Eram a prova de que eu era real em uma sala cheia de falsificações.
- É agressivo - uma voz arrastada soou atrás de mim.
Não me virei.
Reconheci o cheiro enjoativo de Chanel Nº 5 e arrogância imediatamente.
Alexandria "Letícia" Moretti entrou no meu campo de visão.
Ela usava um vestido vermelho que custava mais do que o seguro de vida dos meus pais.
Ela segurava sua taça de champanhe como uma arma.
- Grazi - disse ela, o sorriso não alcançando os olhos. - Ainda brincando com sucata? Parece perigoso. Alguém pode se machucar.
Ela petelecou a asa da minha fênix com uma unha manicurada.
- Cuidado - sinalizei, meus movimentos bruscos.
Ela riu. - Ah, é. As mãos. Esqueci que você não usa palavras.
Jonas apareceu atrás dela.
Ele parecia um rei esta noite - ou talvez um sacrifício vestido de seda.
Smoking, cabelo penteado para trás, o peso da organização visível na postura dos ombros.
Ele colocou a mão na base das costas de Letícia.
Era uma reivindicação possessiva, um gesto de propriedade.
Ele não olhou para mim.
Ele olhou para a minha arte, e seus olhos estavam vazios, desprovidos do calor que eu costumava encontrar lá.
- Os juízes estão prontos - disse Jonas.
Madame Dubois, a negociante de arte francesa que a Família usava para mover obras-primas roubadas, aproximou-se.
Ela ajustou os óculos, olhando atentamente para minha fênix.
- Magnífico - sussurrou ela. - A dor... é palpável. Ela grita.
Ela se virou para a obra de Letícia.
Era um busto de mármore genérico de um soldado romano.
Tecnicamente proficiente, mas sem alma. Parecia algo que você compra em uma loja de móveis de luxo para preencher espaço vazio.
- E isto - disse Madame Dubois educadamente. - É muito... tradicional.
O Capo Dantas entrou no círculo.
Ele era o juiz.
Ele também era o homem que administrava as docas que o pai de Letícia controlava.
Dantas olhou para Jonas.
Jonas olhou para o chão, um músculo tremendo em seu maxilar, antes de seu olhar oscilar para Letícia.
Letícia se inclinou para ele, sussurrando algo em seu ouvido.
Provavelmente um lembrete das rotas comerciais.
- A vencedora da bolsa deste ano - anunciou Dantas, sua voz ecoando pelo salão - é Alexandria Moretti. Por capturar a força de nossa herança.
Aplausos ondularam pela sala.
Eram aplausos educados, comprados.
Madame Dubois parecia chocada. Ela começou a falar, mas um olhar severo de Dantas a silenciou.
Letícia gritou de alegria e beijou Jonas na bochecha.
Ele não se afastou.
Ele sorriu.
Era o sorriso frio e treinado de um homem fechando um negócio.
Letícia se virou para mim, agarrando seu troféu.
- Talvez no ano que vem, querida - disse ela alto o suficiente para o círculo ouvir. - Embora, a arte realmente exija uma voz para vendê-la. Bonecas quebradas não são boas vendedoras.
A sala ficou quieta.
As pessoas assistiam.
Elas queriam ver a garota muda chorar.
Elas queriam ver o caso de caridade desmoronar.
Olhei para Jonas.
Esperei pelo protetor.
Ele tomou um gole de sua bebida e desviou o olhar.
Ele escolheu as rotas comerciais.
Ele escolheu a política.
Algo quente e afiado estalou no meu peito.
Dei um passo à frente.
Invadi o espaço pessoal de Letícia.
Ela recuou, esbarrando em Jonas.
Olhei bem no fundo dos olhos dela, depois desviei meu olhar para Jonas.
Não sinalizei.
Abri minha boca.
Minha voz estava rouca pelo desuso, baixa e áspera como cascalho sendo moído.
- Ele escolheu os negócios.
Não foi um grito.
Foi um veredito.
Jonas deixou cair o copo.
Ele se estilhaçou no chão de mármore, o champanhe explodindo como uma pequena bomba.
O som ecoou no silêncio do salão.
Virei as costas para eles.
Saí pelas portas duplas, deixando os cacos de vidro e os cacos do meu herói para trás.