Nós o levamos para a nossa fortaleza, um lugar seguro, onde ele pudesse se recuperar.
Fui eu quem cuidou dele. Dia e noite. Troquei suas bandagens, dei-lhe remédios, alimentei-o.
Ao longo daquelas quatro semanas, eu me apaixonei por ele. Pelo homem forte e vulnerável que jazia em minha cama.
Na noite em que ele estava prestes a partir, meu pai deu uma festa de despedida em sua honra. A celebração era para marcar sua recuperação e seu retorno.
O vinho fluiu livremente. Os risos ecoaram.
Naquela noite, a embriaguez tomou conta. Em um momento de fraqueza e desejo, nós nos deitamos.
Sua respiração estava ofegante. Em meio aos beijos, ele sussurrou um nome.
Não era o meu. Era Alessandra.
Meu coração se quebrou em mil pedaços. Ele amava outra. Eu era apenas um substituto, um consolo.
A paixão me cegou. Eu agi egoisticamente.
Eu não o afastei. Não o acordei. Eu queria apenas uma noite. Uma única noite para fingir que ele era meu.
Eu nunca tive intenção de destruir o casamento de ninguém.
Dias depois, Alessandra apareceu em nossa porta. Ela estava furiosa, os olhos faiscando.
Ela foi direto para meu pai. "Eu sei o que aconteceu. Heloísa e Danilo. Eu sou a noiva dele!"
Ela tinha uma proposta. Dinheiro. Uma fortuna. Para que eu o deixasse, para que sumisse de suas vidas.
Meus pais, que viram meu sofrimento e amor por ele, concordaram com a proposta de Alessandra.
Com o dinheiro, eles reconstruíram nossa empresa. Mas eles usaram isso como um trunfo.
Eles forçaram Danilo a se casar comigo.
Eu não o queria forçado. Eu o amava. Acreditava que, com o tempo, eu poderia fazê-lo me amar também. Que ele esqueceria Alessandra.
Eu estava errada.
Ele nunca esqueceu. Meu amor nunca o alcançou.
Ele acreditava que eu o tinha embriagado e o seduzido. Que eu tinha manipulado meus pais para expulsar Alessandra de sua vida. Que eu tinha usado a reconstrução de nossa empresa como chantagem.
"Se você queria tanto, então me tem", ele me disse na noite de nosso casamento, a voz cheia de ódio.
Ele me tomou brutalmente. Não havia amor, apenas uma vingança cruel.
Por três anos, eu fui uma esposa de fachada. Só havia ódio, nunca amor, entre nós.
Eu tentei explicar, mas ele via minhas palavras como mentiras. Eu desisti. Desisti de tentar alcançar seu coração.
Me concentrei no que importava. Minha comunidade. Meu trabalho. Ajudei os menos afortunados.
Gabriel, o irmão de Danilo, se juntou a mim após a faculdade. Ele viu como Danilo me tratava. Ele sentiu a culpa do irmão.
"Ele vai ver a verdade um dia, Heloísa", Gabriel me confortou, seus olhos gentis.
Eu sorri amargamente. "Eu não sei se estarei aqui para ver isso, Gabriel."
O médico entrou no quarto, interrompendo nossa conversa.
"Senhora De Pinho, nós entramos em contato com todas as instalações médicas que pudemos. Ninguém encontrou uma cura para sua condição."
Ele colocou um novo frasco de analgésicos na minha mesa de cabeceira.
"Certifique-se de se alimentar bem. Mantenha sua força", ele disse.
Gabriel se ofereceu. "Eu posso trazer algo para ela comer. Algo caseiro."
Eu apenas balancei a cabeça. "Qualquer coisa serve, Gabriel. Eu não tenho preferência."
Ao meio-dia, Gabriel trouxe uma sopa quente. Eu comi, sem realmente sentir o gosto.
Logo depois, meu telefone tocou. Era Danilo.
Gabriel me olhou. "Coloque no viva-voz."
Eu assenti.
A voz dele estava fria. "Arrume suas coisas, Heloísa. Saia da minha casa. Alessandra está se mudando."