Capítulo 3

Ponto de Vista da Elena:

Marcos não desistiu. Ele correu pelos corredores vazios, chutando portas até encontrar um médico solitário na sala de arquivos.

O médico, um homem calvo chamado Dr. Mendes, olhou para cima em choque.

"Você não pode trazê-la aqui!" sibilou o Dr. Mendes. "O Alfa deu ordens estritas. Sem recursos para a Renegada."

"Ela está morrendo!" rugiu Marcos, me jogando em uma maca. "Olhe para ela!"

O Dr. Mendes olhou para o meu braço. As veias pretas estavam se espalhando até o meu ombro. Ele empalideceu.

"Envenenamento por prata. Estágio quatro." Ele verificou o monitor fetal na parede. "Sem batimentos cardíacos."

O mundo parou.

"Verifique... de novo", raspei, agarrando o jaleco dele com minha mão ensanguentada.

"Sinto muito", disse o Dr. Mendes, com a voz trêmula. "Não há batimentos cardíacos fetais."

Um grito se formou na minha garganta, mas eu não tinha fôlego para soltá-lo. Meu bebê. Meu lobinho. Se foi.

"Salve a mãe", comandou Marcos. "Coloque-a na Cápsula de Gênese."

A Cápsula de Gênese era uma peça de tecnologia médica avançada reservada apenas para lobos de alto escalão. Ela acelerava a cura em dez mil por cento.

"Preciso de autorização", disse o Dr. Mendes, sua mão pairando sobre o botão do Elo Mental na parede. "Alfa Damien..."

*Não pergunte a ele*, eu queria gritar. *Ele me quer morta.*

Mas o Dr. Mendes apertou o botão.

"Alfa, a Renegada está em estado crítico. O feto está... falecido. Preciso de permissão para usar a Cápsula de Gênese para salvar a vida dela."

O alto-falante na parede crepitou.

Podíamos ouvir sons ao fundo. Aplausos. Risadas. O choro de um bebê recém-nascido.

A voz de Damien veio, soando sem fôlego e exultante.

"Eu tenho um filho! Um menino saudável!"

"Alfa?" Dr. Mendes insistiu. "A Renegada?"

"Pare de me incomodar com o drama dela", retrucou Damien. "Ela é uma loba. Ela vai se curar. Economize a energia para a recuperação da Vitória. Ela está exausta."

Clique.

Ele desligou.

Ele escolheu o cansaço de Vitória em vez da minha vida. Ele celebrou um filho bastardo enquanto seu verdadeiro filho jazia morto em meu ventre.

Marcos olhou para o chão, envergonhado. O Dr. Mendes olhou para o monitor em branco.

Fiquei ali, sentindo o abraço frio da morte.

Mas mais doloroso do que a morte era o som vindo através das paredes finas. A suíte de parto VIP ficava bem ao lado.

Eu podia ouvir Damien arrulhando.

"Você foi tão bem, meu amor. Ele é perfeito. Ele será o Alfa mais forte."

Meu coração se partiu.

Não metaforicamente. Senti o estalo físico do Laço de Companheiro.

Geralmente, o laço só se quebra se um dos parceiros rejeitar o outro ou morrer. Minha loba, quebrada pela dor e pelo veneno de prata, soltou um último uivo triste dentro da minha cabeça.

*Adeus, Elena.*

Então, ela desapareceu.

O silêncio que se seguiu foi absoluto. Eu estava sozinha. Sem loba. Sem bebê. Sem companheiro.

Olhei para as placas do teto. Uma única lágrima de sangue rolou pela minha bochecha.

Eu tinha uma última carta para jogar.

Movi minha língua para o fundo da boca. Havia um molar falso ali, implantado quando fugi de casa cinco anos atrás.

Mordi com força. *Croc.*

Um sinal minúsculo foi liberado. Ele ricochetearia em um satélite e atingiria um receptor na propriedade da Família Sterling, a milhares de quilômetros de distância. *Meu pai tinha portais preparados para essa frequência exata. Ele estaria aqui em minutos.*

Era um sinal de socorro. Código Vermelho. O sinal de "Estou morrendo".

Minha visão afunilou. O bipe do meu próprio monitor cardíaco diminuiu.

*Bip... bip......... bip..................*

"Ela está tendo uma parada!" gritou o Dr. Mendes. "Peguem o desfibrilador!"

"É inútil", pensei enquanto a escuridão me engolia. "Deixe-me ir."

A última coisa que ouvi foi a risada da sala ao lado e o tom longo e contínuo da minha própria linha reta no monitor.

            
            

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