"Lá em cima", ele ordenou, sua voz fria, desprovida de calor. "Agora."
Meu coração martelava contra minhas costelas. Eu sabia o que ele queria dizer. Ele esperava que eu o seguisse, que obedecesse. Como um cachorro. Uma parte de mim queria desafiá-lo, fincar o pé. Mas a ameaça daqueles vídeos, daqueles momentos íntimos transformados em arma, me mantinha cativa.
Caminhei em sua direção, cada passo pesado, arrastado. Meu corpo parecia pertencer a outra pessoa, machucado e esvaziado pelo luto. Eu ainda estava me recuperando do parto, do trauma físico e emocional. Minha guarda estava baixa, meu espírito estilhaçado.
Quando cheguei ao pé da imponente escadaria, Christian se moveu. Foi rápido, inesperado. Um empurrão. Um empurrão violento por trás que me fez rolar. Meus pés perderam o apoio no mármore polido.
Um grito rasgou minha garganta enquanto eu caía. Para baixo, para baixo, para baixo. O corrimão se tornou um borrão. Minha cabeça bateu em algo duro. A dor explodiu atrás dos meus olhos. Aterrissei em um monte no chão, meu corpo gritando em protesto. Um gosto metálico e forte encheu minha boca. Quando toquei minha têmpora, meus dedos voltaram grudentos de sangue.
Fiquei ali, atordoada, o lustre ornamentado acima de mim balançando loucamente. Minha visão nadava. A dor era excruciante, mas o choque era pior. Ele tinha me empurrado. Meu marido.
"Christian", ofeguei, a palavra arrancada dos meus pulmões. Minha voz era um sussurro rouco. "Você... você tentou me matar."
Ele desceu lentamente as escadas, os olhos fixos em mim, mas sem trair nenhuma emoção. Sem pânico, sem arrependimento. Apenas um olhar distante. Era como se ele estivesse observando um mecanismo defeituoso.
Meu coração sangrava, não pelo ferimento na minha cabeça, mas pelo abismo aberto em minha alma. Este era o homem que havia prometido me valorizar, me proteger. Este era o homem que me procurou, me perseguiu implacavelmente, apesar do meu passado.
Ele se ajoelhou ao meu lado, seu toque enviando arrepios de repulsa pela minha espinha. Sua mão, antes tão gentil, agora parecia uma marca de ferro em brasa. Ele afastou uma mecha de cabelo do meu rosto, seu polegar roçando minha têmpora ensanguentada. Por um segundo fugaz, vi um brilho de algo em seus olhos – preocupação? Irritação? Eu não sabia dizer.
"Você está sendo egoísta, Elena", ele disse, sua voz mais suave agora, quase persuasiva. Era uma manipulação arrepiante. "A Bia está muito chateada. Ela se sente péssima pelo bebê. Ela precisa que você assine esses papéis."
Minha mente não conseguia conciliar suas palavras com suas ações. Ele tinha acabado de me empurrar escada abaixo, e agora estava me culpando?
"Egoísta?", minha voz era fina, irregular. "Eu perdi nosso filho! E você protege a mulher que o matou! E ainda me empurra da escada?"
Ele ignorou minhas palavras, tirando o mesmo documento do bolso interno do paletó.
"Assine, Elena. Poupe-nos do trabalho. Ou o mundo inteiro vai ver o quão desesperada você era por mim."
A ameaça fria e dura novamente. Meu corpo estava em agonia, minha cabeça girando, mas minha mente estava clara em uma coisa: eu não lhe daria a satisfação de me ver quebrar completamente. Não assim.
Com cada grama de força que me restava, peguei a caneta, a prata fria contra meus dedos latejantes. Minha assinatura era um rabisco trêmulo, quase ilegível, mas estava lá. Meu nome, assinando a renúncia à justiça, assinando a renúncia à minha última gota de esperança.
"Está feliz agora?", perguntei, minha voz carregada de veneno.
Ele pegou o papel, um sorriso fraco, quase imperceptível, tocando seus lábios.
"Boa menina. Agora, tudo pode voltar ao normal." Ele se levantou, pairando sobre mim. "Eu volto hoje à noite. Podemos conversar."
Ele falou como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse acabado de me agredir. Fechei os olhos, uma risada amarga borbulhando em minha garganta. Voltar ao normal? Não havia mais normal.
Ele se virou e foi embora, me deixando caída no pé da escada. Enquanto seus passos se afastavam, um pensamento se cristalizou em minha mente, nítido e claro. Isso não era amor. Isso era crueldade. Isso era controle. E eu não seria mais controlada.
Meus dedos, ainda trêmulos, encontraram meu celular no bolso. Disquei um número que não ligava há anos. Geórgia Almeida Prado. A mãe de Christian. A mulher que me odiava, mas cuja mente fria e calculista eu sabia que agora poderia explorar.
O telefone tocou duas vezes antes que sua voz nítida atendesse.
"Elena. A que devo o desprazer?"
"Eu quero o divórcio", engasguei, as palavras com gosto de cinzas. "E quero sua ajuda."
Houve uma pausa do outro lado da linha, depois uma expiração lenta e satisfeita.
"Finalmente, você caiu em si, querida. Do que precisa?"
Minha jornada de sobrevivência, percebi, tinha acabado de começar.