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Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

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Ponto de Vista: Alessandra
Bia chegou com a velocidade de um guepardo avistando sua presa. A pesada porta da adega se abriu com violência, batendo contra a parede de concreto com um baque surdo. Bia estava lá, emoldurada na porta, com dois seguranças corpulentos flanqueando-a como sentinelas silenciosas. Seus olhos, geralmente afiados e calculistas, se arregalaram ao percorrerem meu corpo machucado e espancado. Um suspiro escapou de seus lábios, um som cru de choque e fúria.
"Alessandra!", ela gritou, correndo para frente, sua bolsa cara escorregando do ombro. Sua expressão era uma mistura de horror e raiva fervente. Ela se ajoelhou ao meu lado, suas mãos pairando, sem saber onde tocar sem causar mais dor.
Consegui levantar uma mão trêmula, sinalizando para que ela ficasse em silêncio. Meus olhos, embora inchados e embaçados, fixaram-se em Chris Matos, que estava paralisada, seu sorriso triunfante derretendo lentamente em uma máscara de incredulidade. Ela não esperava reforços. Certamente não esperava esse tipo de reforço.
Bia, sempre perspicaz, entendeu. Ela tirou um elegante cartão preto de sua carteira. Eu o peguei, meus dedos tremendo, e o joguei pelo chão frio em direção a Chris. Ele deslizou até parar aos pés dela.
"Aí está", eu grasnei, minha voz mal um sussurro, mas carregada de uma finalidade arrepiante. "Seus dois milhões e meio. Agora saia."
Chris olhou para o cartão, depois para mim, seu rosto uma mistura confusa de ganância e desafio persistente. Ela se abaixou, pegou-o, seus olhos se estreitando. "Isso não é o fim, sabe", ela zombou, sua voz tremendo um pouco, mas ainda tentando projetar autoridade. "Você vai se arrepender disso. O Heitor vai fazer você se arrepender."
Ela gesticulou com desdém para os guardas que me bateram, depois acenou para nós. "Tudo bem. Saiam. Não quero ver sua cara neste hotel de novo."
O braço de Bia passou ao meu redor, apoiando meu peso enquanto eu lutava para me levantar. Cada músculo protestava, cada articulação gritava. Foi um processo lento e agonizante. Com a ajuda de Bia, finalmente fiquei de pé, balançando um pouco. A caminhada para fora daquela adega úmida e fedorenta pareceu uma jornada interminável por um túnel de dor.
Lá fora, na relativa tranquilidade de um lounge privado que Bia havia garantido, desabei em um sofá macio. "Obrigada, Bia", murmurei, as palavras pesadas na minha língua. "Eu te pago de volta."
Bia apenas balançou a cabeça, seus olhos ainda cheios de preocupação. "Não seja ridícula. O que aconteceu? Quem fez isso com você? E aquela... aquela mulher... Chris Matos? Juro, se o Heitor soubesse-"
Eu a interrompi com uma risada amarga e sem humor que terminou em tosse. "O Heitor sabia, Bia. Ou vai saber. E ele a escolheu. Ele a escolheu em vez de mim. Que belo irmão ele é." Minha voz estava carregada de um veneno que eu não sabia que possuía. "O gosto dele para mulheres sempre foi questionável, mas isso... isso passou dos limites."
Uma determinação fria se instalou em mim, me arrepiando mais do que a dor no meu corpo. "Preciso falar com ele. Uma conversa séria." Mas não seria uma conversa. Seria um acerto de contas.
Peguei meu celular novamente, a tela ainda rachada, mas funcional. Meus dedos voaram pelo teclado, encontrando um número que eu não ligava há meses. Bruno Viana. O gerente geral do principal hotel Alcântara. Eu o havia pessoalmente recrutado e contratado anos atrás, cultivando uma lealdade que ia além de qualquer alpinismo social. Ele devia sua carreira, sua própria posição, a mim.
O telefone tocou duas vezes antes que uma voz nítida e profissional atendesse. "Sr. Viana."
"Bruno", eu disse, minha voz firme, desprovida de emoção, um contraste gritante com o furacão que se agitava dentro de mim. "Aqui é Alessandra Alcântara."
Houve uma pequena pausa, uma mudança sutil em sua respiração. Ele claramente reconheceu a natureza incomum da minha chamada. "Sra. Alcântara. Está tudo bem?" Sua preocupação era genuína.
"Não, Bruno, não está tudo bem", respondi, meu olhar endurecendo. "Tenho uma nova diretriz para você."
"Qualquer coisa, Sra. Alcântara." Seu tom foi imediato, inabalável.
"Chris Matos", afirmei, minha voz como gelo. "Encerre o contrato de trabalho dela. Imediatamente. Com efeito a partir deste segundo. Ela não é mais bem-vinda em nenhuma propriedade Alcântara. Informe a segurança, remova seus pertences, escolte-a para fora das instalações. Não permita que ela retorne."
Um silêncio atordoado se estendeu pela linha. Bruno sabia que Chris era a namorada de Heitor. Ele sabia das possíveis consequências. Mas ele também sabia quem detinha o poder real.
"Sra. Alcântara... tem certeza?", ele finalmente conseguiu dizer, um tremor na voz.
Minha voz baixou, mais fria que a adega mais profunda. "Bruno, se eu sequer ouvir um sussurro de hesitação, se eu vir a sombra dela em qualquer uma das minhas propriedades novamente, eu pessoalmente retirarei cada centavo de investimento que tenho em toda esta rede. Cada um deles. Você entendeu?"
"Sim, Sra. Alcântara!", ele respondeu, sua voz estalando em atenção, carregada de um medo que era ao mesmo tempo satisfatório e perturbador. "Considere feito. Imediatamente."
Desliguei, o clique do telefone ecoando a finalidade da minha decisão. Bia olhou para mim, seus olhos arregalados com uma mistura de admiração e preocupação. Ela sabia o peso daquela ordem.
"Agora", eu disse, me levantando, ignorando o protesto agudo do meu corpo. "Temos mais uma parada."
"Onde?", perguntou Bia, já se movendo para me apoiar.
"A delegacia", respondi, meu olhar fixo em algum ponto distante. "Depois o hospital. Quero isso documentado. Cada hematoma, cada corte. Cada detalhe."
A delegacia foi um borrão de luzes fluorescentes e vozes abafadas. Sentei-me em frente a um policial simpático, minha voz calma e firme enquanto relatava a agressão, as ameaças, a extorsão. Cada palavra era precisa, desapegada, um relatório cirúrgico da realidade brutal. O policial ouvia, tomando notas meticulosas, sua expressão ficando mais sombria a cada detalhe.
Após um depoimento detalhado, eles me enviaram para o pronto-socorro. O rosto do médico estava sério enquanto ele examinava a extensão dos meus ferimentos: três costelas trincadas, uma fratura fina no braço esquerdo, hematomas extensos, uma concussão leve. O laudo médico, denso com terminologia clínica, era um testemunho brutal da violência que eu havia sofrido. Segurando-o em minha mão, minha raiva se intensificou, queimando os últimos vestígios do meu equivocado senso de dever familiar. Isso não era uma briguinha. Era um crime. E Heitor, meu meio-irmão, permitiu que acontecesse. Ele o possibilitou. Ele a escolheu.
"Quero vê-lo", disse a Bia, minha voz neutra. "Quero que ele me explique isso cara a cara."
Bia, já ao telefone, olhou para cima. "Minha assistente acabou de rastrear a localização dele. Ele está na cobertura."
"Ótimo", eu disse, um brilho perigoso em meus olhos. "Vamos lá. E certifique-se de que o motorista e minha segurança pessoal estejam conosco. Quero uma escolta."
Enquanto o elegante carro preto se afastava, em direção ao horizonte cintilante onde ficava a cobertura de Heitor, uma memória amarga surgiu. Aquela cobertura. Os carros de luxo. As roupas de grife. Os cartões de crédito ilimitados. Todos presentes. Meus. Uma tentativa equivocada de comprar seu amor, sua aceitação, seu respeito. Um peso enorme me oprimiu, uma mistura de dor física e traição profunda. Ele deu tudo como garantido e, em troca, me jogou aos lobos. O tempo da benfeitora silenciosa havia acabado. A hora do acerto de contas havia começado.