A Verdade Oculta Numa Pasta
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Capítulo 4

PONTO DE VISTA DE BRUNA:

Eu o observei. Guilherme, meu marido. Ele estava na porta, vestindo o casaco, de costas para mim. Cada célula do meu corpo gritava para fazer o que eu sempre fazia. "Dirige com cuidado, amor. Me liga quando chegar." Mas as palavras ficaram presas na minha garganta, emaranhadas com bile e confiança estilhaçada.

Seus ombros largos, que antes eram um símbolo da minha segurança, agora pareciam completamente estranhos. Sua figura se afastando não era mais a do homem que eu conhecia. Era um estranho indo embora.

Um choro engasgado escapou de mim. Eu me levantei da cama, meus pés descalços tocando o chão frio de madeira. "Guilherme!", gritei, minha voz crua e desesperada. Corri atrás dele, para a sala de estar.

Ele parou na entrada, a mão na maçaneta, virando-se para mim. Sua expressão era de leve aborrecimento, confusão. Ele nem sequer olhou para meus pés descalços, não notou os arrepios em meus braços no ar frio. Ele simplesmente me encarou, inexpressivo.

Meu coração estava morrendo, centímetro por centímetro excruciante. Ele não me via. Ele não se importava.

"Por favor", sussurrei, minha voz quebrando. "Não vai, Guilherme. Por favor." Era um apelo que eu odiava fazer, mas um pingo de esperança, uma esperança desesperada e tola, ainda tremeluzia dentro de mim. Talvez, apenas talvez, ele me escolhesse.

Meus olhos ardiam, as lágrimas borrando minha visão. Meu peito se apertou, uma dor lancinante, dificultando a respiração. Meu corpo inteiro parecia estar sufocando.

Ele franziu a testa, as sobrancelhas se unindo em irritação. "Bruna, o que há de errado com você? Ela acabou de sofrer um acidente. Se eu não for, quem vai?" Sua voz era áspera, carregada de impaciência.

"E, sinceramente, você está sendo ridícula. Você não acha que eu vou voltar? Tente ser compreensiva pelo menos uma vez." Ele fez uma pausa, depois suavizou a voz, um tom ensaiado para me acalmar. "Eu volto logo. Prometo. Apenas descanse um pouco."

Então, ele se foi. A porta se fechou com um clique, me deixando sozinha na vasta e vazia sala de estar. O único som era minha respiração irregular e descontrolada, ecoando no silêncio.

Um bipe do meu celular. Era uma mensagem de Carla.

"Desculpa, Bru. Sofri uma batidinha. Pegando seu marido emprestado um pouco. Você não se importa, né? Beijos."

Beijos. Da minha melhor amiga. Que estava com meu marido. Meu mundo, meu amor, minha amizade - tudo tinha acabado de desmoronar em uma pilha de escombros.

Minha mente ficou em branco. Uma determinação fria e dura se cristalizou dentro de mim. Corri para a garagem, meus pés batendo contra o concreto. Chega. Isso tinha que acabar. Agora.

Dirigi até o endereço que Carla havia enviado, o da sua "batidinha". Minhas mãos apertavam o volante com tanta força que meus nós dos dedos estavam brancos. O cheiro de borracha queimada e fumaça de escapamento pairava no ar quando cheguei.

Lá estava ele. Guilherme. Seus braços estavam firmemente enrolados em Carla, confortando-a. Ela soluçava em seu ombro, o rosto enterrado em seu peito. Ele acariciava seu cabelo, seus movimentos ternos, protetores.

"Senhor, seu carro está bem. É só um arranhão", dizia o outro motorista, claramente frustrado. "Não há necessidade de todo esse drama."

Guilherme se afastou um pouco de Carla, o rosto contorcido de raiva ao encarar o outro motorista. "Um arranhão? Este carro é da minha esposa! E você chateou o meu... meu amor! Como ousa!"

Ele então se virou de volta para Carla, puxando-a para mais perto. "Está tudo bem, meu bem. Não dê ouvidos a ele. Vou garantir que ele pague por cada coisinha. Eu vou cuidar de você. Você é minha esposa, não deveria ter que lidar com isso."

Minha esposa. Meu amor. Fiquei paralisada, assistindo à peça grotesca se desenrolar. Carla espiou para Guilherme, seus olhos arregalados e transbordando de uma adoração doentia. A verdade sobre o caso de longa data deles, a profundidade de seu engano, me atingiu com a força de um golpe físico. Meu amor, minha amizade - não estavam apenas arruinados. Foram completamente aniquilados.

Carla se afastou, a voz ainda trêmula. "Guilherme, por favor, não me deixe esta noite. Não consigo ficar sozinha. Você pode... pode ficar comigo?"

Minhas unhas cravaram em minhas palmas, tirando sangue. A dor era aguda, mas não era nada comparada à agonia que rasgava meu peito. Eu sentia como se estivesse me afogando em plena luz do dia.

Guilherme hesitou, seu olhar se desviando brevemente para o carro, depois de volta para o rosto manchado de lágrimas de Carla. Ele assentiu lentamente. "Ok, meu bem. Só mais uma vez. Eu fico. Mas esta é a última vez que eu te escolho em vez de... de todo o resto."

Meu sangue gelou. Quantas "últimas vezes" já tinham acontecido? Quantas mais haveria? Uma onda de fúria pura e sem adulteração surgiu em mim. Minhas pernas se moveram antes que minha mente registrasse o comando.

Eu marchei em direção a eles, meus olhos fixos em Guilherme. Eu levantei a mão. E dei um tapa nele. Com força. O som ecoou no silêncio repentino.

"Divórcio", cuspi, minha voz tremendo de raiva, meu olhar varrendo do rosto atordoado de Guilherme para o chocado de Carla. "Nós vamos nos divorciar."

                         

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