Eu mesma comprei o jazigo. Christian não ofereceu. Ele nem mesmo perguntou onde nosso bebê descansaria. Sua apatia era uma ferida que se recusava a cicatrizar. Meus dedos traçaram a pedra lisa e fria, uma promessa silenciosa sussurrada para a terra abaixo. *Me desculpe, meu amor. Eu não consegui te proteger.*
Uma lembrança vívida me roubou o fôlego. Christian, com os olhos brilhando, desenhando círculos em minha barriga inchada. "Vamos chamá-lo de Alexandre", ele dissera, "um nome de guerreiro. Vou protegê-lo de tudo, Elena. Do mundo, de todo mal." Mentiras. Tudo. Ele havia protegido a própria pessoa que roubou o futuro do nosso filho.
Agora, parada aqui, o peso de sua traição me sufocava. Ele não apenas quebrou suas promessas para mim; ele as quebrou para nosso filho ainda não nascido. Ele escolheu Bia em vez da própria essência do nosso amor compartilhado.
De repente, um carro de luxo familiar deslizou silenciosamente para dentro do cemitério, estacionando a uma curta distância. Minha respiração falhou. Christian. E ao lado dele, ela. Bia Medeiros, parecendo recatada e inocente em um vestido branco esvoaçante, segurando um buquê de crisântemos brancos. Meu sangue gelou. Como eles ousam?
Eles caminharam em direção à fileira de túmulos, seus passos lentos e deliberados, uma paródia doentia de tristeza. Pararam, não no túmulo do meu bebê, mas em um jazigo genérico e sem marcação próximo, depositando as flores com uma solenidade exagerada. Era uma performance, uma zombaria grotesca do luto.
"O que vocês estão fazendo aqui?", exigi, minha voz afiada, cortando o silêncio.
Christian se virou, seu rosto uma máscara de surpresa. Bia, ao me ver, agarrou o braço de Christian, encolhendo-se atrás dele como uma corça assustada.
"Elena. Que coincidência", disse Christian, seu tom irritantemente plácido. "Estávamos apenas... prestando nossas homenagens."
"Homenagens?", zombei, uma risada amarga escapando dos meus lábios. "A quem? À sua consciência? Ou à mentira que você construiu?" Meu olhar se voltou para Bia. "Você. Você está aqui para lamentar a criança que matou?"
Bia se encolheu.
"Eu já te disse, Elena, foi um acidente! Eu não queria que nada acontecesse!" Ela começou a soluçar, enterrando o rosto no peito de Christian.
A mandíbula de Christian se contraiu. Ele puxou Bia para mais perto, seu braço envolvendo-a protetoramente.
"Chega, Elena. Você está a deixando nervosa."
"Nervosa?", minha voz se elevou, crua de incredulidade. "Ela assassinou nosso filho, Christian! E você ousa protegê-la?"
Seus olhos brilharam.
"Eu te disse, foi um erro! Bia confessou tudo. Ela é delicada, Elena. Não como você." Ele me empurrou bruscamente, fazendo-me tropeçar para trás, minha cabeça ferida latejando novamente. "Você é apenas uma mulher amarga e raivosa."
Minha cabeça bateu na casca áspera de uma árvore próxima. Estrelas explodiram atrás dos meus olhos. A dor era lancinante, mas as palavras cortaram mais fundo. Amarga. Raivosa. Ele tinha feito isso comigo.
"Nosso bebê foi um erro para você?", gritei, as palavras rasgando minha garganta. "Ele era uma vida, Christian! Meu filho!"
"Não se atreva a mencioná-lo!", Christian rugiu, seu rosto contorcido de raiva. Ele agarrou meus ombros, me sacudindo violentamente. "Ele foi um inconveniente! Um problema! E agora, graças à Bia, podemos começar de novo. Uma família pura, sem mácula!"
O mundo se turvou. Inconveniente? Problema? Meu filho, Alexandre, era um inconveniente? O homem que embalou minha barriga, que prometeu proteção feroz, agora chamava nosso filho de problema. Uma família pura, sem mácula. Com ela.
"Você a conheceu por causa do acidente, não foi?", cuspi, a percepção me atingindo como um golpe físico. "Você se apaixonou por ela enquanto eu estava perdendo nosso bebê! Você trocou meu luto pela inocência dela!"
O aperto de Christian se intensificou, seus dedos cravando em minha carne.
"Cale a boca, Elena! Você não sabe do que está falando!"
Ele apertou minha garganta, cortando meu ar. Minhas mãos arranharam as dele, mas ele era muito forte. Minha visão se afunilou. Pontos pretos dançaram diante dos meus olhos. Era isso. Ele ia me matar. Assim como ele matou a memória do nosso filho.
Por uma fração de segundo, enquanto a escuridão ameaçava me consumir, eu vi em seus olhos: um lampejo de pânico, um segundo fugaz de horror. Ele estava perdendo o controle. Então, tão rapidamente quanto apareceu, desapareceu, substituído por uma fúria fria.
Ele me soltou, e eu desabei no chão, ofegando por ar, agarrando minha garganta em chamas. Tossi, meus pulmões gritando por oxigênio.
Bia correu para frente, não para me ajudar, mas para Christian.
"Christian, querido, pare! Você vai se machucar!" Ela olhou para mim, um triunfo venenoso em seus olhos inocentes. "Ela só está tentando te irritar. Ela sempre foi ciumenta."
Ela então se virou para mim, sua voz pingando falsa pena.
"Elena, eu sei que você está triste com o... acidente. Mas você não pode culpar o Christian. Ele tem sido tão bom para mim, tentando me ajudar a superar meu trauma." Ela então olhou para Christian. "Oh, meu pobre amor, você está tremendo. Vamos embora."
Enquanto Bia falava, ela notou um pequeno papel intricadamente dobrado no chão ao meu lado. Era um "patuá de reencarnação", uma pequena oração simbólica que eu havia criado meticulosamente para meu bebê, na esperança de guiar sua alma para um renascimento pacífico. Era meu último e desesperado ato de amor materno.
Os olhos de Bia, grandes e inocentes, pousaram no papel. Um sorriso cruel brincou em seus lábios. Ela deliberadamente levantou seu pé elegante, pronta para pisar nele.
"Não se atreva!", gritei, um rugido primal arrancado do meu peito. Eu me lancei, uma onda de adrenalina correndo pelo meu corpo maltratado. Agarrei seu braço, impedindo que seu pé profanasse minha esperança.
Bia ofegou, recuando.
"O que foi isso? Algum tipo de ritual pagão? Você está tentando me amaldiçoar, Elena?" Ela tropeçou para trás, esbarrando deliberadamente na lápide do nosso bebê, fazendo um show de quase cair. "Oh! Minha cabeça!"
Então, com um estalo doentio, ela desceu o calcanhar diretamente sobre meu patuá dobrado, esmagando-o na terra.
"Ops", ela disse com uma voz cantada, um brilho triunfante em seus olhos. "Que desajeitada eu sou."
Uma névoa vermelha desceu. A última esperança do meu filho. Esmagada. Por ela.
Minha mão voou. TAPA! O som ecoou pelo cemitério silencioso, nítido e alto. A cabeça de Bia virou para o lado, uma marca carmesim florescendo em sua bochecha.
Ela me encarou, os olhos arregalados de choque fingido, depois desabou no chão, soluçando teatralmente.
"Ela me bateu! Christian, ela me bateu! E ela amaldiçoou nosso bebê! Ela disse que ele nasceu azarado! Ela disse que ele foi um erro!"
"Meu bebê não foi um erro!", gritei, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Ele foi um presente! E você, você é uma maldição!"
Christian me puxou para trás, seu rosto contorcido de fúria.
"Saia de cima dela! Sua vadia louca! O que você está fazendo?" Ele me afastou, seu aperto machucando. "Você acha que pode simplesmente vir aqui e profanar este solo sagrado com sua amargura? Bia está esperando um filho meu! Nosso novo começo! E você... você é estéril. Você é tóxica. Você é uma maldição!"
Ele me olhou com tanto desprezo, tanto desdém absoluto, que pareceu mais frio do que qualquer golpe.
"Você se acha religiosa, Elena? Acha que seu Deus aprovaria isso? Você é uma megera patética e ciumenta. Uma divorciada raivosa que não consegue superar!"
As palavras, as acusações, a crueldade absoluta. Eram uma torrente, me afogando. Eu o encarei, o homem que um dia amei, o homem que agora era um estranho. Ele se foi. O Christian que eu conhecia, o Christian que eu pensava conhecer, era um fantasma.
Meu mundo, antes cheio de esperança e amor, era agora um deserto desolado.