Tarde Demais Para o Seu Grande Remorso
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Capítulo 5

Ponto de Vista de Cora

A expressão de Heitor endureceu, seu braço se contraindo sob meu aperto desesperado. Ele nem hesitou. "Cora, você sabe que não posso," ele afirmou, sua voz neutra, desprovida de qualquer calor. "Minha agenda de casos está lotada. E eu só pego casos que se alinham com meus princípios, com os valores do meu escritório. Isso... não é um deles."

"Princípios?" eu engasguei, minha voz se elevando. "Que princípios, Heitor? Aqueles que te permitiram dispensar todos os outros clientes pelo pneu furado da Kaila? Aqueles que te deixaram acelerar as questões legais triviais dela enquanto minha irmã, sua cunhada, está deitada, quebrada e traumatizada?" Meu aperto se intensificou, minhas unhas cravando em seu terno caro. "Ela é da família, Heitor! Ela é meu sangue! Como você pode virar as costas para ela?"

Lágrimas escorriam pelo meu rosto agora, quentes e descontroladas. Minha compostura cuidadosamente construída se estilhaçou em um milhão de pedaços. "Ela é apenas uma menina, Heitor! Uma jovem vulnerável que confiou em seu chefe! Ele a violou! Ele a destruiu! E você, um advogado renomado, seu cunhado, não vai nem levantar um dedo?" Eu estava histérica, minha voz rachando, ecoando no saguão deserto.

O rosto de Heitor permaneceu uma máscara de indiferença. Seus olhos estavam frios, distantes, como se estivesse assistindo a uma manobra legal particularmente tediosa. Nenhum lampejo de empatia, nenhum sinal de arrependimento. Nada.

"Cora, pare com esse teatro," ele disse, sua voz baixa e firme. "Existem regras. Procedimentos. Meus clientes são cuidadosamente selecionados. Se sua irmã precisa de aconselhamento legal, ela pode se inscrever como todo mundo. Esperar na fila. Você sabe como meu escritório funciona." Ele tentou puxar o braço, mas eu me agarrei.

Ele deu um passo, tentando arrastar Kaila com ele. "Solte, Cora. Você está fazendo uma cena."

Minha mente estalou. Meus joelhos cederam. Caí no chão de mármore polido, ignorando a dor aguda, ignorando os olhares em potencial se alguém ainda estivesse por perto. Tudo o que eu via era suas costas se afastando, Kaila agarrada ao seu lado.

"Heitor! Por favor!" eu solucei, minha voz crua, desesperada. Minha testa bateu no chão frio, um baque surdo. Eu não me importei. Bati de novo, um apelo desesperado. "Ela é minha única irmã! Minha única família! Ela está sofrendo de depressão severa, Heitor! Ela fala em acabar com tudo! Por favor, só desta vez! Ajude-a!" Minha voz era um sussurro quebrado, implorando a ele pelo último resquício de humanidade que eu pensei que ele tinha.

Ele parou. Ele se virou, lentamente, e olhou para mim, ainda segurando a mão de Kaila. Ele se inclinou um pouco, o rosto perto do meu, os olhos estreitos. "O que é isso, Cora?" ele zombou, sua voz quase inaudível, mas mais fria que gelo. "Você está tentando me manipular? Usando a tragédia da sua irmã para ganhar simpatia? Para forçar minha mão?" Ele se endireitou, afastando-se da minha mão estendida. "Isso é baixo, mesmo para você."

Meus dedos se fecharam em punhos, minhas unhas cravando em minhas palmas, a dor aguda nada comparada à agonia em meu peito. "Este é meu último pedido, Heitor," eu disse, minha voz rouca, desprovida de lágrimas agora, substituída por uma calma arrepiante. "O meu último."

Ele olhou para minha testa sangrando, uma leve carranca vincando sua testa. Apenas um toque de algo, talvez preocupação, talvez apenas aborrecimento com a bagunça.

Mas antes que ele pudesse falar, Kaila, cujas lágrimas haviam secado milagrosamente, deu um passo à frente, agarrando-se ao seu braço. "Heitor, querido, não deixe que ela te estresse," ela sussurrou, sua voz doce e preocupada. "Você teve um dia tão longo. Se for demais, eu sempre posso encontrar outro advogado para minha... pequena disputa de propriedade. Sua família vem em primeiro lugar, certo?" Ela me lançou um olhar presunçoso e triunfante por cima do ombro de Heitor.

Os olhos de Heitor, que haviam suavizado por um segundo fugaz, tornaram-se gelo. Ele afastou o braço de Kaila, sua voz afiada e trovejante. "Não! Você não vai!" ele rugiu, assustando a nós duas. Ele se virou para Kaila, seu rosto uma máscara de fúria. "Esta não é uma decisão sua. Você vai manter a boca fechada. Se está tão ansiosa para ajudar, vá procurar outro escritório. Eu vou cuidar do seu caso porque eu disse que faria. Não porque ela está tentando me manipular!"

Ele me olhou uma última vez, um olhar frio e duro que não prometia nada além de desprezo. Então, ele se virou e saiu furioso, Kaila correndo atrás dele, lançando um último olhar venenoso em minha direção.

Eu o vi partir, o último vestígio de esperança se desfazendo em pó. Minha cabeça latejava, meu coração parecia um peso de chumbo. Qualquer pequena lasca de "nós" que eu ainda abrigava, morreu ali mesmo naquele chão de mármore frio. Meu marido. O homem que eu amava. Ele escolheu a disputa de propriedade de uma estagiária em vez da vida despedaçada da minha irmã.

Levantei-me, meu corpo doendo, minha mente entorpecida. Saí do opulento escritório, o sol poente lançando sombras longas e zombeteiras. Peguei meu celular, meus dedos desajeitados enquanto discava o número de Aline.

"Aline," eu murmurei, minha garganta crua. "Heitor não vai ajudar. Vamos encontrar outra pessoa. Eu prometo."

Houve um longo silêncio do outro lado. Então a voz pequena de Aline, desprovida de surpresa, respondeu: "Eu sabia, Cora. Eu sabia que ele não faria."

            
            

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