Tentei lutar, mas meu corpo parecia lento, enfraquecido. Minha boca estava seca, minha garganta arranhada. O cheiro distinto de pinho e madeira velha enchia o ar, não o cheiro estéril de um hospital.
Através de uma pequena janela suja, não vi nada além de uma floresta densa. Esta não era nossa cobertura. Não era um hospital. Era... outro lugar. Um lugar remoto.
Então ouvi vozes. Christian. E Bia. Suas risadas, leves e despreocupadas, flutuavam através das paredes finas. Meu sangue gelou. Eles estavam aqui. Comigo.
Forcei minhas amarras, meu coração batendo em um ritmo frenético. A porta rangeu ao se abrir, e Christian entrou, seguido de perto por Bia. Eles pareciam desarrumados, como se tivessem acabado de acordar juntos. Bia usava uma das camisas grandes de Christian, seu cabelo uma bagunça charmosa. Ela parecia o retrato de uma mulher profundamente amada, totalmente valorizada.
Os olhos de Christian, desprovidos de reconhecimento, varreram-me. Ele não via Elena Pace, sua esposa. Ele via... outra pessoa.
"É esta?", ele perguntou a Bia, sua voz distante.
Bia me espiou, seu rosto uma máscara de falsa inocência.
"Sim, querido. A que 'acidentalmente' causou meu aborto. A que 'acidentalmente' me empurrou da escada." Suas palavras eram um eco arrepiante dos próprios abusos passados de Christian contra mim. Ela havia distorcido a narrativa, se tornado a vítima da minha "violência".
Minha mente disparou. Aborto? Empurrou-a da escada? Era isso. O plano final de Bia. Ela havia fingido um aborto e me incriminado. O sangue da noite anterior, aquele que confundi com o meu... devia ser dela, parte de sua mentira elaborada.
"Então esta é a 'culpada'", disse Christian, um brilho perigoso em seus olhos. Ele não me reconheceu. Ele pensou que eu era uma funcionária. Uma "empregada". Sua própria esposa.
"Sim. É ela", sussurrou Bia, agarrando o braço de Christian. "Ela estava furiosa com nosso bebê, Christian. Ela me empurrou. Disse que odiava nossa felicidade."
O rosto de Christian escureceu de raiva. Ele estava totalmente convencido. Convencido por suas mentiras, por sua própria obsessão distorcida por "pureza". Ele havia mandado alguém me sequestrar, sua esposa, acreditando que eu era uma empregada vingativa que ousara tocar em sua nova e "pura" família.
Tentei gritar, dizer a ele, *Sou eu, Christian! É a Elena!* Mas minha boca estava amordaçada, um pano áspero enfiado fundo, me silenciando. Minhas lutas se intensificaram, desesperadas, fúteis.
Bia, vendo meu desespero, desempenhou seu papel perfeitamente.
"Christian, querido, não seja tão duro com ela. Ela está apenas... equivocada." Seus olhos encontraram os meus, um lampejo de pura malícia, então ela se virou para Christian, sua voz doce e enganosa. "Mas ela machucou nosso bebê. Muito. Precisamos fazê-la entender as consequências."
Christian cerrou os punhos.
"Ninguém machuca minha família, Bia. Ninguém. Ela vai pagar pelo que fez." Ele se virou para um guarda corpulento parado na porta. "Leve-a. Dê a ela o tratamento de sempre para funcionários insolentes."
Meu coração martelou. "O tratamento de sempre?" O que isso significava?
Fui arrastada para fora do quarto, meus gritos abafados ignorados. Através da névoa de dor e medo, vi Bia dar um beijo demorado em Christian, depois se virar para me ver partir, um sorriso satisfeito no rosto. Ela sabia. Ela sabia exatamente quem eu era. E ela queria que eu sofresse.
Fui jogada em um quarto pequeno e abafado. Era uma sauna, o ar denso e pesado com um calor opressivo. A mordaça ainda estava em minha boca, prendendo meus gritos. A porta bateu, me mergulhando em uma escuridão sufocante.
O calor se intensificou rapidamente. Minha pele pinicou, depois queimou. O suor escorria de cada poro, ardendo em meus olhos. Meus pulmões gritavam por ar fresco. Eu me debati descontroladamente, mas as cordas se mantiveram firmes. Eu podia sentir meu coração acelerado, uma batida frenética contra minhas costelas. Isso era tortura. Tortura física e agonizante.
*Christian, sou eu!* Minha mente gritava, mas nenhum som escapava dos meus lábios amarrados. *Você não consegue ver? Não consegue me reconhecer?*
Meu corpo convulsionou incontrolavelmente. As bordas da minha visão começaram a ficar cinzas. Minha cabeça latejava. Eu estava sufocando. Pensei em nosso bebê, na vida roubada, e uma vontade desesperada e animalesca de sobreviver surgiu em mim. Eu não morreria aqui. Não assim.
Justo quando a escuridão ameaçava me consumir, a porta se abriu com um estrondo. Dois guardas, seus rostos impassíveis, me arrastaram para um corredor mal iluminado. Meu corpo estava mole, minha pele em brasa. Pensei que tinha acabado. Pensei que a punição havia terminado.
Mas então eu o vi. Christian. Alto e ameaçador, um chicote de couro grosso na mão. Seus olhos, frios e duros, fixos em minha forma quebrada.
"Você ousa tocar no meu filho?", ele sibilou, sua voz como gelo. "Você ousa tentar destruir minha família?"
Ele ergueu o chicote. O primeiro estalo foi ensurdecedor, a dor lancinante que se seguiu, inimaginável. Rasgou minha pele, uma marca de fogo em minhas costas. Arqueei minhas costas, um som gutural de agonia escapando da minha boca amordaçada.
Ele não parou. De novo. E de novo. Cada chicotada era acompanhada por uma torrente de suas acusações, sua raiva.
"Você achou que ia se safar, sua empregada inútil? Achou que poderia ficar entre mim e a Bia? Você vai se arrepender do dia em que pensou em prejudicar minha linhagem!"
Ele estava me punindo pelo falso aborto de Bia. Ele estava me punindo por um crime que não cometi, porque acreditou nas mentiras dela, porque queria acreditar nela. E em sua mente distorcida, eu era apenas uma serva sem nome, uma vítima em sua busca por "pureza".
Minha visão se turvou com lágrimas e dor. Cem chicotadas. Cem vezes o chicote rasgou minha carne, cada golpe uma lembrança brutal de sua traição, sua cegueira, sua crueldade monstruosa. Meu corpo era uma tela de agonia. Mordi a mordaça, sentindo o gosto do meu próprio sangue.
Finalmente, ele parou. O chicote caiu de sua mão, batendo contra o chão de pedra. Ele ficou sobre mim, ofegante, seu rosto ainda contorcido de raiva, mas tingido com uma estranha e sombria satisfação.
Ele chutou meu lado, um gesto desdenhoso.
"Levem-na daqui. Deixem-na apodrecer."
Eu estava ali, quebrada, sangrando, mal consciente. Ouvi a voz de Bia, suave e doce: "Christian, querido, você foi incrível! Tanta força."
Eles se afastaram, seus passos ecoando no silêncio, me deixando em um monte amassado. Enquanto desapareciam, um único grito cru rasgou a mordaça, um som de desespero puro e absoluto. Um grito por ajuda. Um grito por justiça. Um grito pela mulher que ele havia destruído.
Ouvi Christian parar, uma hesitação fugaz. Mas então a voz de Bia, insistente, o afastou.
"Vamos, meu amor. Não vamos perder mais um momento com ela. Ela não é nada."
Nada. Era isso que eu era para ele. Nada.
A percepção, fria e nua, se instalou profundamente em minha alma maltratada. Cada ferida, cada traição, cada ato de violência – tudo veio dele. O homem que eu amei. Christian Bittencourt.
Minha mente, embora devastada, começou a clarear. Eu tinha que sobreviver. Eu tinha que escapar. E então, eu o faria pagar. Não por vingança. Mas por justiça. Pelo filho que ele esqueceu, e pela mulher que ele tão brutal e descuidadamente destruiu.