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Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

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Ponto de Vista: Alessandra
O mundo girou e depois se chocou contra a realidade. Um chute forte atingiu minha lateral, enviando uma onda de dor lancinante através de mim. Eu arquejei, encolhendo-me em uma bola no chão de concreto frio. O ar estava denso com o cheiro de terra úmida e uvas fermentando. Chris Matos estava sobre mim, seu rosto uma máscara de fúria distorcida, iluminada pela única e fraca lâmpada pendurada precariamente no teto.
"Sua vadia!", ela gritou, sua voz ecoando pelas prateleiras de vinho, crua e descontrolada. "Você acha que pode simplesmente entrar aqui, tentar roubar meu homem e depois fingir que é dona de tudo que ele tem?"
Outro chute acertou, desta vez nas minhas costelas. Cerrei os dentes, recusando-me a fazer qualquer som. Minha visão embaçou por um momento, estrelas explodindo atrás dos meus olhos. A dor era uma chama quente e insistente.
"Não se atreva a me olhar assim!", ela gritou, sua voz rachando com uma mistura de fúria e desespero. "Não se atreva a pensar que é melhor do que eu! Você é apenas uma velha triste e solitária, tentando se agarrar à riqueza do Heitor!"
Ela se virou para os dois seguranças que tinham acabado de reentrar na adega, seus rostos impassíveis. "Deem uma lição nela", ordenou Chris, sua voz recuperando um controle arrepiante. "Mostrem a ela o que acontece quando ela mexe com meu homem e meu território."
Os guardas não hesitaram. Eles se moveram com uma eficiência praticada que falava de encontros passados. Um golpe atingiu minhas costas, depois minha perna. Senti um estalo nauseante, uma dor aguda e branca que me fez morder o lábio até sentir o gosto de sangue. Cada músculo do meu corpo se tencionou, tentando se proteger, mas foi inútil. Senti costelas quebrarem, meus órgãos internos protestando com uma dor surda e latejante. Vi flashes de luz, ouvi o baque abafado de punhos contra a carne, mas me recusei a gritar. Minha dignidade, mesmo neste momento brutal, era tudo o que me restava.
"Você desperdiça o dinheiro do Heitor, você corre atrás dele como um cachorrinho desesperado!", Chris continuou a vociferar, sua voz uma trilha sonora irritante para a surra. "Você se acha tão inteligente, tão poderosa. Mas você não é nada! Nada sem o nome dele, nada sem o dinheiro dele!"
Entre os golpes, consegui ofegar algumas palavras. "Este dinheiro é meu. Este hotel é meu. Eu sou Alessandra Alcântara."
Minha voz estava fraca, mal um sussurro. Tentei me levantar, fazer contato visual com Chris, fazê-la entender. "Ligue para o Heitor", implorei, as palavras com gosto de cinzas na minha boca. "Ele vai te dizer."
Chris apenas riu, um som triunfante e zombeteiro. "Ah, ele vai me dizer, sim! Ele já me contou tudo. Ele me disse para lidar com você. Ele me disse que você é uma sanguessuga, tentando arruinar a vida dele."
Os golpes cessaram, deixando-me ofegante, meu corpo gritando em protesto. Minha cabeça latejava, uma pulsação vertiginosa atrás dos meus olhos. Eu estava ali, um monte quebrado, cada respiração uma facada de dor. Minha visão nadava.
Chris se aproximou, seu sapato de salto alto pressionando meu braço. Eu me encolhi, mas ela mal registrou. Seus olhos brilhavam com um brilho predatório.
"Então", ela ronronou, sua voz de repente calma, quase razoável, "é assim que vai funcionar. Você vai pagar por este pequeno inconveniente. Um milhão de reais. Em dinheiro. Até amanhã de manhã."
Minha mente, embora nebulosa pela dor, aguçou-se com a menção de dinheiro. "Um milhão?", eu grasnei. "Pelo quê?"
"Por tudo", disse ela, seu sorriso totalmente desprovido de calor. "Pelo problema que você causou. Por tentar arruinar meu relacionamento. Por ousar pensar que poderia se safar de qualquer coisa. E se você não pagar, bem, digamos que as coisas vão ficar muito, muito piores. E não se preocupe em procurar o Heitor. Ele vai me apoiar. Ele sempre me apoia."
"Mas... o dinheiro... é meu", engasguei, as palavras parecendo fúteis mesmo enquanto eu as dizia. "As contas do Heitor, seu estilo de vida, tudo vem de mim."
A resposta de Chris foi um chute rápido e brutal na minha cabeça. Meus ouvidos zumbiram e, por um momento, o mundo se dissolveu em escuridão. Os guardas, seguindo a deixa, retomaram o ataque. Desta vez, eu sabia que eles pretendiam infligir danos sérios. Meu corpo convulsionou, uma onda de náusea me invadiu enquanto sentia uma dor lancinante no estômago.
Isso não era mais apenas sobre dinheiro ou humilhação. Era sobre sobrevivência. Essas pessoas estavam dispostas a me matar.
Com os últimos resquícios de minha força, tateei meu bolso em busca do celular. Meus dedos, dormentes e desajeitados, conseguiram puxá-lo. A tela, rachada após a queda, piscou para a vida. Eu tinha que acabar com isso.
"Ok", eu ofeguei, a palavra mal audível. "Ok, eu pago. Só... parem."
O sorriso de Chris voltou, triunfante e cruel. Ela parou os guardas com um aceno de mão. "Garota esperta. Eu sabia que você acabaria entendendo. Mas sabe de uma coisa? Aquela ceninha que você acabou de fazer? Pedindo para ligar para o Heitor? Isso vai te custar mais caro."
Ela se abaixou, o rosto a centímetros do meu. "Que seja dois milhões e meio. E não tente nenhuma gracinha. Ou você não viverá para gastar mais um centavo."
Eu fiquei ali, tremendo, cada músculo gritando. Dois milhões e meio. Por nada. Meu celular ainda estava em minha mão. Ignorei Chris, ignorei a dor latejante, foquei na pequena tela. Abri meus contatos, meu polegar tremendo enquanto rolava. Bia. Minha melhor amiga. Minha advogada corporativa.
Pressionei o botão de chamada. Tocou apenas uma vez.
"Alessandra? O que houve? Sua voz... você parece péssima", a voz preocupada de Bia encheu meu ouvido.
"Bia", sussurrei, minha voz rouca, "preciso de você. Agora. Dois milhões e meio de reais. Em dinheiro. Traga para o hotel. O Alcântara. Não faça perguntas. Apenas venha. E rápido."
"Dois milhões e meio? Alessandra, pelo amor de Deus-"
"Bia, apenas faça!", eu a interrompi, minha voz ganhando um tom de desespero. "E não conte a ninguém. Ninguém."
Desliguei, minha mão caindo no chão. Chris, que estava ouvindo com uma estranha mistura de confusão e avareza, ajoelhou-se ao meu lado, seus olhos de repente brilhando de ganância.
"Dois milhões e meio?", ela sussurrou, sua voz quase um ronronar. "Ah, você é realmente podre de rica, não é? Viu? Eu sabia que você ia ceder. E todo esse tempo, tentando se fazer de pobre. Você realmente acha que pode esconder esse tipo de dinheiro de mim? Do Heitor?"
Ela olhou para mim, seu sorriso largo e predatório. Seus olhos, nublados de veneno momentos atrás, agora brilhavam com triunfo. Ela achava que tinha vencido. Ela achava que tinha me quebrado. Ela não fazia ideia.