POV de Ada Magalhães:
O silêncio atordoado de Jovani foi quase um conforto. Ele simplesmente olhava, as perguntas girando em seus olhos, mas nenhuma palavra saía. Depois de um longo momento, ele lentamente assentiu, um único movimento decisivo. Ele esvaziou seu copo, colocou-o cuidadosamente em uma mesa próxima e, sem outra palavra, virou-se e voltou para dentro, me deixando sozinha na varanda.
O frio se intensificou, mordendo minha pele exposta. Minha cabeça latejava mais forte, e uma onda de náusea me invadiu, fazendo as luzes da cidade dançarem diante dos meus olhos. Apoiei-me no parapeito, segurando-o com força, tentando me firmar. Os últimos cinco anos foram um dreno constante, física e emocionalmente. A fachada foi exaustiva de manter, cada sorriso, cada aceno complacente, cada lágrima silenciosa uma performance. Agora, a adrenalina que alimentou minha confissão estava se esvaindo, me deixando completamente esgotada.
Fechei os olhos, desejando que a tontura passasse. Eu precisava vê-lo, conseguir os papéis do divórcio assinados, para realmente me libertar. Mas cada fibra do meu ser gritava por descanso, por fuga.
A porta da varanda se abriu novamente, e ouvi a voz de Caio, espessa de satisfação. "Ada? Ainda aqui fora? A Gisela não te deu audiência suficiente?"
Eu não me virei. Não conseguia. Meu corpo parecia pesado, minhas pernas fracas.
Ele caminhou até o meu lado, sua presença um peso sufocante. "Então, a ratinha finalmente encontrou sua voz. 'Vou embora esta noite.' Que sentimento encantador. Você realmente achou que eu deixaria você simplesmente ir embora?"
Sua voz era um rosnado baixo, desprovido da diversão anterior. "Você assinou um acordo pré-nupcial, Ada. Você não fica com nada. Nem um centavo do meu dinheiro. Sem herança. Sem pensão. Você voltará para sua patética carreira de designer gráfica freelancer, morando em algum apartamento apertado. É assim que a liberdade se parece para você?"
Suas palavras, destinadas a ferir, apenas passaram por mim. Eram ruído de fundo, ecos de uma vida que eu já estava deixando para trás. Seu desdém pela minha vida antiga, por mim, sempre foi claro.
Uma lágrima escapou, traçando um caminho frio pela minha bochecha. Era uma lágrima de exaustão, de libertação, não de dor. Mas Caio a interpretou mal.
"Ah, aí está", ele zombou, seu tom suavizando com um tipo doentio de triunfo. "As lágrimas. Você está chateada porque eu não vou entrar no seu joguinho. Você queria que eu implorasse, não é? Que eu dissesse o quanto preciso de você?" Ele riu, um som áspero e irritante. "Desculpe, Ada, não estou tão desesperado."
Reunindo cada grama de força, me endireitei e me virei para encará-lo. Minha mão, ainda segurando o relicário, alcançou a pequena bolsa que eu carregava e tirou um documento cuidadosamente dobrado. Os papéis do divórcio. Eu os estendi para ele.
"Assine, Caio", eu disse, minha voz surpreendentemente firme, apesar do tremor em minhas mãos. "Acabou. Você pode ficar com a Gisela. Você pode ter quem quiser. Mas não pode me ter."
Ele olhou para os papéis, depois para o meu rosto, um lampejo de genuína perplexidade em seus olhos antes que se endurecesse em desprezo. "Isso é uma piada? Algum tipo de teste elaborado?" Ele arrancou os papéis da minha mão, seu olhar varrendo as cláusulas. "Sem bens, sem pensão. Apenas um rompimento limpo. Qual é a pegadinha, Ada?"
Ele amassou levemente os papéis na mão. "Você acha que vou acreditar nisso? Que depois de cinco anos sendo a esposa perfeita e silenciosa, você de repente não quer nada? Você está jogando um jogo perigoso, Ada. Um jogo muito perigoso." Ele jogou os papéis em uma chaise longue próxima com um movimento desdenhoso do pulso.
"Não se iluda", uma voz sedosa disse arrastada atrás dele. Gisela, agora armada com uma taça de champanhe, deslizou para a varanda. "Ela não está jogando um jogo, querido. Ela está apenas sendo patética. Ela provavelmente acha que isso vai fazer você correr atrás dela. Toda aquela bobagem de 'se fazer de difícil'."
Gisela sorriu, tomando um longo gole de champanhe. "Olhe para ela, Caio. Ela está praticamente implorando por sua atenção. Ela acha que pode competir comigo. Depois de tudo." Ela gesticulou desdenhosamente para o meu vestido simples, depois para seu próprio traje brilhante. "Algumas pessoas simplesmente não sabem o seu lugar."
Ignorei Gisela, meu olhar fixo em Caio. Minha cabeça estava girando, minha visão embaçada. Mas eu tinha que terminar isso.
"Assine os papéis, Caio", repeti, minha voz mal acima de um sussurro, mas entrelaçada com um aço inflexível. "Vamos acabar com essa farsa."
Seus olhos brilharam com uma raiva súbita e furiosa. A diversão se foi, substituída por uma fúria crua e nua. Sua mão disparou, agarrando meu braço com força brutal. "Farsa? Você chama esses cinco anos de farsa?", ele rosnou, seu aperto se intensificando dolorosamente.
Ele me arrastou em direção às grandes portas de vidro que levavam de volta para a cobertura, seus movimentos bruscos e agressivos. "Você quer jogar, Ada? Tudo bem. Vamos jogar."
Ele abriu as portas com violência, me puxando para um corredor mal iluminado. "Gisela, me espere no carro", ele ordenou, sua voz afiada.
"Mas querido, nossa reserva...", Gisela começou, sua voz estridente de protesto.
"Agora!", Caio berrou, seus olhos brilhando com uma fúria possessiva que eu raramente via dirigida a mim.
Gisela, assustada, hesitou por um momento, depois correu, seus saltos altos clicando rapidamente pelo corredor.
Caio bateu a porta atrás de nós, mergulhando o corredor em quase escuridão. Ele me empurrou contra a parede, seu corpo pressionando perto, me prendendo. Sua respiração estava quente contra minha orelha.
"Você quer me deixar, Ada?", ele sussurrou, sua voz perigosamente baixa. "Você acha que pode simplesmente ir embora? Depois de cinco anos sendo minha esposa? Minha propriedade?"
Ele moveu a boca para o meu pescoço, seus lábios roçando minha pele. "Você não sabe como isso funciona? Você não me deixa. Eu decido quando acaba."
Sua mão encontrou meu queixo, inclinando minha cabeça para trás. Seu beijo foi áspero, exigente, com gosto de raiva e desespero. Eu lutei, empurrando contra seu peito, mas minha força estava falhando. A náusea se agitava, a dor de cabeça se intensificava e um suor frio brotou na minha pele.
"Você quer um filho, Ada?", ele murmurou, recuando um pouco, seus olhos queimando com uma intensidade sombria. "Você quer ser mãe? Podemos começar hoje à noite. Uma família de verdade. Nosso filho. Então você não vai querer ir embora."
As palavras eram uma paródia grotesca de uma promessa, uma manipulação distorcida. Eu gemi, um som de pura miséria, enquanto novas lágrimas escorriam pelo meu rosto. Meu corpo estava à beira do colapso.
"Caio, querido!", a voz de Gisela, abafada mas insistente, atravessou a porta. "O carro está esperando! O que você está fazendo aí?"
Ele a ignorou, seu aperto em mim implacável. "Arrependimentos, Ada?", ele murmurou, pressionando os lábios na minha bochecha manchada de lágrimas. "Você se arrepende de alguma coisa?"
Nesse momento, a porta se abriu com um estrondo. Jovani estava parado na entrada, seu rosto sombrio. "Caio! Que diabos você está fazendo? A Gisela está ameaçando chamar os tabloides. Ela está furiosa."
Caio hesitou, seus olhos ainda fixos nos meus. A menção de tabloides, de escândalo público, pareceu romper sua raiva. Ele olhou para Jovani, depois de volta para mim.
"Isso não acabou, Ada", ele sibilou, me soltando abruptamente. Ele passou por Jovani, me deixando caída contra a parede, ofegante.
Jovani correu para o meu lado, sua mão no meu ombro. "Ada, você está bem?", ele perguntou, sua voz carregada de preocupação genuína.
Eu assenti mudamente, ainda lutando para recuperar o fôlego. Minha cabeça girava.
"Ele é insuportável", Jovani murmurou, observando Caio se afastar. Ele olhou para mim, seu olhar suavizando. "Você o odeia?"
Eu balancei a cabeça, minha mão voando para o relicário escondido sob meu vestido. Ainda estava lá, quente e sólido. Meu propósito. Minha promessa.
"Não", sussurrei, minha voz rouca. "Eu não o odeio. Eu não sinto nada."