Capítulo 4 Capitulo 2

"Você está tão bonita hoje, querida. Está provando pra mim o quanto está disposta a me satisfazer." A menina estava sentada na minha frente. Já estava um pouco desgrenhada, mas tinha cumprido tantas obrigações que eu me perguntava se poderia continuar com aquilo por muito mais tempo. Sentiria falta dela, no final das contas... Era um tesãozinho. A coisa toda começou umas semanas antes, quando ela me ligou e eu dei uma puta bronca por não ter me enviado o questionário.

Não que eu não facilitasse o acesso ou fosse superinacessível, mas como estava disposta a ser profissional me propus o mínimo de organização. Eu precisava saber quem iria me agradar, quem era interessante. Embora muita gente enviasse formulários de apresentação totalmente falsos só para saber valores ou se divertir, tinha uma boa parcela de pessoas de verdade, boas e más. Não estava a fim de fazer simples atendimentos e viver uma vidinha normal, queria encontrar pessoas adequadas. Esse era meu plano. É uma diferença sutil e ao mesmo tempo crucial, pois se trata do meu ideal de vida. Tudo bem, é um serviço pago, mas não sou obrigada a aceitar qualquer um. Não sou nenhuma louca-chinelinho-de-couro-marxista, precisava de dinheiro para montar meu projeto; mas manter meu cotidiano prazeroso e de acordo com minhas regras era essencial e eu estava esperançosa de que isso se cumprisse; faria a minha parte. Eu tinha algumas restrições, e as deixava claras: nada que envolvesse fezes, sangue e animais. E mantinha o propósito de não atender quem eu não estivesse a fim. Mas encarnaria o papel de executora, e faria qualquer prática para atingir meus objetivos. Afinal, sou ou não uma mulher libertária e sem tabus? Seria fácil se eu conseguisse encontrar as pessoas certas. Cheguei na cidade com a esperança de, literalmente, encarar um trabalho e fazer um caixa para realizar meu projeto. Sei que emendamos um papo bem legal e ao final de trinta minutos eu estava bem interessada nela e em toda aquela devoção que parecia verdadeira. Não estava querendo provas da real intenção, e sim do que ela poderia oferecer com aquele teatro todo. Um momento de esquizofrenia induzida e controlada sempre faz bem, e entrei no jogo. Já estava à vontade com a minha cadelinha. Nos encontramos algumas vezes, foi aquela loucura total. Muito beijo borrado, muita lingerie, saltos altos pra lá e pra cá, ela se entregava e gemia feito uma gata que acorda os vizinhos de madrugada. Então a coisa saiu das quatro paredes. Depois de ficar de quatro para mim tantas vezes, Alice comportou-se como uma escrava ali, na padaria da esquina de casa: "Eu não sou tão valiosa, minha Deusa. Eu não posso nem ao menos lamber os pés da cadela que você merece ter." Ai, safada... É uma cadela mesmo. Era tudo que eu queria ouvir. Poucos minutos depois, estávamos em casa, e Alice estava de joelhos, com a cara enterrada nas minhas coxas. Segurei seus cabelos com uma mão e cravei os saltos pontiagudos nas costas dela, puxando-a para mais perto de mim. Tirava sua cabeça às vezes, para cuspir na boca sem batom e vê-la com os beiços inchados pelos meus pentelhos um pouco crescidos. Fiz com que voltasse para minha virilha, eu já querendo dar uma puta gozada na cara daquela cadela. Levantei de repente e enfiei a mão no meio daquelas calças justas, e ela gemeu. E geme gostoso essa puta... Uma baita vadia. Se acendeu toda, mal toquei na bunda dela. Eu já não conseguia nem caminhar muito, minha vagina estava muito inchada e eu não queria nem roçar uma perna na outra para não gozar. Sentei novamente e a puxei pelos cabelos pretos. Enquanto ela me chupava, empinava muito a bunda, arqueava as costas e rebolava, me deixando ver o volume enorme querendo saltar das calças jeans. Empurrei a menininha com os pés, ela caiu sentada no chão com as pernas bem abertas pra mim. Passei o scarpin no meio da virilha da minha cadela, forçando a sola para sentir se estava bem dura. "Você é muito vadiazinha, né? Tá dando a bundinha por aí?" "Não, minha Deusa... Sou toda sua, sou apertadinha, a Senhora sabe." "Abre a calça pra mim, cadela. Quero ver." Toda babada e com os olhos pegando fogo, ela abriu cada botão da calça jeans. Estava de calcinha, a piranha. Vermelha. "Andou o dia inteiro com essa calcinha enterrada na bunda, não é?" "Sim, minha Deusa." O pau estava duríssimo. Essa vadia tem um pau enorme, que obviamente estava pra fora da calcinha minúscula. As veias saltadas, a cabeça um pouco menor que a espessura do resto, o saco todo depilado e bem pequeno, que quase nem se nota debaixo do pau. "Pega na cabecinha dele, pega. Mostra pra mim como tu faz sozinha." Ela passa a mão em minha vagina e umedece a cabeça do pau, mexendo só na cabecinha. E geme muito gostoso, esfregando a bunda no chão, encostada na parede e segurando o saco com a outra mão, com os dedos lá atrás. As pernas abertas e a cara de tesão me deixam louca. Com as calças jeans arriadas até os joelhos, ela abre as pernas e deixa os músculos da barriga saradíssima à vista enquanto se contorce. Que tesão esse homem safado! Veio aos poucos, me conquistando, abrindo a guarda e agora está aqui na minha casa, andando de quatro toda semana. Nos primeiros dias, eu mandava que lambesse e massageasse meus pés e me servisse oralmente depois de lavar minhas calcinhas sujas e limpar todos os meus sapatos - com a língua enorme. Alguns encontros depois, não andava a não ser de quatro na minha presença, rebolando aquela bunda carnuda pra lá e pra cá. Logo já usava uniforme de empregada e uma calcinha minúscula enterrada. O divertimento era limpar o chão, sacudindo a bunda empinada de um lado pro outro. Impossível não lembrar do meu passado, antes mesmo de saber o que era BDSM. Eu já tinha tido alguns namorados, poucos; nada durava muito, pois enjoava rapidamente do padrão "namoro de ser". Eu tinha, isso sim, amigos - parceiros de crime. Nunca andei em bandos, tinha amigos pontuais e dedicados, cada qual agregando experiência rica de liberdade erótica. Com eles, cada um a seu modo, eu tinha uma relação muito íntima, cúmplice, doávamos um ao outro um pouco de nós mesmos, dos tédios, paixões, inseguranças e crueldades. Um deles foi muito ligado a mim. Nos falávamos todos os dias pelo telefone. Horas e horas conversando, ele 17, eu 18. Um guri quieto, amoroso, mas também muito persuasivo. Passávamos o dia de góticos ouvindo música, trocávamos de roupa um na frente do outro, e ele cuidava do piercing gigantesco que tinha na glande. Saíamos juntos todo final de semana, ele sempre uns passos atrás de mim, eu sempre decidindo tudo, naturalmente. Na minha presença, ele andava o tempo todo de ombros encolhidos e esperava meu olhar de aprovação; éramos emocionalmente ligados. Em lugares muito opressivos ou cheios, boates e bares entulhados de gente, abria o peito e as narinas e seguia resoluto, abrindo caminho para mim, em parte usando sua masculinidade e em outra usando sua aparência freak pra assustar as pessoas que, automaticamente, se afastavam dele. Ele chorava e falava de seu tio que havia se suicidado. Mostrava os cortes que fazia na própria carne e mantinha em casa todo o equipamento para colocar piercings. Com aqueles olhos azuis lindos, ajoelhava à minha frente quando eu estava sentada na sua cama repleta de caixas de Marlboro e latas de Coca-Cola e implorava, sorrindo, que eu o furasse e colocasse uma joia. Achava aquilo lindo e fazia com prazer. Via a felicidade no rosto dele. Íamos a feiras de moda alternativa, onde ele comprava colares e roupas para mim, e como ficava radiante em me presentear! Numa dessas feiras, um expositor vendia botas superaltas, com plataformas enormes, e não saímos de lá enquanto ele não comprou uma para mim. "Nossa, muito linda essa bota, olha o salto! Mas vai ser superdifícil de usar, como andar de ônibus com isso?" "Ah, por favor, vamos comprar, vamos, vamos!" "Mas onde eu vou usar?" Eu já trabalhava naquela época e ganhava pouco, claro. O pensamento utilitarista era automático, mas o desejo de tê-la era grande. "Não importa. Vamos... Vamos comprar." "Eu não tenho grana, tu sabe." Aí ele se ajoelhou na minha frente. O lojista só olhou de canto e deu uma risadinha, pensando obviamente que ele estava alucinado. Feira alternativa, gente tatuada, música eletrônica e bando de jovens era uma equação elegante e simples igual a drogas. Mas não era o caso. "Por favor, eu te imploro! Não vai gastar teu dinheiro, eu que vou te dar essa bota. Vamos, aceita, por favor!" E com o pescoço de lado, o olharzinho pidão de guri de 17 anos, juntou as mãos e parecia rezar na minha frente. O lojista continuava olhando e não se conteve: "Compra, moça, olha o garoto aí." Eu nem olhei pro cara, tantas emoções enredadas e densas que trespassavam o politicamente correto e o racional. Estava de braços cruzados em frente ao guri ajoelhado à minha frente. E nada me tira da cabeça que existe um código cultural muito anterior a mim que automaticamente faz do ajoelhado um joguete nas mãos de um algoz. Me senti poderosa: neguei. E neguei com justificativas, pra vê-lo ainda mais desesperado, mais suplicante. "Eu já disse que eu não quero. Para com isso. Levanta daí." Falei justamente porque sabia que ele não ia levantar. Queria mesmo era vê-lo insistir, sofrer, e ansiava muito por isso. Queria que ele sofresse de verdade. Queria que ele sentisse psicologicamente o que tentava sentir na carne toda furada e tatuada. "Oh, poooor favorrrr... Eu te dou. Vamos, aceita." "Não, deixa de ser ridículo." "Sim, diga que sim. Eu faço o que você quiser." Parei um minuto, quebrei o quadril para o lado e coloquei as mãos na cintura. Lembro nitidamente dessa cena. Ele sofria. E eu, triunfante nos meus 18 anos, lhe daria paz, alegria, alívio e colo: "Tá bom... Eu vou escolher uma." Claro, eu já queria a bota desde o início. Ele levantou num pulo, rindo alto, feliz, puro, contente da vida, me abraçou muito forte e eu a ele. Como estávamos felizes e lúcidos! Senti sinceramente que ele desejava muito fazer aquilo, desejava demais implorar, ter um reflexo de real negação, sentir por um momento que não teria seu desejo atendido e acreditar nisso. Por isso estava tão feliz, duplamente feliz. Depois de tardes deitado lambendo o salto da bota enquanto eu olhava e ria dele, ficava exultandte, elétrico, cheio de vida, e fazíamos planos para a noite: "Hoje você me leva de coleira pra festa?" "De coleira?" Eu ri. "Sim, vamos comprar uma coleira, e você me leva na guia, entramos na festa assim!" "Claro, vamos, eu topo! Vamos mesmo! Tipo um cachorro?" "Não. Como um escravo, Domme. Um escravo! Não um cachorro. Vamos conseguir uma corrente grossa pra colocar na coleira, e tu me leva pra festa. Tu sabe que eu não gosto de lugar muito cheio, as pessoas me olhando. Mas, se formos assim, contigo me levando, é outra coisa!" "Claro, vamos sim, com certeza! Vamos ver isso já! Vou adorar ter meu escravo particular!" Rimos e nos abraçamos, ele acendeu um cigarro e tirou um bombom do armário: "Ó, pra você." "Ai, meu amor... Que meigo. Você é um guri incrível. Adoro estar contigo." "Eu também." E assim passávamos os dias no quarto dele, ouvindo música e tramando nossas incursões pela reacionária noite porto-alegrense. Vivemos dois anos dessa forma. Um dia, já concursada, fui transferida para o Rio de Janeiro a trabalho. Afastada daquela imersão emocional na dor e no prazer, da ligação profunda e submissão natural que haviam surgido entre nós, me vi com novos colegas de trabalho, novas vidas simples e cotidianas me cercando. Me senti isolada, perdida, uma míope de óculos quebrados obrigada a mudar o padrão visual para identificar e me identificar com os seres humanos ao meu redor. Solidão social. Me senti de outra espécie, e foi ruim. Questionei a sanidade do que havia acontecido. Como eu gostava de tudo aquilo? Por que eu sentia prazer e me divertia enfiando o salto da bota na boca do meu grande amigo, e vendo nele, igualmente, um prazer igual ou maior que o meu? Eu era má? Por que, se fazíamos tão bom uso dos sentidos e dos prazeres e isso nos causava tanta alegria? E nada de mal fazíamos aos outros. O que havia acontecido? Era real? Espetáculo encerrado, saí pelos bastidores e, artista caminhando na rua, não reconheci a rua. Não era o palco da minha vida, o tablado onde eu dançava solta e livre. Oprimida naquele cenário, não compreendi o que acontecia. Algo fora de mim insistia em preencher esse vácuo à força, me ditando regras, discursando no meu ouvido, zumbindo, esfregando na minha cara vidas e imagens corretas e ordenadas, ordinárias e simples. Sentada na minha mesa de trabalho, encolhia meu corpo e escondia a dança na gaveta, olhava ao meu redor e via símbolos, ouvia sons que não articulavam palavra, mas me condenavam e ofereciam alívio imediato e universal. Eu sou o Sábio, e o que é você? Não compreendo a sua fala, mas tenho a solução: é só seguir a fila. Vamos, seja feliz como todos ao seu redor! Não questione nada, eu tenho a solução e ela é simples! Siga a fila, siga o exemplo de todos ao seu redor! Caso contrário, todos se assustarão com você. E você estará trancada no quarto para sempre! Foram dias duros, duros de carne contida. Eu era culpada? Estava sofrendo sozinha. O algo fora de mim estava certo, e eu estava errada, senão eu não sofreria, não é mesmo? Sim, eu era culpada. Aquilo não foi certo. Recebi algumas ligações dele, mas fui me afastando com a desculpa geográfica. Estava muito longe. Sumi, cortei o contato. A imaturidade e o desconhecimento próprio trancaram aquele episódio nas estantes mais escondidas da minha memória. Até que os cupins devoraram toda aquela madeira que não era nada nobre. E eu estava ali, com um homem me servindo de escravo. Literalmente. Usando calcinha vermelha. A minha Alice. Ela chegava à minha casa no final da manhã, eu abria a porta e voltava para a cama. Sem fazer barulho algum, arrumava a bagunça toda; calcinhas, sapatos, camisinhas usadas, toalhas molhadas e jogadas no chão, louça na pia. Sempre duro e pronto para me servir oralmente e me limpar pela manhã, depois de uma noite de farra na rua. "Foi uma noite cansativa e estou muito sensível, minha cadela. Quero que tome conta de mim. Venha me limpar aqui na cama mesmo, usando sua língua em todos os lugares." "Sim, minha Deusa." E ele obedecia prontamente, enquanto eu ensaiava acordar, começando a manhã bem relaxada. Primeiro lambeu minhas botas de látex que sobraram ao lado da cama, guardou-as e massageou meus pés. Assim que começou a chupar os dedos de meus pés, eu já estava mais que descontraída e feliz com o novo dia; sim, era bom começar o dia dessa forma. Então se aproximou de minhas pernas e subiu até as coxas, chegando à virilha e cumprindo minhas ordens bem devagar. Em pouco tempo eu já estava louca, mas ele continuou sem acelerar: estava cumprindo metodicamente seu papel de limpar sua Deusa e deixar cada canto impecável. Dessa vez, eu havia passado o dia inteiro sem banho, e sabia que ele ia adorar me limpar daquela forma. Ele continuava encostado na parede, atento e de pau duro, esfregando levemente a bunda no chão. Levantei a saia, mostrando as ligas e a calcinha suada e ordenei que me seguisse até a cama, o que prontamente fez, de quatro e ainda com as calças arriadas. Subi na cama para não machucar meus joelhos e ordenei que viesse me limpar. "Não, de quatro atrás de mim, não. Deita tua cabeça aqui embaixo." Aquele homem enorme subiu na cama e pelo espelho vi o reflexo vermelho do que ainda aparecia da calcinha atolada naquela bunda musculosa. Deitou por baixo de mim e devagar abri minhas nádegas para que fizesse bem o serviço. Logo senti a língua quente e úmida passando em toda a extensão. De frente para o pau, podia admirar as veias pulsando, e a calcinha que mal cobria o saco. A cabeça já estava molhada, pegajosa, e lá passei minhas unhas, elevando os dedos e me divertindo, vendo até onde aquele filete de porra chegava.

            
            

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