Capítulo 4

Na manhã seguinte, o apartamento estava silencioso.

Dante estava na cozinha, tomando um expresso enquanto lia um arquivo em seu tablet.

"Cancele a sessão de fotos", ele disse, sem se dar ao trabalho de olhar para cima.

Parei com a mão na porta da geladeira.

A sessão de fotos de noivado. Estava marcada para amanhã no Jardim Botânico.

"Ok", eu disse simplesmente.

Ele olhou para cima então, piscando. Ele esperava lágrimas. Ele esperava que eu implorasse pela única demonstração pública de afeto que ele realmente havia me prometido.

"Assim, simples?", ele perguntou.

"Você quer cancelar. Então cancelamos."

Ele se mexeu na cadeira, parecendo estranhamente desconfortável.

"Isabel quer fazer uma sessão de fotos", ele disse.

Eu o encarei.

"Ela quer... uma sessão de fotos de casamento?"

"Ela está morrendo, Nina. Ela nunca vai se casar. Ela quer a experiência. Ela quer fotos dela e... do pai. Para deixar para a criança."

Ele queria pegar meu fotógrafo, minha data e meu noivo, e embrulhá-los de presente para ela.

"É só de mentirinha", ele acrescentou rapidamente. "Para a criança."

"Claro", eu disse. "Faz sentido."

Dante franziu a testa. "Você está lidando com isso bem."

"Estou apenas sendo uma boa esposa de mafioso, Dante. Colocando a Família em primeiro lugar."

Ele me estudou por um segundo, procurando uma rachadura na armadura. Mas eu estava oca por dentro. Não havia mais nada para quebrar.

"Bom", ele disse. "Vou levá-la para Ilhabela depois da sessão. Por alguns dias. O ar do mar faz bem para o bebê."

Ilhabela. Era para lá que deveríamos ir na nossa lua de mel.

"Cuide da logística do casamento enquanto eu estiver fora", ele disse. "As flores, os lugares na mesa. Confio no seu julgamento."

Ele se levantou, pegou as chaves e foi para a porta.

"Te vejo em uma semana."

Ele não se despediu.

A porta se fechou com um clique.

Esperei exatamente um minuto. Então, fui até o armário.

Peguei um saco de lixo resistente.

Comecei no quarto. Varri todas as nossas fotos da mesa de cabeceira. Peguei as roupas que ele me comprou. Peguei os livros que ele nunca leu.

Fui para o banheiro. Joguei fora a escova de dentes reserva dele. A lâmina de barbear. O perfume que eu comprei para ele no Natal.

Fui para a sala de estar e tirei a arte que escolhemos juntos.

Deixei o apartamento nu.

Ao meio-dia, as paredes estavam despidas. As prateleiras estavam vazias.

Parecia um quarto de hotel. Estéril. Frio. Impessoal.

Parecia exatamente com o nosso relacionamento.

Sentei-me no chão, no centro do vazio que criei. Olhei para o calendário.

12 dias.

Eu não estava mais planejando um casamento. Estava planejando um funeral para a garota que eu costumava ser.