POV Ellie:
A batida na porta, seguida pelo anúncio alegre do carregador, cortou o silêncio tenso. Era uma força tangível e inegável da realidade.
"Transportadora, senhora! Aqui para a coleta!"
As palavras pareceram pairar no ar, um ponto final em nosso relacionamento. O rosto do Caio, já pálido, perdeu toda a cor. A Bruna, que estava tentando arrastá-lo para fora, congelou, seus olhos arregalados com uma mistura de choque e aborrecimento.
Fui até a porta, abrindo-a. Dois homens fortes em uniformes combinando estavam no limiar, pranchetas na mão. "Ellie Rocha?", o primeiro perguntou, um sorriso amigável no rosto.
"Sim, sou eu", respondi, minha voz calma, quase distante. "Vocês estão aqui para a coleta, certo?"
"Isso mesmo, senhora", ele confirmou, consultando sua prancheta. "Parece que estamos movendo algumas caixas para um Sr. Caio Kemp?"
As palavras pairaram no ar como um toque de finados. Caio visivelmente estremeceu. Ele olhou de mim para os carregadores, seus olhos dardejando freneticamente, como se procurasse uma saída, uma brecha, uma câmera escondida.
"Sim, está correto", eu disse, dando um passo para o lado e gesticulando para dentro do apartamento. "Todas as caixas etiquetadas como 'Caio' estão prontas para ir."
"Ellie, o que você tá fazendo?", Caio gaguejou, sua voz carregada de desespero. Ele deu um passo cambaleante para frente, alcançando meu braço.
Mas eu simplesmente o ignorei, virando-me para os carregadores. "Muito obrigada por virem com tão pouco aviso. Eu realmente agradeço."
Era uma sensação estranha, essa calma. Eu sempre imaginei este momento, o ato real da separação, como algo agonizante. Uma experiência visceral e esmagadora. Por anos, a ideia de deixar o Caio tinha sido um membro fantasma - uma dor constante e latejante que estava sempre lá, mas nunca totalmente real. Pensei que seria um mar de lágrimas, agarrando-me a cada último fragmento de nossa história compartilhada.
Em vez disso, eu me senti... leve. Aliviada. Foi mais fácil do que eu jamais ousei esperar. Todas aquelas vezes que eu fiz uma mala em um acesso de raiva, apenas para desfazê-la horas depois, ansiando por suas desculpas vazias, suas promessas manipuladoras. Todas aquelas vezes que ameacei ir embora, secretamente esperando que ele me implorasse para ficar, para provar que não podia viver sem mim. Eu queria o drama, a perseguição, a validação.
Mas isso não era mais sobre ele. Era sobre mim. E percebi, com um sobressalto, que não precisava de seus rogos, suas promessas ou sua validação. Eu só precisava que ele fosse embora.
Tirei um pedaço de papel dobrado do meu bolso. "Aqui está o endereço de entrega", disse ao carregador principal, entregando-lhe. "Tudo vai para lá."
Os carregadores assentiram, seus rostos impassíveis, acostumados aos dramas silenciosos da vida humana que se desenrolavam em torno de seu trabalho. Eles se moveram com eficiência praticada, um deles rolando um carrinho.
"Não! Parem! Não toquem nisso!", Caio gritou de repente, sua voz aguda e irregular. Ele se lançou para frente, colocando-se dramaticamente na frente da pilha de caixas. "Esses são meus pertences! E ela não pode simplesmente mandá-los embora!"
Ele se virou para mim, seus olhos arregalados e selvagens. "Ellie, você não pode! A gente não tá terminando! Eu não concordo com isso! Eu ia te pedir em casamento! A Bruna te contou! O anel! A pulseira! Você não se importa com nada disso?"
Ele gesticulou descontroladamente, primeiro para a caixa da Vivara ainda agarrada em sua mão, depois vagamente para o espaço vazio onde seu futuro comigo supostamente estava. "Você sabia! Você devia saber que eu ia te pedir! Como você pode fazer isso comigo?"
Seu rosto se desfez, uma caricatura grotesca de dor. Lágrimas brotaram em seus olhos, rolando por suas bochechas, deixando rastros brilhantes. Ele parecia completamente quebrado, um homem à beira do colapso total. Uma parte de mim, a parte antiga e fraca, quase sentiu uma pontada de simpatia. Mas essa parte foi rapidamente silenciada.
É assim que ele fica quando está perdendo o controle, uma voz fria em minha cabeça sussurrou. Não quando ele realmente te machucou.
Ele era uma criança fazendo birra, desesperada para recuperar um brinquedo que havia negligenciado e descartado.
"Caio", eu disse, minha voz cortando seus apelos frenéticos, "você tá fazendo uma cena. E não tá pegando bem."
Lembrei-me das vezes em que eu desabei, realmente desabei, na frente dele. Implorando para ele ouvir, para se importar, para apenas ver o quanto ele estava me machucando. Lembrei-me de seus olhos frios e desdenhosos, seus suspiros impacientes, seus sorrisos sutis de desprezo.
"Para de chorar, Ellie", ele disse uma vez, depois que eu encontrei outra das mensagens sugestivas da Bruna em seu celular. "É tão dramático. Você não pode ser normal por uma vez?"
Outra vez, depois de uma discussão particularmente cruel iniciada pela interferência constante da Bruna, eu desabei no chão, soluçando incontrolavelmente. Ele calmamente passou por cima de mim, saiu pela porta e voltou horas depois, fingindo que nada havia acontecido.
Esta era a vez dele. Este era o colapso dele. E eu não senti nada. Absolutamente nada. Era um vazio estranho e libertador. Ele estava finalmente sentindo uma fração da angústia que havia me infligido.
"Apenas deixe eles fazerem o trabalho deles, Caio", eu disse, minha voz monótona. "Acabou."