Capítulo 2

Ponto de Vista da Elena:

Tentei recuar, mas a jaula era pequena demais.

Sofia empurrou a adaga de prata através das frestas das barras. Ela não mirou na minha língua. Ela mirou no meu braço, que estava levantado para proteger minha barriga.

Shkth.

A lâmina se enterrou fundo no meu antebraço.

"Ahhh!"

A dor era diferente de qualquer outra coisa. A prata não apenas corta; ela cauteriza e envenena simultaneamente. Ela perturba a biologia mágica que nos mantém vivos.

Sofia puxou a adaga de volta.

Sangue espirrou no concreto. Mas não era o vermelho vivo de um humano normal ou de um lobo de nível baixo.

Era escuro. Quase preto, com manchas cintilantes de ouro nele.

Era o sangue da linhagem do Alfa Supremo. Mas Sofia, cega por seu próprio preconceito e pela iluminação fraca da masmorra, não viu o ouro. Ela só viu a escuridão.

"Sangue preto?" Sofia engasgou, recuando. "Você realmente está apodrecendo de dentro para fora. Nojento."

Ela pegou uma bolsa do cinto - prata em pó - e despejou todo o conteúdo na minha ferida aberta.

"Purifique o mal!" ela gritou.

Meu corpo convulsionou. A prata entrou na minha corrente sanguínea, correndo em direção ao meu coração.

Minha visão ficou branca.

A conexão com meu útero... estava desaparecendo. O chute frenético do bebê havia diminuído para um tremor fraco.

*Bebê... fique comigo*, orei à Deusa da Lua. *Leve-me. Leve minha vida. Apenas deixe-o viver.*

Sofia, satisfeita com seu trabalho, virou-se e saiu da masmorra, deixando a porta entreaberta.

Eu jazia em uma poça do meu próprio sangue estranho e escuro. O frio estava subindo pelas minhas pernas.

"Mamãe..."

Eu alucinei. Vi um garotinho com os olhos de Damien e meu cabelo prateado, parado do lado de fora da jaula. Ele estava chorando.

"Sinto muito", sussurrei para o ar vazio. "Sinto muito mesmo."

Botas pesadas trituraram o chão.

Eu não tinha energia para olhar para cima. Apenas esperei pelo golpe final.

"Santa Deusa da Lua."

A voz era profunda e desconhecida.

Um Guerreiro, vestido com o uniforme de patrulha da alcateia, estava lá. Ele olhou para o sangue, depois para mim. Seu nariz se contraiu.

Eu estava morrendo. Meu cheiro estava desaparecendo. Mas por baixo do cheiro de sangue e podridão, meu verdadeiro cheiro - o cheiro da Loba Branca - estava vazando porque eu estava fraca demais para manter meu disfarce.

Era um cheiro de puro poder, de realeza antiga.

Os joelhos do Guerreiro cederam. Ele não sabia o porquê, mas seus instintos de lobo gritavam para que ele se submetesse.

Ele tocou em seu fone de ouvido.

"Alfa", disse o Guerreiro, sua voz tremendo. "A prisioneira... a Renegada. Ela está sangrando muito. Tem... tem sangue demais."

Ele apontou a lanterna para a poça embaixo de mim. O feixe capturou o brilho metálico.

"Alfa, o sangue dela... tem ouro nele. Está cintilando."

Eu podia ouvir a voz de Damien através do fone de ouvido do Guerreiro. Era metálica e distante.

"Não seja idiota, Marcos. Provavelmente é apenas o pó de prata refletindo. Ela está tentando nos distrair da Vitória. Deixe-a."

"Mas Alfa", gaguejou Marcos. "Ela cheira... ela cheira como..."

"Isso é uma ordem!" Damien rugiu.

Marcos olhou para mim. Ele olhou para minha barriga inchada, que agora estava aterrorizantemente imóvel.

Lobos valorizam crianças. É nossa lei mais fundamental. Deixar um filhote morrer é um crime contra a natureza.

Marcos cerrou os dentes.

"Perdoe-me, Alfa", murmurou ele.

Ele agarrou a fechadura da jaula de prata. Ele não tinha a chave. Ele transformou sua mão em uma garra parcial de lobo, gemendo enquanto a prata o queimava, e arrancou a porta das dobradiças com força bruta.

Ele me pegou no colo.

Eu estava mole em seus braços.

"Fique comigo", grunhiu Marcos, correndo em direção à saída. "Estou levando você para o Hospital da Alcateia."

O movimento me sacudiu. A dor explodiu, mantendo-me presa à consciência por um fio.

Saímos do porão para o ar frio da noite. A lua estava alta e cheia. Ela zombava de mim.

Marcos correu mais rápido que um veículo humano, sua velocidade de lobo devorando a distância até o centro médico.

"Conseguimos", ofegou ele, chutando as portas duplas do hospital. "Socorro! Precisamos de um médico!"

O silêncio o respondeu.

O saguão estava vazio. A recepção estava abandonada.

"Onde está todo mundo?" Marcos gritou.

Soltei uma tosse fraca e seca. "Vitória..."

"O quê?"

"Estão todos... com a Vitória", sussurrei.

Damien havia retirado toda a equipe do hospital para atender a uma única mulher, deixando a mim e a seu filho não nascido para morrer no escuro.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022