Ponto de Vista de Amanda Ávila:
Carolina Santos. O nome agora tinha gosto de cinzas na minha boca. Quando ela se juntou à AG Designs como estagiária do Gabriel, parecia inofensiva. Jovem, ansiosa, com olhos grandes e inocentes que escondiam a víbora por baixo. Eu não tinha lhe dado a menor atenção, segura demais em meu relacionamento de sete anos com Gabriel, ocupada demais construindo nosso império. Eu acreditava que nosso amor era uma fortaleza impenetrável, um vínculo forjado em sonhos compartilhados e inúmeros sacrifícios. Como eu fui tola. O amor, como tudo mais, está sujeito à entropia. Ele decai se não for nutrido, se for dado como certo. E Gabriel, meu Gabriel, havia tomado tudo como certo.
Lembrei-me dos primeiros dias, quando ele trabalhava até tarde, sua paixão pela arquitetura o consumindo. Eu costumava fazer o jantar para ele, algo simples, mas nutritivo, e depois levava para o escritório. Era minha pequena maneira de nutrir não apenas ele, mas nós.
Uma noite, cerca de seis meses atrás, a memória era uma ferida fresca, o cheiro da massa esfriando ainda vívido. Eu tinha parado em frente ao prédio da AG Designs, as luzes da cidade começando a brilhar ao meu redor. Meu coração estava leve. Eu estava levando a lasanha favorita do Gabriel. Ao me aproximar de seu escritório, uma risada suave e melódica veio de trás da porta ligeiramente entreaberta. A risada de Carolina. Era leve, arejada, totalmente encantadora.
Meu sorriso, já no lugar para Gabriel, vacilou. Parei, uma estranha premonição se contorcendo em minhas entranhas. O que era tão engraçado? Empurrei a porta apenas uma fresta.
A cena que me saudou me congelou no lugar. Carolina estava sentada na beirada da mesa de Gabriel, um pequeno recipiente de comida para viagem na mão. Ela segurava um garfo, alimentando Gabriel com um pedaço de sushi de forma brincalhona. Ele se inclinou para trás, seus olhos brilhando, aceitando o bocado com um sorriso que eu nunca tinha visto antes. Não era apenas um sorriso; era um olhar cheio de uma ternura, uma suavidade profunda que fez meu estômago se contrair. Uma ternura que ele reservava para mim, eu pensei. Mas não. Ele estava dando a ela.
Meu mundo inclinou. A lasanha em minhas mãos de repente pareceu pesada, fria. Meu coração se contraiu, uma dor aguda e lancinante. Fiquei ali, enraizada no lugar, observando-o devorar o sushi, observando-o olhá-la com aquele olhar. Um grito silencioso rasgou através de mim, mas nenhum som escapou dos meus lábios.
Fechei a porta silenciosamente, minhas mãos tremendo tanto que quase deixei a comida cair. Afastei-me, a lasanha ficando mais fria a cada passo, assim como meu coração. Fiquei do lado de fora na chuva torrencial, a comida esquecida, seu calor se infiltrando na embalagem de papelão, esfriando, esfriando, esfriando.
Mais tarde naquela noite, eu voltei. A chuva havia parado. Entrei em seu escritório, os restos da refeição de Carolina ainda em sua mesa.
"Amanda? O que há de errado?", Gabriel perguntou, fingindo preocupação, sua voz tingida de aborrecimento. "Você está encharcada. Esqueceu seu guarda-chuva de novo? Você é tão desastrada às vezes."
Ele não perguntou por que eu voltei. Ele não perguntou se eu tinha visto alguma coisa. Ele apenas reclamou. "Sabe, Amanda, às vezes você é um pouco... grudenta", disse ele, esfregando as têmporas. "Eu preciso de espaço para trabalhar. Você precisa entender isso."
Grudenta. A palavra ecoou em meu coração vazio.
Depois disso, as pequenas traições começaram a se acumular. Coisas pequenas. Carolina se oferecendo para ficar até tarde com ele, "para ajudar". Gabriel sempre concordando. Carolina sugerindo ideias de design que eu havia proposto meses atrás, mas agora, vindo dela, eram "brilhantes". Gabriel ignorando meus avisos sutis sobre a ambição de Carolina, sua falta de limites. Ele até alocou uma parte significativa do nosso orçamento de marketing para uma campanha frívola de mídia social que Carolina havia projetado, uma campanha que no final rendeu resultados mínimos, só porque ela "tinha uma ótima visão".
Eu tentei ignorar. Tentei me convencer de que Gabriel estava apenas ocupado, que ele estava cego para as manipulações dela. Mas uma suspeita roedora começou a me consumir. Uma noite, incapaz de suportar mais, eu o confrontei, seu escritório ainda cheirando fracamente ao perfume barato dela.
"Gabriel", eu disse, minha voz tremendo apesar dos meus melhores esforços para mantê-la firme. "Você está apaixonado pela Carolina?"
Ele bateu a mão na mesa, o barulho repentino me fazendo pular. "Que tipo de pergunta ridícula é essa, Amanda?", ele retrucou, seu rosto contorcido de raiva. "Você está louca? Por que você está sempre tão paranoica?"
Ele não perdeu o ritmo. Ele nem sequer vacilou. Seus olhos, geralmente tão expressivos, estavam frios, duros e desprovidos de qualquer culpa. Apenas impaciência. Apenas aborrecimento. Ele me fez sentir como se eu fosse o problema, eu fosse a louca. Fiquei ali, sem palavras, a acusação pairando pesada no ar, me sufocando. O homem que eu amava, o homem a quem eu havia dado tudo, havia se tornado um estranho. Um estranho cruel e indiferente.