Meu coração parou. Aline, minha irmãzinha, minha brilhante e vulnerável Aline, que estava apenas começando sua carreira, cheia de sonhos. Heitor sempre a desprezou, vendo-a como mais uma de minhas responsabilidades, um dreno no meu tempo. Se eu precisasse ajudá-la, ele sutilmente, ou não tão sutilmente, me lembrava de minhas próprias obrigações com nossa vida, com a carreira dele. Agora, com ele fora de cena, a culpa de tê-la deixado para trás me corroía.
Antes que eu pudesse processar as palavras de minha mãe, um toque de celular agudo e familiar cortou o ar. A mãe de Heitor. Minha ex-sogra. Mesmo no meu estado atual, me preparei.
"Cora, que bobagem é essa que estou ouvindo?" Sua voz, afiada e acusadora, cortou o telefone. "Divórcio? Você enlouqueceu? Heitor é um homem de sucesso, um partidão! E você simplesmente joga tudo fora?"
"Dona Sônia, acho que isso é entre Heitor e eu," eu disse, minha voz neutra.
"Entre vocês? Não, querida, é sobre o nome da família, o legado! Você precisa voltar para ele, pedir desculpas, consertar as coisas. O lugar de uma mulher é ao lado do marido, apoiando-o. O que você acha que vai fazer sem ele? Você não é nada sem o Heitor." Suas palavras eram um gotejar familiar e insidioso de veneno. "E não pense que eu não sei sobre aquela estagiária. Kaila é uma menina doce, muito ambiciosa, se encaixa perfeitamente na imagem do Heitor. Ela entende o mundo dele. Muito melhor do que você jamais entendeu, honestamente. Ela é uma garota esperta, sempre tão ansiosa para aprender com o Heitor."
Meu sangue gelou. Ela sabia. Ela sabia o tempo todo sobre Kaila, e ela aprovava. Não era apenas a traição de Heitor, era a cumplicidade de toda a sua família. Eles viam Kaila como uma melhoria, um acessório mais brilhante para o menino de ouro deles.
"Talvez você devesse se preocupar com a imagem do seu filho, então," eu disse, minha voz perigosamente calma. "Porque agora, não está parecendo muito boa." E com isso, desliguei. A linha ficou muda, simbolizando o rompimento final dos laços.
Liguei para minha mãe de volta, minhas mãos tremendo. "Mãe, o que aconteceu com a Aline?"
Sua voz estava sufocada por soluços. "Ela... ela foi agredida, Cora. Pelo chefe dela. Kevin Bauer. Ele é um monstro. Ele usou a posição dele... se aproveitou dela..."
Minha visão ficou turva. Aline. Minha doce e inocente irmã. Isso não podia estar acontecendo. "Mãe, onde ela está? Estou indo."
Encontrei Aline encolhida em uma bola na cama, seus olhos vermelhos e inchados, seu corpo tremendo. Meu coração se partiu em um milhão de pedaços. Ela era tão pequena, tão frágil.
"Cora," ela sussurrou, sua voz quase inaudível. "Eu não sei o que fazer. Ele disse... ele disse que arruinaria minha vida se eu contasse a alguém. Ele é tão poderoso."
"Nós vamos lutar contra ele, Aline," eu disse, acariciando seu cabelo. "Nós vamos conseguir justiça. Heitor... Heitor saberá o que fazer. Ele é o melhor advogado."
Aline olhou para mim, um lampejo de esperança, mas depois se apagou. "Mas... ele está ocupado, não está? Com seus casos importantes. E agora com... a Kaila..."
"Não," eu insisti, engolindo minha própria amargura. "Ele não vai virar as costas para a família. Eu vou até ele. Vou fazer com que ele ajude."
Na manhã seguinte, armada com um vislumbre de esperança por Aline, dirigi até o escritório de advocacia de Heitor. A imponente torre de vidro na Faria Lima brilhava ao sol da manhã, um monumento à ambição e ao poder. Lá dentro, o saguão fervilhava com um caos controlado de assistentes, clientes e advogados juniores.
Eu conhecia as regras de Heitor. Sem visitas não agendadas. Sem interrupções pessoais durante o horário de trabalho. Mas isso não era pessoal. Isso era vida ou morte para minha irmã.
Aproximei-me da recepção, dizendo meu nome. A recepcionista, um rosto novo que não me reconheceu, disse-me que o Sr. Bastos estava em uma reunião e tinha uma agenda lotada. Expliquei a urgência, que era um assunto de família. Ela finalmente concordou em transmitir uma mensagem. Sentei-me na luxuosa área de espera, cercada por clientes de aparência nervosa.
Uma hora se passou. Depois outra. Observei o relógio, minha ansiedade crescendo a cada tique-taque. Aline estava em casa, sozinha, quebrada.
De repente, uma voz familiar e adocicada cortou o barulho profissional. "Bom dia a todos! O Sr. Bastos já chegou?"
Kaila. Ela entrou dançando, sua bolsa de grife pendurada no ombro, um sorriso deslumbrante no rosto. Ela cumprimentou a assistente de Heitor como uma velha amiga, um sussurro rápido e íntimo passando entre elas. Então, sem um olhar para a sala de espera cheia de clientes, ela caminhou direto para a porta do escritório de Heitor, bateu uma vez e entrou.
Meu sangue gelou. Simples assim. Sem hora marcada, sem espera. Apenas um passeio casual em seu santuário particular.
Alguns minutos depois, a assistente de Heitor apareceu, parecendo arrependida. "O Sr. Bastos tem um... assunto muito urgente e imprevisto com um cliente. Ele ficará ocupado por tempo indeterminado. Recomendamos reagendar." Ela evitou meu olhar.
Senti uma nova onda de náusea. Assunto imprevisto. Certo.