Ponto de Vista de Amanda Ávila:
Minha cabeça bateu na quina afiada da mesa lateral com um baque doentio. Uma dor lancinante atravessou meu crânio, e senti um líquido quente e pegajoso escorrer pela minha têmpora. Sangue. Minha visão turvou, mas através da névoa, vi os rostos dos meus antigos colegas. Seus olhos, antes cheios de respeito profissional, agora queimavam com desprezo, com ódio puro e não adulterado.
"Loba em pele de cordeiro!", alguém cuspiu. "Traidora!", outro gritou.
Então, objetos começaram a voar. Um grampeador passou zunindo pela minha orelha. Um fichário pesado atingiu meu braço. Uma caneca de café descartada se estilhaçou contra a parede perto da minha cabeça, espalhando cacos de cerâmica. Cada golpe, cada agressão verbal, parecia uma extensão física da traição de Gabriel, lascando o pouco de dignidade que me restava. A dor na minha cabeça se intensificou, uma sinfonia latejante de agonia. Minha visão embaçou. Lutei para respirar, o ar denso com suas acusações venenosas.
Tentei falar, explicar, dizer a eles que Carolina havia orquestrado isso, que eu era inocente. Mas nenhuma palavra saiu. Minha garganta estava ferida pelo aperto de Gabriel, e mesmo que eu pudesse falar, ninguém teria ouvido. Suas mentes já estavam feitas, envenenadas pelas mentiras de Carolina e pela fúria de Gabriel.
Gabriel observou a cena se desenrolar, seu rosto desprovido de qualquer emoção além de um triunfo frio. Por uma fração de segundo, pensei ter visto um lampejo de algo em seus olhos - um toque de preocupação, talvez, ao ver meu sangue. Mas desapareceu mais rápido que um piscar de olhos, substituído por aquela mesma indiferença arrepiante.
"Chega!", ele latiu, sua voz ecoando pela sala. Ele apontou para dois seguranças corpulentos que acabavam de entrar. "Tirem-na da minha vista. E certifiquem-se de que ela não saia da vila. Nem um único passo. Ela tem algumas explicações a dar sobre para onde foram esses esquemas." Sua voz era assustadoramente calma, um contraste gritante com sua raiva anterior.
Os guardas, de rosto sombrio, agarraram meus braços, me levantando rudemente. A dor da ferida na cabeça, dos golpes, do ataque de Gabriel, explodiu, me fazendo gritar. Eles me arrastaram pelos corredores opulentos, passando pelas obras de arte caras e móveis de design, até chegarem a uma pesada porta de madeira. Era o porão. Um lugar que Gabriel uma vez brincou sobre transformar em uma adega, um lugar que agora parecia uma tumba.
Eles me empurraram para dentro. A porta bateu, me mergulhando na escuridão completa. O ar frio e úmido me envolveu instantaneamente. Minha cabeça latejava, o sangue do corte secando e endurecendo em meu cabelo. A ferida não tratada ardia, um fogo insidioso se espalhando por minhas veias. Uma febre gradualmente tomou conta, transformando meu corpo em uma fornalha. Cada músculo, cada osso doía com uma dor profunda e penetrante.
Os dias se transformaram em um tormento de frio, fome e delírio febril. Gabriel descia ocasionalmente, seu rosto sombrio, exigindo saber onde estavam os esquemas "roubados". Mas eu não tinha nada a lhe dizer. Eu apenas o encarava, meus olhos queimando com um desafio febril. "Eu não fiz isso, Gabriel", eu sussurrava, minha voz rouca e fraca. "Eu não fiz." Ele apenas zombava, balançando a cabeça, convencido da minha culpa. Ele cortou minha comida e água. Três dias se passaram, cada um uma eternidade de sede e fome. Eu estava definhando, minha consciência piscando como uma vela moribunda.
Então, a pesada porta rangeu novamente. Uma fresta de luz perfurou a escuridão, revelando uma figura esguia silhuetada contra o corredor escuro. Carolina. Ela entrou, seu rosto iluminado pelo brilho fraco, um sorriso doentiamente doce em seus lábios. Seus olhos brilhavam com alegria maliciosa.
"Olhe para você, Amanda", ela ronronou, sua voz pingando falsa simpatia. "Patética. Todo aquele talento, toda aquela ambição, reduzida a isso." Ela se ajoelhou ao meu lado, sua voz baixando para um sussurro conspiratório. "Sabe, tudo isso poderia ter sido evitado se você apenas entendesse o seu lugar. Gabriel sempre foi destinado a mim. A AG Designs também. Eu só precisava... remover sua influência completamente." Ela se inclinou mais perto, seu hálito com um cheiro doentiamente doce. "E aqueles esquemas? Ah, eles se foram. Espalhados aos ventos. Ninguém nunca os rastreará até mim. Sua pequena empresa? Está queimando, Amanda. E você, minha querida, é o bode expiatório perfeito."
Uma onda de adrenalina, alimentada por pura e não adulterada fúria, percorreu meu corpo enfraquecido. Minha empresa. Meu legado. Destruído. Incriminada. Essa cobra conivente. Eu não me importava com a dor, a fraqueza. Eu me lancei, um grito gutural escapando dos meus lábios. Minha mão conectou com seu rosto, um tapa satisfatório que ecoou no pequeno espaço. Carolina recuou, um grito escapando de seus lábios, sua bochecha inchando rapidamente, uma marca vermelha florescendo em sua pele pálida. Ela tropeçou, caindo para trás no chão de concreto frio.
Nesse exato momento, a porta se abriu com um estrondo. Gabriel estava lá, seus olhos arregalados de alarme. Ele tinha ouvido o grito de Carolina.
Carolina, sempre a atriz, explodiu em soluços teatrais. Ela se levantou desajeitadamente, jogando-se nos braços de Gabriel, enterrando o rosto em seu peito. Seus gritos encheram o pequeno e sufocante espaço.