A Noiva Indesejada Era Sua Verdadeira Salvadora
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Capítulo 6

Nina Ford POV

Pressionei a caneta no papel, assinando meu nome na carta de demissão. A tinta parecia nítida e final contra o papel branco e imaculado.

Era a última assinatura de Nina Ford, a Médica da Máfia.

O Hospital São Judas não era realmente um hospital. Era uma lavanderia para o trabalho sujo do Comando, disfarçada de um centro de trauma de primeira linha. Passei cinco anos aqui costurando facadas e registrando-as como acidentes de cozinha desajeitados.

Entreguei o arquivo ao administrador. Ele piscou, parecendo visivelmente perturbado.

"Sra. Rossi", ele disse, sua voz baixando para um sussurro nervoso. "O Don sabe disso?"

"Não sou a Sra. Rossi", eu disse bruscamente. "E ele descobrirá em breve."

Saí pelas portas de vidro deslizantes. O ar em São Paulo parecia pesado, como se estivesse pressionando meus pulmões com o peso da tempestade que se aproximava. Faltavam cinco dias.

Quando voltei ao apartamento, o silêncio que eu havia cultivado cuidadosamente se fora.

Malas bloqueavam o corredor. Bolsas de grife com ferragens douradas brilhando sob as luzes.

Isabel estava aqui.

Entrei na sala de estar. Dante estava sentado no sofá, navegando em seu celular. Isabel estava inclinada sobre seu ombro, apontando para algo na tela.

Ela parecia saudável. Radiante, até. O ar do mar lhe fizera bem.

"Você voltou", eu disse.

Dante ergueu os olhos. Ele franziu a testa para as prateleiras vazias atrás de mim.

"Onde estão os vasos?", ele perguntou. "E os livros?"

"Estou organizando", eu disse, minha voz monótona. "A faxineira vem amanhã para uma limpeza profunda."

Ele aceitou a mentira não porque era convincente, mas porque não se importava o suficiente para desafiá-la. Ele se virou de volta para Isabel.

Isabel sorriu para mim. Era um sorriso afiado e predatório, envolto em falsa doçura.

"Nós nos divertimos muito, Nina. Dante foi incrível com o roteiro. Até encontramos um bistrôzinho que servia a massa mais incrível."

"Que bom", eu disse.

"Vamos jantar fora hoje à noite", disse Dante. Ele se levantou, ajustando os punhos da camisa. "Para comemorar a viagem bem-sucedida. Você vem."

"Estou cansada, Dante."

"Não foi um pedido, Nina."

Sua voz baixou uma oitava. Era a voz que ele usava quando dava ordens a seus soldados – fria, absoluta e violenta.

Isabel fez beicinho. "Ah, vamos, Nina. Não seja ciumenta. É só um jantar. A menos que você esteja chateada com... a situação?"

Ela colocou a mão em sua barriga lisa.

Os olhos de Dante endureceram. "Não seja rude com ela, Nina. Ela está carregando meu legado. Vá se trocar."

Fui para o quarto. Vesti um vestido preto. Parecia apropriado. Eu estava de luto, afinal.

O restaurante era um daqueles lugares onde a iluminação era muito fraca e os cardápios não tinham preços. Dante sentou-se na cabeceira da mesa. Isabel sentou-se à sua direita. Eu sentei à sua esquerda.

O garçom se aproximou.

Dante nem abriu o cardápio.

"Para a senhora à minha direita, o salmão grelhado. Sem molhos pesados, nada ácido. Ela tem refluxo. E água com gás, temperatura ambiente."

Ele olhou para mim, seu olhar passando por mim como se eu fosse um móvel.

"E para ela, o Risoto de Frutos do Mar. É o especial. Ela adora arroz."

O garçom assentiu e saiu.

Sentei-me muito quieta. Minhas mãos estavam cruzadas no colo, os nós dos dedos brancos.

Dante se virou para Isabel, continuando uma história sobre a ilha.

"Dante", eu disse suavemente.

Ele não me ouviu. Estava rindo de algo que Isabel disse.

"Dante."

Ele olhou para mim, irritado. "O quê?"

"Não posso comer o risoto."

"Por que não? Você está sempre reclamando que está com fome."

"Tem caldo de camarão", eu disse. "Sou alérgica a mariscos."

A mesa ficou em silêncio.

Isabel cobriu a boca, os olhos arregalados de falsa simpatia. "Meu Deus. Você não sabia?"

Dante olhou para mim. Depois olhou para o espaço vazio onde o garçom estivera. Sua testa se franziu.

"Desde quando?", ele perguntou.

"Desde os seis anos", eu disse. "Minha garganta fecha. Eu carrego uma caneta de adrenalina na bolsa. Você me viu usá-la uma vez na gala, três anos atrás."

Ele piscou. Pude ver a memória tentando emergir, mas estava enterrada sob camadas de indiferença.

Ele conhecia os gatilhos do refluxo de Isabel. Ele conhecia o ciclo de ovulação dela. Ele conhecia a flor favorita dela.

Mas ele não sabia que sua noiva podia morrer por causa de um prato de arroz.

"Eu... eu esqueci", ele murmurou. Ele olhou para o guardanapo.

"Tudo bem", eu disse. "Não estou com fome de qualquer maneira."

Afastei minha cadeira.

Meu celular vibrou na minha bolsa. Eu o peguei.

Era Júlia.

Atendi ali mesmo, na mesa.

"Alô?"

"Nina", disse Júlia. Sua voz era séria. "Confirmação final. A equipe de extração está marcada para o dia 20. Isso é daqui a quatro dias. Você precisa estar no aeroporto às 6 da manhã. Assim que entrar no programa, você desaparece. Sem contatos. Sem rastros."

Olhei para Dante. Ele estava servindo água para Isabel, certificando-se de que o gelo não a respingasse.

Olhei para o homem que amei por duas décadas. E naquele momento, o último laço se rompeu. Eu não senti absolutamente nada.

"Tenho certeza, Júlia", eu disse.

"E o marido?", ela perguntou.

Olhei-o diretamente nos olhos.

"O casamento está cancelado", eu disse ao telefone, minha voz clara e alta. "Eu estou indo embora."

A cabeça de Dante se virou bruscamente.

"Quem está indo embora?", ele perguntou.

                         

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