Capítulo 4

POV Ellie:

Eu costumava ser o tipo de mulher que sempre cederia, que sempre procuraria primeiro, que sempre tentaria consertar os pedaços quebrados. Eu me imaginei, apenas uma semana atrás, nesta mesma cama de hospital, soluçando no travesseiro, verificando desesperadamente meu celular por algum sinal de remorso do Caio. Eu teria cedido. Eu teria implorado para ele voltar, para explicar, para apenas me ver.

Mas desta vez, algo estava diferente. Depois que a enfermeira me deu um sedativo para ajudar com a dor e a ansiedade, eu finalmente adormeci. Quando acordei, a primeira coisa que vi foi o branco áspero do teto do hospital. A segunda foi meu celular, ainda agarrado na minha mão, exibindo o último story da Bruna no Instagram.

Era uma selfie dela e do Caio, rostos corados pelo frio, narizes quase se tocando, sorrisos largos estampados em seus rostos. A legenda, mais ousada e desafiadora do que antes, dizia: "Algumas conexões simplesmente parecem certas. Sem drama, apenas felicidade genuína."

Meus olhos percorreram as palavras, depois a imagem. Uma calma estranha e serena me invadiu. Não era a onda usual de dor fresca, ou a picada familiar do ciúme. Era... nada. Um espaço vazio onde essas emoções costumavam residir.

Olhei para seus rostos radiantes, para a intimidade inegável em sua pose, e pela primeira vez, não senti uma onda de inadequação. Não me perguntei se eu era bonita o suficiente, divertida o suficiente, despreocupada o suficiente. Eu apenas vi duas pessoas, alheias ao mundo, celebrando sua conexão. E percebi, com uma clareza surpreendente, que eu não me importava mais.

A necessidade constante de me comparar, de lutar por sua atenção, de justificar meus sentimentos – tudo se foi. Substituído por uma tela em branco. Eu não chorava desde aquele colapso inicial. Eu não tinha verificado seu "visto por último", ou relido mensagens antigas. O desejo, a dor desesperada por sua presença, simplesmente evaporou.

Quando a Bruna me acusou mais cedo, seus olhos ardendo com uma raiva perversa, eu a vi, realmente a vi, pela primeira vez. Ela ainda estava lutando uma batalha que eu já havia me rendido. E o Caio? Ele ainda estava esperando que eu quebrasse, que eu voltasse rastejando, que eu reforçasse seu ego inflado.

Respirei fundo, o ar do hospital com um gosto estranhamente limpo. Levantei-me da cama, o soro ainda preso ao meu braço, e alcancei o botão de chamada da enfermeira.

"Eu preciso ir para casa", eu disse, minha voz firme e clara.

De volta ao apartamento, diante do Caio e da Bruna, a caixa da Vivara ainda estendida como uma oferta de paz, a calma que senti era absoluta. Não se tratava mais de raiva. Não se tratava de amargura. Tratava-se de uma compreensão silenciosa e profunda.

"Eu não preciso de você", eu disse, minha voz cortando o silêncio, cada palavra precisa e deliberada. "E eu não preciso da sua pulseira, Caio."

Seu rosto se contorceu, uma mistura de choque e descrença. "Do que você tá falando?", ele gaguejou, baixando ligeiramente a caixa. "Ellie, você sempre quis isso. A gente ainda pode resolver isso."

"Resolver o quê?", perguntei, um toque de curiosidade genuína em meu tom. "O fato de você ter escolhido uma viagem de esqui com a Bruna em vez do nosso relacionamento? O fato de você ter me dito para não ir chorando atrás de você? O fato de você ter ignorado minhas ligações e mensagens enquanto eu estava essencialmente tendo um colapso, tudo enquanto ela postava sua história de amor no Instagram?"

Ele estremeceu, seus olhos dardejando para a Bruna, que de repente parecia muito desconfortável.

"Você reclamou que eu era muito emotiva, muito exigente, que eu te sufocava", continuei, minha voz inabalável. "Bem, considere-se livre, Caio. Não vou mais atrasar sua vida."

Gesticulei para as caixas novamente. "Eu já combinei com uma transportadora para buscar isso. Eles devem chegar a qualquer minuto. Certifique-se de levar tudo que pertence a você."

Meu olhar encontrou o dele diretamente, mantendo-se firme. "E depois de hoje à noite, não haverá mais contato. Sem mais mensagens, sem mais ligações, sem mais visitas casuais. Acabou."

Ele me olhou como se eu tivesse falado em uma língua estrangeira. Sua boca formou um "não" silencioso.

Por uma fração de segundo, considerei deletar seu número, bloqueá-lo em tudo, assim como eu tinha feito inúmeras vezes na minha cabeça. Mas não. Isso precisava ser um rompimento limpo, cara a cara. Ele precisava ver a finalidade disso.

Ele ficou lá, atordoado, seus olhos arregalados, procurando em meu rosto por qualquer sinal da antiga Ellie, aquela que racharia, que desmoronaria. Mas aquela Ellie se foi. Enterrada sob camadas de dor e, finalmente, um profundo senso de autopreservação. Meus olhos não continham nenhum traço do amor desesperado que ele estava acostumado a ver. Havia apenas um vazio silencioso e resoluto.

Um pavor frio se infiltrou em Caio. Ele esperava bravata, drama, uma briga que ele poderia facilmente vencer se fazendo de vítima. Essa resolução silenciosa e inabalável era algo que ele não havia antecipado. Era aterrorizante.

Bruna, que estava fervendo em segundo plano, escolheu aquele momento para intervir, sua voz afiada. "Ah, pelo amor de Deus, Caio, apenas vá embora! Ela claramente enlouqueceu! Vamos."

Mas Caio não olhou para Bruna. Ele olhou para mim, um lampejo de pânico genuíno em seus olhos.

"Ellie, espera", ele implorou, sua voz falhando. "Isso... isso é realmente o que você quer? Simplesmente jogar tudo fora? Todos esses anos? Nossos planos?" Ele gesticulou vagamente entre nós, depois para o apartamento. "Este apartamento, nosso futuro... eu ia te pedir em casamento! De verdade!"

Suas palavras eram frenéticas, saindo atropeladas, mas caíram no vazio. Tarde demais, tarde demais.

Nesse exato momento, uma batida alta e insistente ecoou da porta da frente. "Transportadora, senhora! Aqui para a coleta!", uma voz alegre gritou.

            
            

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