia em que ele me deu. Estávamos enrolados na cama, o sol da manhã entrando pelas janelas. Ele desembrulhou a caixa, seus olhos brilhando de prazer genuíno enquanto observava meu rosto. "Para minha rainha", ele sussurrou, beijando meu pescoço, "algo tão bonito e luxuoso quanto você." Aquelas palavras, antes cheias de amor, agora pareciam veneno.

Eu olhei para ele, realmente olhei para ele, e percebi que o homem que eu amava se foi. Substituído por um estranho que me via como um obstáculo, um inconveniente.

"Tudo bem", eu disse, minha voz oca. "Fique com o roupão. Aproveitem o champanhe." Virei nos calcanhares, a vontade de escapar avassaladora.

No jantar, eu mal toquei na comida, meu apetite há muito desaparecido. Arthur e Bianca conversavam alegremente sobre o dia deles, sobre o "progresso" no projeto do museu. Bianca continuava me lançando olhares triunfantes, sua mão frequentemente encontrando o caminho para o braço de Arthur, seu joelho, sua coxa, um toque casual e íntimo que torcia a faca mais fundo. Ele não se afastou. Ele apenas sorriu, um sorriso que antes guardava para mim.

Apertei meu garfo com mais força, meus nós dos dedos brancos. A ponta dele escorregou, e uma dor lancinante atravessou minha mão. Eu tinha me esfaqueado acidentalmente. Uma pequena gota de sangue brotou.

"Oh, Eloísa, você está bem?", perguntou Bianca, sua voz cheia de falsa preocupação. "Você parece um pouco... pálida."

Arthur, no entanto, virou-se para Bianca, sua preocupação imediata e genuína. "Bianca, querida, você está bem? Ela não te machucou, não é?" Ele estendeu a mão sobre a mesa, inspecionando a mão dela como se eu fosse um animal selvagem, capaz de atacar a qualquer momento. Ele nem olhou para minha mão sangrando.

Seu completo descaso pela minha dor, seu foco imediato em Bianca, foi um soco no estômago. A memória dele se preocupando com meu joelho ralado de uma queda desajeitada anos atrás, limpando suavemente a ferida, beijando para sarar – parecia uma vida inteira atrás.

De repente, Bianca fez um som suave de engasgo. Ela tossiu, um suspiro delicado, quase teatral. Ela agarrou a garganta, seus olhos arregalados com o que parecia ser angústia genuína.

Arthur ficou instantaneamente alarmado. Ele se levantou de um salto, correndo para o lado dela. "Bianca! O que há de errado? Você está engasgando?" Ele deu tapinhas nas costas dela, seu rosto marcado pela preocupação.

Ela balançou a cabeça, lágrimas brotando em seus olhos. "Eu... acho que engoli algo ruim. Um... um pedaço da comida. Tinha um gosto estranho, Arthur. Como... metal." Seus olhos se voltaram para mim, um olhar calculado.

Arthur congelou, então seu olhar, frio e furioso, se fixou em mim. "Eloísa, o que você fez?", ele exigiu, sua voz um rosnado baixo. "Você adulterou a comida?"

Meu garfo caiu no prato. "Você está louco, Arthur? Eu não fiz nada! Mal toquei no meu próprio prato!"

"Ela me odeia, Arthur!", Bianca soluçou, sua voz abafada contra o ombro dele. "Ela sempre me odiou! Ela tentou me envenenar!"

"Envenenar você?" Eu os encarei, completamente chocada. O absurdo da acusação era impressionante. "Arthur, você não pode acreditar nela! Isso é ridículo!"

Ele aninhou Bianca perto, acariciando seu cabelo. Seus olhos, quando encontraram os meus, estavam cheios de veneno. "Eu acredito no que vejo, Eloísa. E o que vejo é você, ciumenta e vingativa, recorrendo a medidas desesperadas." Ele afastou Bianca um pouco, seu rosto uma máscara de ternura. "Não se preocupe, querida. Eu vou cuidar disso."

Meu sangue gelou. Ele nem estava considerando o meu lado. Ele já me havia condenado. A raiva, aguda e quente, que estava fervendo dentro de mim, de repente se solidificou em algo frio e duro. Ele realmente se foi. O homem que eu amava era um fantasma, substituído por este estranho cruel e iludido. Isso estava além do conserto. Além do perdão.

Isso era uma piada. Uma piada doentia e distorcida, e eu era o alvo.

            
            

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