Gustavo tinha ido embora de novo. Sempre ia. Ele acreditava que se fosse embora, o problema simplesmente desapareceria. Que suas ações seriam esquecidas, como um pesadelo. Mas desta vez, eu não deixaria desaparecer. Desta vez, eu não esqueceria.
Afundei no sofá de veludo, meu olhar fixo no local onde os papéis do divórcio ainda estavam, intocados por sua mão. Ele nem se deu ao trabalho de pegá-los. Era bem a cara dele, desdenhar até mesmo da papelada de sua própria ruína.
Uma onda de náusea me invadiu, não apenas pelo golpe na cabeça, mas pelas memórias que inundaram minha mente. Gustavo. O público o adorava. Ele era o herdeiro charmoso, o playboy filantropo, o rosto da ambição brasileira. Eles não viam o homem que ficou sobre mim, com os olhos frios e ameaçadores. Eles não viam o homem que, lenta e metodicamente, havia corroído minha alma.
Eu me lembrava do começo. Ele tinha sido um turbilhão de grandes gestos. Flores entregues diariamente na redação, jatos particulares para escapadas românticas, promessas sussurradas de eternidade sob constelações brilhantes. Ele me conquistou, uma garota humilde do interior, nova no mundo cruel da mídia de São Paulo. Ele era meu príncipe, meu salvador do peso esmagador das contas médicas da minha família, um fardo que eu carregava em silêncio.
Ele até foi à casa modesta dos meus pais, encantando minha mãe doente e meu pai estoico. Ele olhou para mim, com os olhos cheios do que eu pensei ser adoração, enquanto prometia cuidar de tudo. Ele disse que amava minha ambição, minha garra. Ele disse que eu era diferente, real.
"Você não é como aquelas outras mulheres", ele murmurou, seu hálito quente contra minha orelha durante uma de nossas primeiras noites apaixonadas. "Você tem substância, Helena. Você tem futuro."
E então, o pedido de casamento. Na televisão ao vivo, durante um baile de caridade que eu estava apresentando. Ele se ajoelhou, um diamante do tamanho de um ovo de pombo brilhando em sua mão, um milhão de câmeras piscando.
"Helena Ricci", ele bradou, sua voz ecoando pelo salão, "você quer se casar comigo e me fazer o homem mais feliz do mundo?"
A multidão explodiu. Eu fui envolvida em um conto de fadas. Eu realmente acreditei no felizes para sempre.
Como eu tinha sido ingênua. Naquela noite, deitada machucada e descartada no meu próprio sofá, o conto de fadas parecia uma piada doentia. Os votos, as promessas – eram apenas palavras, ferramentas para ele manter sua imagem cuidadosamente construída.
As infidelidades começaram lentamente. Uma mensagem de texto tarde da noite, um perfume fraco em seu colarinho, uma desculpa vaga sobre "viagens de negócios". Eu o confrontei uma vez, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Ele riu, um latido curto e agudo.
"Não seja ridícula, Helena", ele disse, enxugando uma lágrima da minha bochecha com um toque surpreendentemente gentil, "é só negócio. Você sabe como são essas coisas. Você é minha esposa. Você é a âncora estrela da GNB. Temos uma imagem a zelar."
Então Célia interveio, sua presença uma sombra fria.
"Helena", ela disse, sua voz desprovida de calor, "você sabia no que estava se metendo ao se casar. Os Arruda não se divorciam. Nós administramos."
Ela estabeleceu os termos, não ditos, mas cristalinos. Meu trabalho era manter a fachada, ser a esposa perfeita e compreensiva. Em troca, a família Arruda garantiria a segurança financeira da minha família, cuidaria dos custos médicos crescentes da minha mãe e garantiria minha posição na GNB. Era uma transação. Meu amor, minha dignidade, pelo dinheiro e poder deles.
Eu fui uma tola. Eu me agarrei à esperança de que uma pequena parte daquele charme inicial, daquela ternura fugaz, fosse real. Que o homem que apoiou minha carreira, que comprou para minha mãe o melhor tratamento médico, ainda existisse sob as camadas de privilégio e engano. Mas esta noite, essa esperança finalmente morreu. Nem mesmo um gemido. Simplesmente se foi.
Uma risada amarga e sem humor escapou de mim. Que patético. Estar tão quebrada, tão despojada de toda ilusão, e ainda não sentir nada além dessa dor oca.
De repente, a porta se abriu rangendo. Caio. Meu filho. Seu rostinho de sete anos espiou pela esquina. Meu coração se apertou, uma dor familiar. Ele não estava em casa quando Gustavo e eu estávamos brigando. Ele deve ter acabado de voltar com sua babá.
Ele me viu no sofá, segurando minha cabeça. Seus olhos, os olhos de Gustavo, não demonstravam preocupação. Apenas uma curiosidade fria e distante.
"Mamãe", ele disse, sua voz plana. "Por que você está sempre tão triste? A Dafne diz que as pessoas felizes conseguem o que querem."
Ele ergueu um pequeno desenho colorido. Era uma foto de Dafne, sorrindo, de mãos dadas com Caio. Eu não estava em lugar nenhum.
As palavras, ditas com tanta casualidade, foram uma nova facada. Ele tinha sido tão sistematicamente virado contra mim. Por Célia. Por Dafne. Ele se tornou o fantoche deles, a arma inocente deles.
"Vá para o seu quarto, Caio", consegui dizer, minha voz rouca.
Ele não se moveu. Apenas ficou olhando, seu rosto jovem espelhando o desdém que eu via nos olhos de Célia.
"A Dafne diz que você é uma mamãe má. Ela diz que você deixa o papai triste."
Minha respiração falhou. Meu próprio filho. Minha própria carne e sangue. Torcido nesta caricatura cruel. As lágrimas que eu não conseguia derramar por mim mesma, pelo meu casamento arruinado, pelo meu coração partido, ainda não vinham. Meu poço emocional havia secado.
Naquele momento, meu telefone vibrou novamente. Uma mensagem de texto. Do hospital. *Sua mãe faleceu em paz às 23:47.*
As palavras nadaram diante dos meus olhos. Minha mãe. Se foi. A última amarra à minha vida anterior, à razão pela qual eu suportei tudo isso, cortada.
Eu olhei para Caio, para seu rosto pequeno, inocente e cruel. Para o desenho de Dafne e ele, tão brilhante, tão cheio da felicidade que eu não possuía mais. Minha visão embaçou, não com lágrimas, mas com um vazio súbito e avassalador. O mundo parecia estar se fechando, o ar rarefeito, as paredes pressionando. Um pensamento, sombrio e sedutor, sussurrou em minha mente. E se eu simplesmente... parasse? E se eu simplesmente desaparecesse?
A ideia não era sobre acabar com a minha vida. Era sobre acabar com *esta* vida. Esta farsa. Esta dor constante e sufocante. E um novo tipo de determinação, mais fria e perigosa do que antes, começou a se formar.