Helene Richard: A Verdade Desvendada
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Capítulo 5

Ponto de Vista: Helena Ricci

"Foi você quem fez isso, Gustavo. A culpa é sua." Minhas palavras, uma acusação final e arrepiante, pairaram no ar, pesadas de dor e sacrifício não ditos. O mundo ao meu redor girou, um caleidoscópio vertiginoso de rostos horrorizados e luzes piscando. O rosto de Gustavo, geralmente tão composto, estava congelado em uma máscara de choque, a descrença lutando com a compreensão que surgia.

Uma dor aguda e insuportável rasgou meu abdômen inferior, um grito silencioso que dilacerou minhas entranhas. Meus joelhos cederam. Senti-me caindo, o chão de mármore polido correndo para me encontrar. O abridor de cartas de prata, agora manchado, bateu ao meu lado com um som doentio.

Alguém gritou.

"Helena!" A voz de Caio, pequena e aterrorizada, cortou o caos crescente. Não era a provocação cruel e ensaiada à qual eu me acostumara. Era medo cru, o choro genuíno de uma criança vendo algo que não conseguia compreender. Por um segundo fugaz, sua angústia genuína perfurou minha névoa de dor, uma pontada agridoce no peito.

Então, a escuridão. Um vazio vasto e ecoante. Naquele vazio, uma pequena luz piscou, depois diminuiu, e então se apagou completamente. Uma única imagem fugaz de uma vida nascente, uma esperança frágil que eu abrigara em segredo, dissolvendo-se em nada. *Sinto muito*, sussurrei na escuridão, um pedido de desculpas silencioso à vida que eu acabara de sacrificar. *Me perdoe. Eu não tive escolha.*

A culpa era um peso esmagador, mesmo em minha consciência desvanecente. Ferir intencionalmente uma parte de mim, uma parte dele, uma parte de nós. A escolha tinha sido brutal, nascida do puro desespero. As ameaças de Gustavo, o controle implacável de sua família, a alienação dolorosa de Caio – eles se apertaram em volta da minha garganta, me sufocando. Esta era a única saída. A única maneira de me libertar de verdade, de deixá-lo com uma culpa inegável e imperdoável. A gravidez inesperada tinha sido sua arma final e involuntária contra mim. Eu a virei contra ele, uma jogada desesperada pela minha própria sobrevivência.

Através da névoa, registrei gritos frenéticos, o guincho de sirenes, os passos apressados dos paramédicos. A voz de Gustavo, grossa de um terror que eu nunca tinha ouvido antes, cortou o barulho.

"Liguem para o 190! Levem-na para o hospital, agora!"

Eu podia sentir mãos fortes me levantando, o solavanco enviando novas ondas de agonia pelo meu corpo. Uma imagem borrada de Dafne, ainda segurando a barriga em angústia fingida, tentando intervir, tentando ser o centro das atenções. O tom agudo e autoritário de Célia, sobrepondo-se a todos.

"Tirem-na daqui! Agora! Não deixem um único repórter ver isso!"

O rosto de Gustavo pairou sobre mim, contorcido com uma mistura de horror e compreensão crescente. Sua raiva anterior havia desaparecido completamente, substituída por um medo profundo e arrepiante. Ele não estava olhando para Dafne, não estava olhando para Célia. Ele estava olhando para mim. E em seus olhos, eu vi: o reconhecimento do que ele realmente havia feito. O olhar de um homem enfrentando as consequências de suas ações, não apenas uma manchete de tabloide, mas uma realidade visceral e sangrenta.

Ele latiu ordens para sua equipe de segurança, ignorando os protestos chorosos de Dafne.

"Coloquem-na no carro! Dirijam! E sem desvios! Direto para o Sírio-Libanês!"

O segurança que antes tentara me maltratar agora me carregava com uma gentileza surpreendente, seu rosto pálido. Os gritos de Dafne de "Meu bebê! Minha cabeça!" foram completamente ignorados. Gustavo estava focado apenas em mim, seus olhos grudados na mancha crescente em meu vestido, suas mãos pairando, sem saber como ajudar.

A jornada para o hospital foi um turbilhão de dor e consciência desvanecente. Lembrei-me de ser levada rapidamente por corredores bem iluminados, os rostos de enfermeiras e médicos um borrão acima de mim. Então, a esterilidade fria de uma sala de cirurgia, as luzes ofuscantes, as vozes abafadas.

Gustavo estava lá, uma figura desesperada andando de um lado para o outro do lado de fora da sala de cirurgia. Eu quase podia sentir sua energia frenética, seu medo. Ele se encostou na parede, a cabeça entre as mãos, passando os dedos pelos cabelos, puxando-os como se pudesse arrancar a imagem do meu ato desesperado de sua mente. Seu terno caro ainda estava amassado, mas agora parecia pesar sobre ele, pesado com o peso de sua culpa. Seus assessores, geralmente agitados ao seu redor, estavam congelados, observando silenciosamente a cena sem precedentes. Eu me perguntei se eles já tinham visto seu chefe formidável tão quebrado, tão completamente desamparado.

Horas depois, um médico apareceu, seu rosto sombrio.

"Sr. Arruda", ele disse, sua voz baixa, "fizemos tudo o que podíamos. Conseguimos estabilizar a condição da Sra. Ricci. Ela perdeu muito sangue, mas está fora de perigo imediato." Ele fez uma pausa, seu olhar caindo, "No entanto, não conseguimos salvar a gravidez. O feto era inviável."

Gustavo ficou imóvel, como uma estátua esculpida em gelo. Então, sua voz, um sussurro rouco, quase inaudível.

"Helena. A Helena está bem? Ela... ela vai se recuperar?"

O médico assentiu.

"Sim, fisicamente, ela vai. Levará tempo, mas ela se recuperará. Psicologicamente, isso é outra questão. Ela passou por um trauma tremendo."

Uma onda de alívio, tão profunda que era quase audível, pareceu lavar o corpo rígido de Gustavo. Ele desabou contra a parede, fechando os olhos.

"Graças a Deus", ele murmurou, sua voz rouca. "Graças a Deus."

Ele então se virou para um de seus assessores, sua voz ainda trêmula, mas recuperando um pouco de seu tom de comando.

"Contrate os melhores especialistas. O que quer que ela precise. E consiga para ela os melhores e mais potentes tônicos para recuperação. Quero que ela tenha tudo."

Ele pegou o telefone, suas mãos ainda tremendo levemente, e discou um número.

"Mãe", ele disse, sua voz baixa e tensa. "Está feito. Ela está estável. Mas... o bebê se foi. Você precisa vir para o hospital. Agora. Precisamos conversar."

Seu olhar voltou para a porta fechada da sala de cirurgia, um homem assombrado e quebrado.

                         

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