A Noiva Indesejada Era Sua Verdadeira Salvadora
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Capítulo 3

Eu me tornei um fantasma na minha própria casa.

Dante raramente estava lá. Ele alegava estar lidando com "disputas de território" na Zona Sul, uma desculpa vaga o suficiente para satisfazer os soldados, mas não a mim. Eu sabia exatamente onde ele estava.

Quebrei a primeira regra da sanidade: eu procurei.

Criei uma conta falsa no Instagram com os dedos trêmulos. Procurei por Isabel de Luca. O perfil dela era público. Claro que era. Ela queria ser vista. Ela queria ser conhecida.

Havia uma foto da noite anterior.

Era uma mesa de jantar posta para uma família. A matriarca De Luca estava lá, parecendo régia e aprovadora. E ao lado dela, cortando um pedaço de bife, estava Dante.

Ele parecia relaxado. Seu paletó estava fora, jogado displicentemente sobre a cadeira. Ele sorria para algo que Isabel estava dizendo. Sua mão repousava nas costas da cadeira dela.

Não era apenas um gesto casual. Era um gesto possessivo. Um gesto protetor.

Ele parecia pertencer àquele lugar.

Rolei para baixo. Outra foto. A mão de Dante repousando sobre a barriga quase imperceptível dela. A legenda dizia: Protegendo o futuro.

Senti a bile subir pela minha garganta, azeda e quente.

Ele nunca tinha me tocado daquele jeito. Comigo, seu toque era pesado. Era uma reivindicação de propriedade, um lembrete de dever e contratos. Com ela, parecia... suave.

Ele era capaz de demonstrar calor. Só não comigo.

Pousei o celular antes que pudesse atirá-lo longe. Fui ao bar na sala de estar e me servi de um copo de vodca. Eu nem gostava de vodca. Tinha gosto de produto de limpeza antisséptico. Mas eu precisava queimar aquela imagem da minha cabeça.

Bebi de um só gole. Depois outro.

Meu celular apitou. Era o grupo de conversa com minhas amigas civis. Aquelas que pensavam que Dante era um "consultor de logística" com uma agenda de viagens lotada.

Prova do vestido de madrinha na próxima semana! Tão animada!

Digitei rapidamente, minha visão embaçada.

Casamento cancelado. Não perguntem. Por favor, respeitem minha privacidade.

Bloqueei as notificações antes que a explosão de perguntas pudesse me atingir. Eu não conseguia lidar com a felicidade delas. Não conseguia lidar com a normalidade delas.

A porta da frente se abriu.

Eram 2 da manhã.

Dante entrou. Ele parou abruptamente quando me viu sentada no sofá, no escuro.

Ele cheirou o ar. Seu nariz se enrugou em desgosto imediato.

"Você andou bebendo", ele disse. Não era uma observação. Era uma acusação.

"Bebi dois copos", eu disse, minha voz soando oca para meus próprios ouvidos.

"Você cheira a destilaria", ele retrucou. Ele deu um passo para trás, como se meu cheiro fosse contagioso. Como se eu estivesse suja.

"Isabel não pode ficar perto de cheiros fortes", ele disse, seu tom clínico. "Isso desencadeia a náusea dela."

Eu ri. Foi um som seco e quebradiço que arranhou minha garganta.

"Isabel não está aqui, Dante."

"Vou vê-la de manhã", ele disse, passando por mim. "Não posso cheirar a vodca barata. É desrespeitoso com a mãe do meu herdeiro."

Desrespeitoso.

Ele estava preocupado em ofender o nariz dela enquanto estilhaçava minha vida.

"Vá tomar um banho", ele ordenou. "Você está se envergonhando."

Levantei-me. O quarto girou um pouco, mas me firmei no braço do sofá.

"Não sou eu quem deveria estar envergonhada", eu disse.

Ele estreitou os olhos, sua paciência se esgotando. "Precisamos ter uma conversa séria, Nina. Precisamos discutir a logística do batizado."

O batizado. O bebê nem tinha nascido ainda.

"Não há nada a discutir", eu disse.

Passei por ele. Fui para o banheiro de hóspedes e tranquei a porta. Liguei o chuveiro na temperatura mais quente possível.

Esfreguei minha pele até ficar vermelha. Eu queria lavar a vodca. Eu queria lavar os últimos vinte anos.

Eu queria lavar ele de mim.

            
            

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