"O que você fez, Ayla?" ele rosnou, sua voz baixa e perigosa, seus olhos finalmente encontrando os meus. Eles estavam cheios de uma raiva crua e ardente que eu nunca tinha visto direcionada a mim antes. "Como você pôde encostar um dedo nela? Sua louca ciumenta e doentia!"
Minha mão ainda ardia do tapa, mas a ardência não era nada comparada ao choque. Ele acreditou nela. Claro, ele acreditou nela. Ele sempre acreditava nela.
"Ela me provocou, Heitor", eu disse, minha voz mal um sussurro. "Ela disse... ela disse que o bebê era carma por eu não querê-lo. Ela me culpou por tudo."
Ele soltou uma risada áspera, um som desprovido de humor. "Não se atreva a tentar distorcer isso, Ayla. Eu a ouvi. Ela estava tentando te consolar. E você, em sua habitual moda melodramática, a atacou. Você está doente. Você está absolutamente doente."
Ele afastou Cristal gentilmente, seu olhar endurecendo em mim. "Você está com ciúmes, não está? Com ciúmes de que ela é uma mulher melhor, uma mulher mais gentil, uma mulher que realmente me entende! Você não passa de uma megera amarga e rancorosa!"
Meu estômago despencou. As palavras pareciam golpes físicos, cada uma aterrissando diretamente em meu espírito já machucado e maltratado. Era isso. O fundo do poço absoluto.
"Você vai pedir desculpas a ela, Ayla", ele ordenou, sua voz tremendo de fúria. "Agora. Ou eu juro por Deus, vou garantir que você perca tudo. E nem pense em ficar com essa criança. Não terei um filho criado por alguém tão completamente desprovido de empatia."
Minha respiração falhou. Ele estava ameaçando tirar nosso filho ainda não nascido? Ele estava me ameaçando a escolher entre um pedido de desculpas à sua amante e minha própria carne e sangue? A ironia era tão profunda, tão absolutamente cruel, que uma calma estranha e desapegada se instalou sobre mim. Ele nem sabia. Ele realmente não sabia.
Heitor pegou o celular, o polegar pairando sobre a tela. "Vou ligar para a clínica. Podemos agendar o procedimento agora mesmo. Não faz sentido trazer uma criança para essa bagunça."
Eu o observei, um sorriso lento e frio se espalhando pelo meu rosto. Ele achava que tinha poder. Ele achava que poderia me quebrar com isso. Ele estava tão absolutamente convencido de seu próprio poder, de sua capacidade de manipular e controlar.
"Você pode guardar seu telefone, Heitor", eu disse, minha voz assustadoramente calma. "Não há necessidade de um agendamento."
Ele parou, olhando para cima, um lampejo de confusão em seus olhos raivosos. "Do que você está falando?"
"O bebê", afirmei, as palavras saindo dos meus lábios com uma estranha sensação de finalidade, de libertação. "Já se foi. Eu tive um aborto espontâneo dias atrás."
Seu rosto empalideceu. A cor sumiu de suas bochechas, deixando-o com uma aparência cinzenta. Cristal, que estava fungando dramaticamente, parou abruptamente, sua cabeça se erguendo.
"Você está mentindo", Heitor acusou, sua voz rouca, incrédula. "Você está apenas dizendo isso para me manipular. Para me fazer sentir culpado. É mais uma de suas acrobacias para chamar a atenção, não é?"
Eu alcancei debaixo do meu travesseiro, minha mão encontrando o envelope nítido e de tamanho ofício que eu havia preparado dias atrás. Eu tinha pedido ao Dr. Chaves para guardá-lo para mim. Eu o puxei, o farfalhar do papel alto no quarto subitamente silencioso.
"Não, Heitor", eu disse, minha voz firme. "Desta vez, não estou buscando atenção. Estou buscando liberdade."
Eu estendi o documento. Era um acordo de divórcio abrangente, redigido pela equipe jurídica da minha família, detalhando cada ativo, cada propriedade compartilhada, cada conta oculta. Estava tudo lá. Eu o estava observando, documentando tudo, muito antes de sua farsa de "independência radical" começar.
Heitor arrancou os papéis, seus olhos percorrendo as cláusulas. Sua mandíbula se contraiu. Seus olhos se arregalaram, primeiro em incredulidade, depois em terror frio. Ele viu os números, os detalhes de sua fortuna "construída por si mesmo", os investimentos, os clientes, os fios sutis conectando todos eles de volta à minha família, a mim. Ele viu a contabilidade meticulosa de suas contas secretas no exterior, os presentes luxuosos para Cristal, as propriedades que ele pensava ter escondido habilmente.
Ele sempre me subestimou, não é? Achava que eu era apenas um rosto bonito, uma esposa solidária, uma criatura dócil para manter sua casa aquecida enquanto ele conquistava o mundo. Ele nunca viu o sangue Alencar correndo em minhas veias, a mente estratégica que herdei de gerações de homens e mulheres poderosos. Ele achava que eu era dependente, um fardo. Na verdade, era ele quem sempre dependeu de mim, da minha família, para sustentar sua ilusão cuidadosamente construída de sucesso.
Ele rasgou os papéis em pedaços, o som rasgando o silêncio. "Sua vadia conivente!" ele gritou, seu rosto contorcido de raiva. "Você estava planejando isso, não estava? Todo esse tempo, você estava apenas esperando para me apunhalar pelas costas!"
"Apunhalar você pelas costas?" eu ecoei, uma risada fria e sem alegria escapando dos meus lábios. "Não, Heitor. Eu estava apenas tentando sobreviver. Tentando ser a esposa que você queria, aquela que apoiava seus sonhos, que sacrificou sua própria identidade pela sua. Mas você me quebrou. Você quebrou tudo."
Ele avançou em minha direção, seus olhos selvagens. "Você vai se arrepender disso, Ayla! Você não será nada sem mim! Você ficará sozinha, sem um tostão! Você acha que pode simplesmente abandonar tudo o que eu construí?"
"Você não construiu nada, Heitor", eu disse, minha voz irradiando uma força recém-descoberta. "Não de verdade. Minha família te construiu. E agora, estou pegando tudo de volta."
Ele congelou, seu rosto uma mistura de medo e confusão. Ele pegou uma caneta da mesa de cabeceira e um pedaço de papel solto, rabiscando furiosamente. "Tudo bem! Você quer um divórcio? Você terá um! Mas não terá mais nada! Nem um centavo! Nem uma única lembrança!"
Ele me empurrou um papel grosseiramente escrito. Era uma zombaria de um acordo de divórcio, exigindo que eu saísse apenas com a roupa do corpo. Cristal, vendo a fúria de Heitor, interveio: "Sim, Heitor! Faça-a pagar! Ela não merece nada!" Ela até conseguiu uma tosse fraca, agarrando o peito novamente.
Heitor me encarou. "Assine, Ayla. Ou você nunca mais verá um centavo meu. Você estará mendigando nas ruas."
Olhei para o papel amassado, depois para ele, depois para Cristal, que agora sorria maliciosamente por trás das costas de Heitor. A luta me esgotou, mas sua arrogância, sua pura audácia, alimentou uma nova onda de resolução gélida.
"Não", eu disse, minha voz clara e inabalável. "Não vou assinar sua desculpa patética de documento. Não é assim que funciona, Heitor. Eu tenho um exército de advogados e garanto que eles farão com que você receba exatamente o que merece. E você, Heitor, querido, não merece nada."