Ponto de Vista do Damien:
"Olhe para ele, Damien. Ele tem o seu nariz."
Vitória me entregou o embrulho de cobertores. Olhei para o bebê. Ele estava vermelho e enrugado, berrando a plenos pulmões.
Sorri, mas pareceu forçado.
Algo estava errado.
Desde que Sofia me disse que a Renegada tinha ficado quieta, uma ansiedade estranha arranhava minhas entranhas. Disse a mim mesmo que era apenas o estresse da profecia.
Segurei o bebê. Cheirei-o.
Franzi a testa.
Ele cheirava a... leite e baunilha. Exatamente como Vitória.
Ele não cheirava a mim.
Geralmente, o filhote de um Alfa carrega um cheiro forte e distinto de pinho e terra do pai. Este bebê cheirava fraco. Como um Beta, ou até mesmo um Ômega.
"Ele está bem?" perguntou Vitória, limpando o suor da testa. Ela parecia linda, perfeita. Não como aquela Renegada suja no porão.
"Ele está... quieto", murmurei. Inclinei-me mais perto, inalando profundamente, procurando a centelha Alfa.
Nada.
A compreensão me atingiu como um balde de água gelada. A profecia dizia que o "primeiro lobo nascido" herdaria a fortuna. Mas essa criança... ela parecia vazia. Comum.
"Vitória", disse lentamente. "Por que ele não tem o cheiro da Alcateia?"
Antes que ela pudesse responder, uma dor atravessou meu peito.
Não foi um ataque cardíaco. Foi pior. Parecia que alguém tinha enfiado a mão na minha caixa torácica e cortado uma artéria vital com uma faca cega.
Engasguei, quase derrubando o bebê.
"Damien?"
Caí de joelhos. A sala girou. Meu lobo interior, que estivera estranhamente silencioso o dia todo, de repente jogou a cabeça para trás e uivou em agonia.
*FOI-SE. ELA SE FOI.*
"Quem?" consegui dizer, sufocado.
A porta da suíte se abriu com estrondo. Meu Beta, Samuel, estava lá. O rosto dele estava pálido como um lençol.
"Alfa", disse Samuel. "Você precisa vir. Agora."
Entreguei o bebê a uma enfermeira e cambaleei até ficar de pé. A dor no meu peito latejava no ritmo do meu coração.
Segui Samuel até o corredor. Ele me levou para a sala adjacente. A sala reservada para os moribundos.
O Dr. Mendes estava puxando um lençol branco sobre um corpo.
O cheiro me atingiu.
Sangue. Prata. E... chuva desaparecendo e chocolate amargo.
Meu cheiro. Misturado com o dela.
"Não", sussurrei.
Empurrei Samuel e arranquei o lençol.
Era Elena.
A pele dela estava cinza. Os lábios estavam azuis. Os olhos estavam abertos, olhando para o nada, vidrados e vagos.
"Ela... ela está fria", disse eu, tocando sua bochecha. Era como tocar mármore.
"Hora do óbito, 23:42", disse o Dr. Mendes suavemente. "Causa da morte: Toxicidade aguda por prata levando a parada cardíaca."
"Acorde", comandei. Despejei minha aura Alfa nela. "Elena, levante-se! Pare de atuar!"
Nada aconteceu. O Comando Alfa não funciona nos mortos.
"O bebê?" perguntei, minha voz tremendo.
O Dr. Mendes balançou a cabeça. "Natimorto. A prata o matou horas atrás."
Meus joelhos bateram no chão.
"Mas... ela era apenas uma Renegada", murmurei, tentando dar sentido ao buraco no meu peito. "Ela não era minha companheira. Ela não podia ser."
"Fizemos um teste de DNA", disse o Dr. Mendes, me entregando um tablet.
Olhei para a tela.
*Teste de Paternidade: Positivo.*
*Compatibilidade de Companheiro: 100% - Verdadeira Companheira.*
O tablet escorregou dos meus dedos e se espatifou no chão.
Eu os matei. Eu ordenei que ela segurasse o bebê. Eu neguei a ela cuidados médicos. Eu deixei minha irmã envenená-la.
"ARGHHHHHH!"
Eu gritei. Agarrei os ombros de Elena e a sacudi. "Volte! Eu ordeno! Eu rejeito sua morte! Eu rejeito!"
O ar na sala de repente se deformou. A pressão caiu, estalando meus ouvidos.
Um vórtice giratório de energia azul se abriu no centro da sala. Um Portal.
"Protejam o alvo!" gritou uma voz.
Quatro figuras em equipamento tático desceram de rapel para fora da fenda. Eles se moviam com uma velocidade que não era humana. Eram Elites.
"Fiquem longe dela!" rosnei, transformando minhas mãos em garras.
Um dos soldados levantou a mão. Ele não segurava uma arma. Ele segurava um cajado feito de obsidiana negra.
Ele bateu o cajado no chão.
Uma onda de choque de pura magia me jogou para trás. Bati na parede, preso por uma força invisível.
"Quem são vocês?" engasguei.
Um homem em um terno sob medida saiu do portal. Ele tinha cabelos prateados e olhos que brilhavam com um poder aterrorizante e antigo.
Ele parecia exatamente com Elena.
Ele não olhou para mim. Ele olhou para o corpo na cama.
"Minha filha", sussurrou ele. A voz dele falhou.
Ele gesticulou para os soldados. "Levem-na. E a criança."
"Vocês não podem levá-la!" gritei, lutando contra a magia. "Ela é membro da minha alcateia! Minha propriedade!"
O homem se virou para mim.
A pressão na sala aumentou mil vezes. Não era apenas Comando Alfa. Era Comando Alfa Supremo.
Fui forçado a ficar de barriga no chão, meu rosto pressionado contra o vidro quebrado.
"Sua propriedade?" A voz do homem era gelo. "Ela era a Princesa da Dinastia Sterling. E você, Damien Blackwood, acabou de declarar guerra a toda a raça dos lobisomens."
Ele se virou. Os soldados levantaram o corpo de Elena.
Espere.
Enquanto a levantavam, vi algo. O dedo dela se contraiu.
Apenas uma fração de milímetro.
Ela estava viva? Ou foi apenas um espasmo muscular?
Antes que eu pudesse gritar, o homem com o cajado jogou um frasco no chão. Fumaça roxa explodiu, enchendo a sala.
Quando a fumaça se dissipou, eles tinham ido embora. O portal havia colapsado. A cama estava vazia.
Apenas a mancha de sangue permaneceu nos lençóis.