O Arrependimento do Don da Máfia: Ela Se Foi Para Sempre
img img O Arrependimento do Don da Máfia: Ela Se Foi Para Sempre img Capítulo 5
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Capítulo 5

Ponto de Vista da Grazi

Corri até meus pulmões queimarem como se estivessem cheios de vidro quebrado.

A humilhação do chalé era um peso físico, pressionando meu peito com mais força do que a tempestade iminente.

Eu precisava de ar.

Eu precisava do santuário da mata.

O céu tinha ficado de um roxo machucado, pesado com a chuva não derramada.

O trovão vibrou no meu peito antes mesmo de eu registrar o rosnado baixo e rolante à distância.

Levei a mão à orelha e percebi tarde demais que tinha deixado meu aparelho auditivo na mesa de cabeceira no meio do caos.

O mundo ficou instantaneamente abafado.

Opaco.

Parecia que eu estava debaixo d'água. Eu estava meio surda na floresta que escurecia.

Desesperada para me orientar, voltei-me para o chalé.

Foi quando os vi sob o abrigo do velho galpão de lenha perto da linha das árvores.

Jonas e Letícia.

Eles estavam discutindo.

Eu não conseguia ouvir as palavras, mas vi a agressão de Jonas na postura rígida de seus ombros.

Ele cortava o ar com os braços, violento e errático.

Dei um passo mais perto, minha bota esmagando um galho.

Não ouvi o estalo, mas a vibração deve ter viajado, porque eles se viraram.

Jonas me viu.

Ele veio tempestuosamente, fechando a distância em três passadas longas e agarrando meus ombros.

A boca dele se movia rapidamente.

Foquei, forçando-me a ler seus lábios.

*Problema.*

*Estúpida.*

*Volte para dentro.*

- Eu não sou um cachorro! - gritei.

Minha voz rasgou minha garganta, crua e sangrando, vibrando estranhamente no meu próprio crânio.

Jonas congelou.

Letícia engasgou, a mão voando para a boca.

- Você é um covarde! - raspei, as palavras desajeitadas, mas altas o suficiente para atravessar o silêncio. - Você deixou ela me quebrar!

O rosto de Jonas se contorceu em frustração. - Estou salvando você! Você não entende a-

*CRACK.*

Não ouvi o tiro claramente.

Soou como um estalo surdo, como uma rolha sendo tirada de uma garrafa em uma sala lotada.

Mas vi a madeira do galpão se estilhaçar a centímetros da cabeça de Jonas.

Terra voou ao nosso redor em sopros violentos.

Emboscada.

Homens em equipamento tático preto emergiram da linha das árvores como sombras se desprendendo da escuridão.

Rivais.

Provavelmente enviados para matar o herdeiro.

- Abaixa! - Jonas se lançou e me derrubou.

Batemos na lama com força.

Mais tiros brilharam.

O chão tremeu.

Uma explosão rasgou o ar perto do chalé principal.

De repente, a terra sob nós cedeu.

A chuva pesada havia soltado o solo no cume, transformando-o em uma pasta.

Nós deslizamos.

Lama, pedras e escuridão nos engoliram inteiros.

Rolei barranco abaixo, batendo em árvores, rasgando minha pele em raízes invisíveis.

Aterrissei com força no fundo de uma vala.

Minha perna gritou em uma dor alucinante.

Suspirei, limpando o lodo dos olhos, e olhei para cima.

Jonas estava a três metros de distância, coberto de lama, mas de pé.

Letícia gritava, agarrada a uma raiz na metade da encosta.

- Jonas! Me ajuda!

Ela era a aliança.

Ela era o futuro.

Ela era as rotas comerciais.

Eu era a protegida muda. O problema. A suspeita de roubo.

O tiroteio estava ficando mais próximo, estourando ritmicamente acima de nós.

Os assassinos estavam descendo o cume.

Jonas olhou para mim.

Eu estava ferida. Não conseguia andar.

Ele olhou para Letícia.

Ele tinha que fazer uma escolha.

Ele só podia carregar uma.

Nossos olhos se encontraram através do abismo lamacento.

Vi o pedido de desculpas em seus olhos uma fração de segundo antes de ele se mover.

Foi a coisa mais cruel que já vi.

- Sinto muito - ele murmurou.

As sílabas eram perfeitamente claras.

Ele virou as costas para mim.

Ele escalou o barranco de lama.

Ele agarrou Letícia.

Ele a puxou para cima.

Eles correram em direção ao ponto de extração.

Eles correram para longe de mim.

Fiquei deitada na lama.

A chuva lavava o sangue para dentro dos meus olhos.

Eu estava sozinha.

Eu estava surda.

Eu estava desarmada.

E o homem que jurou ser minha voz tinha acabado de me deixar para morrer no silêncio.

                         

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